sábado, 28 de agosto de 2010

300

Rubens Barrichello chega a um recorde histórico de 300 GP's.

No mundo cruel da F1 - Barrichello sobreviveu aos 300 GP's.

Rubens Gonçalves Barrichello. Este brasileiro de 38 anos é um predestinado. Chegar aos 300 GP's na categoria máxima do automobilismo mundial é de certa forma - respeitável. Todos devem imaginar que o mundo da Fórmula 1 seja cruel e que para sobreviver é preciso, além de muita força de vontade, preparação física e psicológia e muita habilidade além de sorte para não morrer pelo caminho.
Barrichello é de longe o piloto brasileiro mais polêmico e controverso de toda a nossa história nesta categoria. Sua estréia na F1, no longíquo ano de 1993 foi cheia de expectativas. Ele aparecia na Jordan com um currículo invejável. Tinha ganhado tudo no kartismo brasileiro e tinha respeito no automobilismo inglês. Seu padrinho, foi nada mais nada menos que o tricampeão mundial Ayrton Senna. Ele deixava claro que queria ensinar e ajudar o então jovem brasileiro em sua carreira na Fórmula 1.

 
Rubens Barrichello em seus tempos pré-F1

Barrichello estreou na F1 em 1993 pela Jordan Hart

Infelizmente esse processo foi brutalmente quebrado em 1994 no circuito de San Marino. Com a morte de Senna, esse processo de adaptação e "herança" foi antecipado. Sem equipamento, maturidade e apoio de um campeão, Barrichello se viu, da noite para o dia, como a única esperança de vitórias brasileiras na F1.
Em 1994, antes da morte de Senna, Rubinho teve o seu grande momento, conseguiu seu primeiro pódio na F1 no GP de Aida ( Japão ). Com uma corrida boa, Barrichello aproveitou-se de problemas dos favoritos ( inclusive de Ayrton ), para conseguir o 3o lugar. Seu pódio foi o último que Ayrton presenciou em vida.

Seu primeiro pódio em 1994, entre Schumacher e Berger.

Seu pior acidente na carreira

Seu pior acidente na carreira foi no mesmo fim de semana da morte do ídolo e amigo Senna. Nos treinos de sexta, Barrichello passou reto na curva que antecede a reta de chegada e foi jogado com violência para a barreira de pneus. Seu acidente visto pela TV foi brutal e sua sobrevivência foi tida como um milagre. Apenas um nariz quebrado e um braço com luxação foram as consequências deste grave acidente. Após esses traumáticos episódios, Barrichello começou a viver a dura vida da F1.

Mas com um espírito "espartano", Barrichello nunca desistiu de seus sonhos e objetivos. Muitos dizem que, nesta época, 1994-1995, Barrichello teve suas grandes chances de pular para uma grande equipe. Na entressafra de pilotos brasileiros em equipes de ponta na F1, pipocou boatos que ele teria negado ofertas da Williams e da McLaren. A oferta da Williams teriam dito foi feita após a morte de Senna, arquitetada por Nelson Piquet ( com quem compartilhava o mesmo patrocinador - Arisco ) e a Rede Globo, mas esses boatos nunca foram comprovados e até mesmo foram desmentidos pelo próprio Barrichello. A McLaren sim, fez uma proposta com duração de 1 temporada com opção de renovação da equipe, Rubens negou e optou por permanecer na Jordan.

Rubens e a Jordan Peugeot de 1995, ano de muitas expectativas e muitas desilusões

Jordan Peugeot de 1996, fim melancólico do casamento Rubens-Jordan.

Nada veio de maneira fácil na carreira deste brasileiro. Depois de ver sua carreira na Jordan terminar de maneira melancólica em 1996, Rubens optou por um desafio audacioso. Aceitou o chamado de um velho amigo - Jacky Stewart - e assumiu o cockpit do estreante Stewart-Ford. Muitos no Brasil deram a carreira do brasileiro como decadente, mas como um "bom espartano", Barrichello via na equipe escocesa uma forma de ressurgir. E assim foi, em 1997, conseguiu um pódio heróico em Monte Carlo debaixo de chuva ficando atrás apenas do seu futuro algoz - Michael Schumacher.

Barrichello em um seus momentos de ressurgimento - Mônaco 1997 - Pódio com a estreante Stewart.

O ano de 1998 foi de muito aprendizado, com um carro inguiável, Barrichello viveu as duras penas com acerto de chassi. E em 1999 teve a sua grande virada. Gary Andersson, engenheiro de Barrichello dos tempos de Jordan, assumia o controle técnico da Stewart e desenhou um carro ao estilo do brasileiro. A temporada foi de mais um ressurgimento, o talento do brasileiro saltava aos olhos dos principais chefes de equipe da F1 e Barrichello estava em seu grande momento.
Rubens Barrichello era o nome da vez na F1. Seu nome era cogitado na McLaren e na Ferrari. Os conselhos do "velho Jacky" apontavam para um acerto com a McLaren, mas o sangue ítalo-brasileiro, o sonho, fizeram o brasileiro aceitar o convite de Jean Todt para assumir o carro vermelho e ser companheiro de Michael Schumacher. Os termos deste contrato assinado nós nunca saberemos mas a expectativa criada pelo próprio brasileiro era que ele, finalmente, estaria em igualdade de condições para poder lutar pelo título mundial.
A Expectativa criada fez o Brasil apostar em Rubens Barrichello como um grande nome para a temporada de 2000. As primeiras corridas porém, mostraram o contrário. Desafiado pela própria Ferrari ao contratar Barrichello, Michael Schumacher praticamente destruiu qualquer expectativa ao vencer corridas atrás de corridas com um desempenho incomparável. Restou ao brasileiro buscar seus objetivos pessoais passo a passo , como sua primeira vitória na F1.

Stewart Ford em 1999, no pódio com Herbert e o velho Jacky em Nurburgring.

Barrichello e o sonho vermelho realizado - Ferrari F2000

A Primeira

A primeira vitória do guerreiro Barrichello não poderia ter sido melhor. De maneira traumática, Rubens largou da 18a posição, lutou, ultrapassou, brigou, contrariou a própria equipe e venceu o GP da Alemanha em 2000. Incrivelmente inspirado, Barrichello incorporou o melhor espírito de guerra ao pilotar na pista molhada com pneus de seco. Era o atrevimento que faltava para a sua tão sonhada vitória. Desde o GP da Austrália em 1993 o Brasil não tinha um vencedor na Formula 1. Esta longa espera foi alegremente terminada no dia 30 de Julho. O pódio foi regado de bastante emoção, muitas desilusões, traumas, batalhas eram derramadas em lágrimas e num choro convulsivo no pódio, finalmente o guerreiro conseguia seus louros da vitória.

A primeira a gente nunca esquece...

Depois da vitória na Alemanha, Barrichello dizia que tinha tirado uns 2 T de peso das costas. As pressões aliviaram mas as dúvidas persistiram. Schumacher conseguiu o tão sonhado tricampeonato.
Sua vida na Ferrari foi de altos e baixos. Mais baixos do que altos. A sombra de Schumacher afetava a sua relação com a equipe. O ano de 2001 foi perdido. Muitas decepções, inclusive com uma corrida desastrada no GP do Brasil e um atrito com o alemão no GP da Malásia daquele mesmo ano, quando Schumacher ultrapassou Barrichello contra as ordens de manutenção de posição imposta por Jean Todt.
Em 2002, assim como no filme "300", Barrichello teve que se curvar ao rei Schumacher e seu reinado Ferrari. Depois de uma corrída espetacular, aonde superou Schumacher na pista, teve que entregar a vitória de bandeja ao companheiro por ordens de equipe. Esse episódio negro é considerado um dos capitulos tristes de sua determinada carreira, mas mostrou ao mundo a podridão da política imposta na Ferrari, se Barrichello tivesse deixado o alemão passar durante a corrida, talvez ninguém enxergasse a evidente preferência da equipe. Sua atitude deixou o alemão em situação constrangedora.
Austria 2002 - Pódio indigesto e constragedor

Barrichello vence em Nurburgring - Vice campeão em 2002

Vitória nos Estados Unidos - presentão do alemão

Momento Inesquecível - Vitória em Monza

Show em Silverstone 2003 - Vitória Espetacular

Poucos dão valor, mas Rubens Barrichello conseguiu dois vice campeonatos em sua estadia na Ferrari. Em 2002 e 2004 quando a Ferrari teve carros superiores, Barrichello conseguiu vitórias e emplacou uma série de dobradinhas com Schumacher.

A vida pós-Ferrari

Ao final de 2005, Barrichello estava cansado de sua vida de escudeiro na Ferrari, e em mais uma de suas apostas, foi para equipe BAR Honda em 2006. A equipe era praticamente japonesa, e em seus primeiros testes, os japoneses ficaram impressionados com a dedicação do brasileiro chegando a compara-lo ao saudoso Ayrton Senna. Após as primeiras corridas, as comparações cairam por terra dando lugar as cobranças. Na 2a metade da temporada, Barrichello se recuperou e conseguiu bons resultados.
2007 e 2008 foram dois anos de muitos azares e desilusões. Os carros da Honda eram considerados um dos piores do grid, e Barrichello junto de seu então companheiro Jenson Button sofreram. Restou ao brasileiro manter sua calma e paciência, e como um bom guerreiro, esperar pelo momento certo para dar o bote.

BAR Honda 2006 - 7o lugar - 30 pontos

Honda 2007 - Pior carro de Barrichello na F1

Honda 2008 - Pódio heróico em Silverstone

Ressurgimento Final

No final da temporada de 2008, todos davam como certa a aposentadoria de Barrichello. Apontado como derrotado, decadente e sem espaço na F1, Rubens teve que assistir calado as críticas. Todos se surpreenderam quando Ross Brawn anunciou a compra dos espólios da falida Honda, tornando-a Brawn GP e a manutenção dos seus pilotos - Jenson Button e o então "aposentado" Barrichello.
O ínicio da temporada mostrou que os carros da Brawn GP eram superiores aos demais, e Barrichello assistiu Jenson Button vencer corridas em sequência. De cabeça quente, soltou algumas pérolas, mas repetia sempre " no 2o semestre a coisa vira!". Dito e feito. No 2o semestre, o guerreiro ressurgiu mais uma vez das cinzas para vencer 2 GP's, inclusive conseguiu a centésima vitória brasileira na F1 no GP de Valência, e mostrou ao mundo que era maior do que muitos achavam.
Hoje pilota a Williams, uma equipe que tem admirações complexas do povo brasileiro por inúmeras razões. Frank Williams, Patrick Head e Sam Michael não param de elogiar o veterano brasileiro, a ponto de um deles dizer " Como um cara desse nunca foi campeão mundial? ". Assim como no filme "300", não é sempre que os guerreiros vencem, mas sua persistência e determinação pela defesa de seus ideais é o que tornam esses guerreiros inesquecíveis. E com certeza, Rubens Barrichello conseguiu um espaço cativo no coração do automobilismo brasileiro e mundial ao alcançar esta marca invejável no mundo cruel da Fórmula 1 - 300 GP's.



Rubens Barrichello em números

300 GP's
11 vitórias
14 poles
17 voltas rápidas
2 vice campeonatos mundiais
4o maior pontuador da história da F1
Recordista de dobradinhas com Michael Schumacher
Recordista de Temporadas Seguidas na F1 - 18

Um comentário:

Ricardo Menegueli disse...

genial.

Todos sabem o quanto eu sou fã desse cara, independente de tudo que possam dizer.

muitos fazem piadinhas, chacotas com isso, inclusive no kart, quando dizem: 'ahhh vc é tão azarado quanto ele...' - não ligo.

Tem pessoas q nascem com o rei na barriga, e tem pessoas que nascem com a espada em punhos... esse é Barrichello.

Parabéns pelo post, fantástico, divulgarei-o!

Abraços

@rmenegueli