domingo, 27 de fevereiro de 2011

Velocidade & Contaminação

"A Propagação deste vírus é restrita a quem apreciou alguns contatos com carros de corrida. São poucas chances de cura mas não se caracteriza como uma epidemia."

Olá pessoal! Pego emprestado mais uma vez um excelentíssimo texto do jornalista Marcus Zamponi para exemplificar a paixão e o contágio que o automobilismo é capaz de fazer em nós, mortais. Vejo com felicidade a alegria nos olhos de quem é apresentado para este esporte, e completamente contaminado por este sadio vírus.

"Bichinho danado este tal de automobilismo. Quando o vírus ataca, tratamento nenhum consegue surtir efeito e você vira refém de um tipo de adrenalina que só se manifesta a altas velocidades. Felizmente - pelo menos na ótica de pessoas ditas "saudáveis" -, a propagação deste vírus é restrita a quem apreciou alguns contatos com carros de competição e embora com poucas chances de "cura", certamente não se caracteriza como epidemia. Mas é inegável que quando o sangue contamina, ah... sai da frente.

Fórmula Indy - Alex Zanardi vs. Bryan Herta

Confesso que fiquei um bocado emocionado quando vi na televisão o Alex Zanardi dar algumas voltas miraculosas no circuito alemão de Lausitz, a bordo de um F-Cart. Foi uma justíssima homenagem a um piloto que enfrentou o que pode haver de pior e em sua trajetória profissional restituiu uma aura de qualidade e valentia quando a categoria necessitava delas. Mais impressionante foi o ato de que com as duas pernas amputadas e em um carro adaptado para operar somente com controles manuais, ter conseguido virar uma marca que lhe garantiria um 5º lugar no grid naquele mesmo evento. Foi demais e a prova mais concreta de que apesar de todos os pesares, Alex Zanardi continua "contaminado".

Alessandro Nannini em ação contra Piquet em 1988.

Após um acidente áereo, onde teve um braço amputado e depois reimplantado, piloto uma Ferrari em 1992. 
O trauma não foi suficiente para detê-lo.

Eu já sentira algo igual quando, em 1998, deslumbrei-me com o histórico Clay Regazzoni em uma prova da mesma CART, em Long Beach. Paralítico depois de sofrer um grave acidente quando pilotava um Ensign de F1 no GP dos EUA, o velho Rega ( falecido em 2006 ) passeava empurrando sua cadeira de rodas até chegar ao estacionamento de forma tranquila. Afinal, os aficionados americanos pouco conhecem da sua história. Fui ousado, encostei para uma rápida conversa, e tratei de puxar-lhe o saco descaradamente. Ele foi gentil mas somente o tempo de, auxiliado por alguém, embarcar numa luxuosa Ferrari - obviamente vermelha - no banco do motorista! Um rápido aceno e ele partiu, como o garbo de sua outrora juventude. Como um garotão feliz, não dispensou uma rápida cantada de pneus no carro adaptado. Certamente, Clay Regazzoni estava na época, também contaminado pelo "vírus".

 Clay Regazzoni ( 1939 - 2006 ), mesmo após ficar paralítico, mantinha seu contato com corridas.

De qualquer maneira, foi mesmo o Zanardi quem motivou essa reflexão. Seu terrível acidente na temporada de 2001 da Indy gravou imagens bem vivas em minha memória. A plasticidade das cenas fundiu-se à violência do choque e ao alto grau de dramaticidade da sua recuperação física para produzir uma página inesquecível. Não sei se esse processo também faz parte da "contaminação" de um expectador apaixonado. Mas, que estranho mecanismo atua no insconsciente das pessoas, mesmo profissionais calejados, quando testemunhas de acidentes tão graves? No dia-a-dia do automobilismo sabemos estar muito próximos de assistir à definição final dos riscos, mas, quando a mágica acontece, é sempre dura porrada. Me lembro muito bem da minha angústia ao testemunhar a morte de Jeff Krosnoff em Toronto, na temporada de 1996 da F-Indy, quando seu carro quase aterrissou sobre o de André Ribeiro. Na mesma F-Indy ( ou CART ), em 1999, no oval de Fontana, Greg Moore capotou e bateu tantas vezes que daria para contar. É terrivel mas já houve gringo que me garantiu que, pelo menos para os americanos, reside nesta macabra expectativa o encanto pelo automobilismo.

Acidente Fatal - Jeff Krosnoff

Brutal acidente de Greg Moore em 1999.

Mas vamos louvar a exibição de Zanardi. Cara simpático, conheci-o na decisão do título da F-3000 em Nogaro, na França, 1991. Foi vice para o Christian Fittipaldi e pilotava para a "Il Barone Rampante", a mesma equipe que logo depois hospedou Rubens Barrichello. Na F1, teve passagem apagada. Substituiu Michael Schumacher na Jordan em 1991, que por sua vez ocupara o lugar de Roberto Moreno. Depois foi para a Lotus, no lugar de Mika Hakkinen, em 1993. Ele já namorava o grande risco. Naquele ano bateu tão forte na Eau Rouge, GP da Bélgica, que ficou quase um ano inativo. Quando voltou a correr, foi um sucesso e bicampeão pela Chip Ganassi na F-Indy ( CART ). Usou e abusou da habilidade e em Laguna Seca, em 1997, deu uma ultrapassagem histórica, pelo acostamento, sobre o concorrente Bryan Herta.

  Acidente em Lausitz lhe rendeu a amputação das pernas.

A Imagem chega a ser chocante.

Um dos acidentes mais fortes da história da F-Indy.

Sem as pernas mas com o coração ainda mais forte pelo automobilismo.

Um Exemplo de perseverança.

"Contaminadíssimo" Zanardi, um exemplo para todos nós.

Bem casado com a também italiano Daniella, era caseiro, de ótimo humor e pouca farra. Em 2001, na sua última temporada, encontrou em Tony Kanaan seu parceiro ideal. Cozinhava para o baiano e levou no sarro quando Tony batizou seu carro de "Daniella". Tinha uma gargalhada contagiante. A mesma que exibiu, "contaminado", depois daquelas poucas voltas em Lausitz...

Alguém duvida que Robert Kubica volte melhor do que antes? eu não tenho duvidas disso...

Texto extraído da 
Revista Racing
Ano 8 - nº 120
por Marcus Zamponi  

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Vale a Pena Ver de Novo

Grande Prêmio do Brasil
1993

 Pôster do GP Brasil de F1 de 1993

Voltamos no tempo. Estamos em 1993. Segunda etapa do campeonato da temporada que começou bem para o francês Alain Prost. A bordo do fantástico Williams-Renault FW15C, venceu o GP da África do Sul deixando Ayrton Senna e Michael Schumacher para trás. Para o Brasil, esperava uma dobradinha dos carros azuis, mas os céus de São Paulo assim não quiseram. Ayrton Senna, a bordo do irregular McLaren-Ford fez até chover e junto do alemão Michael Schumacher, deram um show na pista de Interlagos. Recordar é viver.

Transmissão: Rede Globo
narrador: Galvão Bueno
comentários: Reginaldo Leme  
data: 28 de Março de 1993 

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Jejum brasileiro de títulos na Fórmula 1:
19 anos, 3 meses e 27 dias.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Acidentes no Automobilismo

A Incrível história de Tetsuya Ota
Ex-piloto do Campeonato Japonês de GT sofreu um gravíssimo acidente em 1998 e expôs a que ponto chega a imbecibilidade humana.

Como ficou o capacete de Tetsuya após o acidente

Todos nós acordamos chocados com a notícia do acidente gravíssimo do polonês Robert Kubica no Rali (?) no qual ele participava na Itália. Sofreu várias lesões na parte direita do corpo tendo a sua mão direita quase dilacerada, precisando ser refeita numa cirurgia que levou quase 7 horas e a estimativa para seu retorno leve 1 ano.

Mas o automobilismo já viu acidentes no mundo GT gravíssimos, este caso que nós achamos foi igualmente forte. Trata-se do Campeonato Japonês de GT de 1998, está certo que o acidente ocorreu há mais de 10 anos, mas sua gravidade e a leviandade do atendimento ao piloto nos faz crer que mesmo em países de alto nível, padrão de qualidade A como dizem, podem acontecer falhas grotescas no evento e no atendimento a acidentados.
Este caso é do ex-piloto japonês Tetsuya Ota que na época dirigia a Ferrari F355. A prova era no autódromo de Fuji, hoje palco da F1. Chovia muito na corrida, que estava em safety car, mas esse mesmo andava tão rapido que não foi o suficiente para manter a segurança na pista. Resultado dessa hecatombe foi que no meio do pelotão dois Porsches, dos pilotos Tomohiko Sunako e de Kaoro Hoshino se colidem, sendo que um deles ficou na beira da pista. Segundos depois, o Ferrari F355 de Tetsuya entra em aquaplanagem e bate em cheio no Porsche guiado por Sunako, explodindo em chamas ao mesmo tempo.

Sunako sai do carro com uma perna partida enquanto Tetsuya arde em chamas por mais de 1 minuto. Nesse tempo, Tetsuya sofre queimaduras no nariz ( sua viseira de plástico derreteu-se ), ombros, braços e mão direita. A corrida foi cancelada e Tetsuya nunca mais competiu.

 Tetsuya Ota, antes e depois do acidente.

Depois de um longo período de recuperação ( no qual Tetsuya precisou reconstruir seu nariz ), o mesmo resolveu processar os organizadores do evento, a Federação Japonesa de automobilismo e o clube organizador da corrida. Razões para ele não faltaram. Claro, Tetsuya ganhou o processo e tinha que receber 300 milhões de Ienes ( cerca de 3 milhões de reais ), mas depois com o acordo acabou recebendo 90 milhões de Ienes ( cerca de 900 mil reais ). 

Hoje Tetsuya Ota mantem uma equipe de Tunning para carros Alfa Romeo no Japão. A sua história mostra como o automobilismo mundial ainda carece de segurança em algumas áreas. O acidente de Robert Kubica também demonstrou a falta de seriedade nesta questão porque o polonês ficou mais 1 hora nas ferragens antes de ser resgatado pela brigada de incêndio e agora corre o risco de ver sua carreira na F1 terminada. Torcemos para que isso não aconteça.

O gravíssimo acidente de Tetsuya Ota no Fuji Speedway - 1998.

fonte: http://continental-circus.blogspot.com
fotos: www.google.com.br/images
video: www.youtube.com.br