quarta-feira, 27 de julho de 2011

O Projeto McLambo

Os detalhes da (quase) união entre McLaren e Lamborghini

Ayrton Senna e o McLaren MP4/8B Lamborghini v12

Os primeiros boatos do casamento McLaren-Lamborghini iniciaram em meados de Agosto de 1993. Algumas publicações italianas escreveram que a equipe inglesa estava montando um carro para testes com motores v12 Lamborghini. Esses rumores deixavam claro que a gigante americana Chrysler (detentora da marca Lamborghini, até então) queria um envolvimento maior com o seu programa de motores na F1.

Os motores Lamborghini v12, desenhados por Mauro Forghieri, eram vistos na F1 desde a temporada de 1989. A primeira parceira na F1 foi a equipe Larrousse, nos anos de 89-90. Em 1990, a Lotus também utilizou os motores v12. Para 1991, foi a vez da Ligier utilizar os motores. Em 1992, Larrousse e a Minardi utilizaram os motores italo-americano. Para 1993, algumas mudanças, agora com o nome na tampa e com um motor bem mais leve, a Larrousse utilizou os rebatizados Lamborghini-Chrysler v12.

Onboard com Eric Bernard pilotando um Larrousse-Lamborghini v12 em Silverstone


Mesmo com o potencial e a velocidade demonstrados pelo carro Larrousse, a Chrysler se aproximou da McLaren para um teste. Lamborghini e McLaren se aproximaram graças a TAG Eletronics que forneceu a central eletrônica para todo o gerenciamento dos motores para as temporadas de 1992 e 1993. O motor Lamborghini '93 era o v12 mais leve e pequeno já construido e também muito admirado por outras equipes. Com isso, a Chrysler queria conhecer o real potencial fornecendo algumas unidades para testes com a gigante McLaren. Com isso, Ron Dennis montou um modificado MP4/8 especificação "B" para receber os v12.

O primeiro teste foi numa segunda-feira, dia 20 de Setembro de 1993 com Ayrton Senna no volante do McLaren sem patrocinadores em Silverstone. O francês François Castaing, que era o vice-presidente de Engenharia de véiculos da Chrysler, estava presente nos testes para promover seu novo carro, o NEON, que seria lançado na Europa. Com certeza, a McLaren daria uma maior promoção à marca Chrysler do que a "nanica" Larrousse.

Senna nos testes, elogios ao motor Chrysler.
 
O primeiro teste publico veio em Estoril durante o mês de Outubro de 1993. As impressões de Senna sobre os motores eram animadoras. No primeiro momento disse que os motores eram confiáveis e promissores. E também disse: "É muito bom, mas precisa de mais potência porque não é tão sofisticado. Mas eu estou certo que será um ótimo motor para a próxima temporada." Sobre os rumores de que o motor seria usado ainda durante a temporada vigente, Senna disse: "Seria muito interessante correr com os v12 no Japão." Ron Dennis rapidamente negou essa possibilidade e disse que não teria planos para um acordo race-by-race com a Chrysler naquele momento. Nestes testes, os motores foram chamados de -Chrysler v12-. Voltando para Silverstone, o piloto Mika Hakkinen conseguiu um tempo 1s4 mais rápido do que o obtido com os Ford HB v8 que eram utilizados regularmente naquela temporada. Empolgada com os resultados obtidos nos testes, a Chrysler prometeu um novíssimo motor v12 para a temporada de 1994.

Hakkinen fez um tempo 1s4 mais rapido com motores Lamborghini v12.

Entretanto, a Peugeot também queria entrar na F1 com um novo v10 para enfrentar a rival Renault que dominava a categoria na época. Na metade de outubro, um boato envolvendo Larrousse o ligava a uma união com a fábrica francesa quando, surpreendentemente, a McLaren chocou a todos com o anúncio da associação com a Peugeot para fornecimento de motores para 1994. O diretor-chefe da Chrysler, Tom Kowaleski, comentou: "Estamos desapontadíssimos. Nós trabalhos duro nos ultimos meses, incluindo um intenso programa de testes com a TAG Eletronics e a McLaren. Nós tinhamos um acordo forte para continuarmos juntos no futuro. A decisão nos mostra como é de fato a F1."

Mesmo assim, a Larrousse conseguiu o fornecimento dos motores Chrysler-Lamborghini para 1994 com o apoio da fábrica. Mas, Daniele Audetto, diretor da divisão de motores para a F1, alertou: "Que o apoio não seria nos mesmos moldes que seria com a McLaren".
E na verdade, esse apoio nunca aconteceu. Em novembro de 1993, estando completamente decepcionada com a decisão da McLaren, a Chrysler resolveu vender a Lamborghini para um grupo de investidores indonésios liderados por Tommy Suharto, filho do então presidente da Indonésia, e junto da Chrysler, o nome Lamborghini desapareceu da F1. E colocou uma pequena mancha na reputação histórica da McLaren.

O resultado não poderia ser muito feliz para todos os envolvidos. Mesmo com o patrocínio de empresas francesas como a Kronenbourg e a Tourtel, a Larrousse conseguiu o fornecimento dos motores Ford HB v8 para substituir os promissores Chrysler. O time sofreu bastante durante a temporada de 94, recorrendo a vários pilotos pagantes, porém em vão, fechou as portas no final da temporada.

E a McLaren? bom, a união com a Peugeot não foi suficiente para segurar Ayrton Senna na equipe. Com Mika Hakkinen e Martin Brundle, a equipe teve uma de suas piores temporadas na categoria, e antes do fim do ano, a equipe fechou parceria com os alemães da Mercedes-benz despachando a Peugeot sem cerimônia da equipe. E Senna? bom, o piloto assinou com Frank Williams esperando ter mais condições de lutar pelo tetracampeonato, que infelizmente não teve.

Prost testando o McLaren-Peugeot, opção infeliz.
Senna e Williams, também não deu certo.
Larrousse em 1994, descrédito da Chrysler acabou selando o seu fim.

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7 comentários:

Fernando Cataldo disse...

Só espero que nenhum aproveitador copie essa matéria e cole em seu respectivo blog. Entendeu, http://www.gpexpert.com.br?

Anônimo disse...

Meus parabéns pelo resgate desta história tão importante para o automobilismo mundial. Quem sabe, se a Mclaren tivesse optado pelos motores Lamborghini, talvez nosso Ayrton Senna ainda estivesse vivo. Mas, isso é especulação, infelizmente.

Paulo disse...

As Mclaren desde a saída do John Barnard (aí por 1985) começaram a ter sérios problemas de chassis, não adianta a aerodinâmica é 50% do carro F1 e nos últimos 25 anos quem tem Rory Byrne e Adrian Newey tem grande vantagem, a Mclaren é a equipe mais organizada da F1, quase sempre tem os melhores pilotos, quase sempre
tem bons motores, mas o engenheiro que faz o carro é manda...e a Mclaren só teve um bom chassis quando copiou os Ferrari há uns 4 anos atrás (houve punição da FIA, naquele caso de espionagem) e quando roubou o Adrian da Williams, na década de 90. Quanto ao Lamborghini V12 este motor com a cilindrada 3,5l é melhor que o Ford da Mclaren que era 1 geração mais atrasado que os Ford da Beneton, vantagem só em pista de alta velocidade e nos treinos, mas nas corridas o V8 por carregar 30 litros a menos de combustível, por ser mais curto, por ser mais leve melhorando a distribuição de peso, por ter tanque menores faz que ele tenha um desempenho semelhante ao V12, mas com uma vantagem... um desgaste bem menor dos pneus, é por isto que o V8 é melhor que o V12 neste regulamento, mas o melhor de todos são os V10, estes sim são vencedores nesta cilindrada de 3,5l, são mais equilibrados.

Everton disse...

Havia uma grande falta de bons motores em 1993. Os Bons eram os Renault V10, os Ferrari v12, a Mclaren com o Ford HB tinha 80 cavalos a menos que os Renault/Ferrari, e os HB mais evoluídos da Benetton 60 cvs a menos. já em 1994 os bons eram de novo o Renault V10, o Ferrari V12 e o novo Ford Zetec V8, exclusivo da Benetton, que agora estava usando um bloco mais leve eles colocaram pistãoXcurso de 96x60,4 contra 90x68,7 dos antigos Ford HB, com isso a Ford tinha 740 cvs contra 780 cvs do Renault, no fim do ano os Renault já estavam com 790 cvs como o motor Ford carregava menos combustível ele se tornou competivivo (ajudado pelo controle de tração ilegal usado nas 7 primeiras corrida pela Benetton em 1994), mas voltando a 1993 é verdade que o Senna fez uma grande temporada com 80 cvs a menos, venceu 5 provas, mas quase todas com chuva ou pistas travadas, a Mclaren fez fiasco nas pistas de alta velocidade. A Mclaren teria em 1994 sérios problemas se usasse os Lamborghini, por que eles tinham é verdade muito mais potência que o Ford HB, impressionando o Senna, mas era bem inferior aos Renault, Ferrari e também ao Ford Zetec que apesar de não ser muito potente carregava menos combustível. O Prost saiu da F1 em 1992 porque viu que não tinha carro competitivo pra ele porque ele previu que a Williams ganharia fácil o campeonato daquele ano, graças a suspensão ativa, cambio semi automático e controle de tração, o que o Prost fez? se ofereceu pra correr na Williams em 1993 é claro que o Frank Williams aceitou porque o Prost, é muito mais piloto que o Mansell, só o Senna era páreo pra ele em velocidade, na Ferrari em 1990 o Prost era 1,0 segundo por volta mais rápido do que o Mansell, quando o Mansell viu que o Prost ia voltar e iria pra Williams, pegou o boné e foi embora, pois não queria ser massacrado de novo pelo francês, Mansell se achava o "tal" por que era mais rápido do que o Piquet na Williams, mas Prost e Senna são pilotos de outra turma, não da pra comparar com PIquet e Mansell. O Prost no fim de 1993, já tetra campeão, ao fazer testes com a Williams sem a suspensão ativa, que seria proibida em 1994, viu que o desenho do carro não se adaptou a suspensão convencional e não quis mais correr com a Williams, testou a Mclaren em 1994 com motor Peugeot e também não gostou e abandonou tudo por falta de carro competitivo, o Senna deveria ter feito a mesma coisa, ter abandonado o automobilismo em 1994 e voltar em 1995 ou 1996 quando houvesse algo mais interessante, faltou experiência pro Senna, ótimo piloto talvez o mais habilidoso de todos que a F1 já teve, mas ele não tem o conhecimento mecânico do Prost, do Piquet (este é lento, mas é experto) e do Schumy.

Cláudio Souza disse...

Everton e Paulo, muito obrigado pelos seus comentários,,, bem explicativos e interessantes. Com certeza, o motor Ford HB v8 eram bem inferiores ao motor fornecido à Benetton, que tinha comando pneumático de válvulas, mas fazendo uma comparação técnica entre o v12 Lambo e o v8 Ford, com certeza, o v8 da Ford era mais vantajoso por esses aspectos de distribuição de peso e consumo. Pelo fato das provas finais serem em Suzuka e Adelaide, na época, seria interessante ver a McLaren utilizando os v12 Lambo, mas enfim, história é história, mesmo com os v8 Ford, o Ayrton tirou leite de pedra e conseguiu suas últimas duas vitórias na carreira.

Alberi Gomes disse...

O Ron Dennis é muito experto e usou o nome da Crysler, um motor que já tinha quase 4 anos de desenvolvimento para poder fazer um ótimo negócio com a Mercedes (Ilmor), a Mercedes mesmo com 3 anos de desenvolvimento achava que ia se queimar, por isto pediu para esperar mais um pouco mais e até usou uma outra equipe para desenvolver mais o motor, se eu não me engano a Sauber. O Ron com isto tentou os Peugeot como tampão, mas o motor por ser muito novo não era bom, com a Mercedes o Ron conseguiu ótimos motores e economizou bilhões de dólares em motores uma parceria de 17 anos. O Lamborghini era um bom motor mas só pegou equipes pobres como a Larrouse e a Lotus, o Derek Warwick que correu com ele na Lotus, disse que o motor era potente, mas faltava torque em baixa rotação, algo que os Ford HB tinham muito, o engenheiro Forghiere disse que o motor Lamborghini evoluiu mais com o Senna em 2 meses de testes que os 4 anos que teve com os outros pilotos, ele tirou 25 cavalos do motor em alta rotação e o motor ganhou muita aceleração uns 60 cavalos em baixa rotação, a partir daí os Lamborghini V12 começaram a andar bem mais que o Ford V8. O Ron quase assinou com a Ford, mas a Ford exigiu um contrato longo e com isto eles dariam o Zetec V8 com 750 cavalos em 1994, mas o Ron Dennis queria um V10 e a Ford que tinha desistido do V12 depois que nos testes de pista ele não conseguiu superar o V8 em condições de corrida. A Ford partiu para um V10, mas o bloco (revolucionário) de ligas bem leves, estava quebrando muito, nos testes simulados o V10 estava levando vantagem sobre o V8, mas aí foi tarde demais, o Ron conseguiu desistir do Lamborghini e da Ford, e o Briatore também desistiu do Ford V8, um motor que surpreendeu ao vencer o Renault da Williams em 1994, mesmo que este motor Zetec tenha ganho uns 1500 giros e 35 cavalos em relação ao HB, havia evidências que o motor Ford tinha alguma coisa eletrônica nele, o Max Mosley disse em 2001 que havia uma equipe em 1994 que usou o controle de tração, o que era proibido, o regulamento de 89-93 que sempre foi hostil aos V8 (por ser 3,5l tinha virabrequim e pistões pesados não conseguindo girar alto), se tornou mais hostil ainda em 1994 porque foi permitido o reabastecimento, pela primeira vez os V12 seriam tão bons ou até melhores que os V10, no regulamento de 1994, mas este regulamento só duraria um ano, por isto que o Ron Dennis não quis saber do Lamborghini, a Lamborghini seria o tampão em 1994 para em 1995 vir os Mercedes, mas a Peugeot se atravessou e ofereceu além de motores gratuitos muito dinheiro (a Peugeot estava com ciúmes do sucesso dos Renault). Em 1995 nova mudança no regulamento, agora a acabam com os motores 3,5 litros e em seu lugar entram os 3,0 litros, com isto o Ford V8 seria competitivo contra os V10, mas o Briatore também desiste do Ford V8 e do V10 da Ford que estava problemático e parte para os Renault V10, só que tinha pagar por eles e a Benetton que foi bem em 1995, a partir daí começou a entrar em crise sem o Schumacher, ou seja, a Crysler foi usada pelo Ron Dennis e a Ford pelo Briatore que fez um monte de motores para satisfazer a Beneton (V6 turbo, Dfr baseando no motor ford antigo, HB, Zetec este um V8 bem grandão, V12 que nunca correu e o V10 que demorou para entrar em ação) a Ford sem a Benetton tentou fazer a sua equipe, mas fracassou também. A única que sobreviveu foi a Mclaren, mas sem a raposa do Ron Dennis eles também vão quebrar.

Lauro disse...

Acho que o Lamborghini fracassaria, nos regulamentos antigos de 3,0l os Ford V8 quase sempre dominaram os V12 da Matra, da Alfa V12 (este muito potente, mas muito beberão e pesado com 180 kgs) e também da Ferrari, os únicos que conseguiram fazer alguma coisa foram as Ferrari, mas talvez pelo gênio do Mauro Forghieri (casualmente o mentor do motor Lamborghini) o Mauro trouxe um monte de inovações na F1, tais como injeção direta, câmbio transversal etc.... e tinha também um ótimo piloto o Lauda, já com o regulamento de 3,5l os V12 de novo fracassaram exceto os Honda V12 de 1991, que venceu, mas segundo o Ron Dennis estes motores eram inferiores aos Honda V10 de 1990, ele disse que os carros tinham muito menos aceleração, e disse que os Renault V10 eram superiores aos V12 da Honda em 20 cavalos (740 cvs do Renault V10 contra 720 do Honda V12), ele deu a entender que o Senna venceu porque o Chassis Mclaren de 1991 era 1,5 segundo mais rápido que o Chassis de 1990, que segundo ele não era bom e também pela imprevisibilidade do Mansell, Ou seja, os motores V12 são perdedores, eles só seriam superiores se a cilindrada fosse para 4,0 litros. A tendência é este motor desaparecer do planeta, por ser ineficiente, como desapareceu os 2 Tempos, os motores Wankell, os OHV (exceto caminhões)...O Mclaren seria como um lombriga, com este motor grandalhão, faria no máximo 20 pontos.