quinta-feira, 1 de maio de 2014

Ayrton Senna, 20 anos depois

ESPORTES

AYRTON SENNA DECIDE NÃO CORRER EM ÍMOLA EM PROTESTO PELA MORTE DE ROLAND RATZENBERGER

Enviado de San Marino, 2/5/1994

Ayrton Senna estava transtornado e muito abatido na manhã de domingo e em conversa tensa com o chefe da equipe Frank Williams tomou a difícil decisão de não disputar o Grande Prêmio de San Marino, 3ª etapa do Campeonato Mundial.

Senna deixou o autódromo pouco antes do horário da largada em direção a sua casa em Portugal. Provavelmente da sua casa assistiu a 3ª vitória consecutiva do jovem alemão Michael Schumacher, que agora tem 30 pontos de vantagem sobre o brasileiro tornando a disputa do tetracampeonato cada vez mais difícil porém, depois de todos os ocorridos neste fim de semana, o título no fim da temporada era o que pouco importava para Ayrton Senna.

Ayrton deixando o autódromo pouco antes da largada, decisão de não correr.

A Williams respeitou a decisão do brasileiro e não o pressionou por uma decisão contrária. O mundo da Fórmula 1 de fato estranhou a atitude do brasileiro mas a entendeu perfeitamente depois dos ocorridos neste trágico fim de semana. Antes do evento em Mônaco, Senna se reunirá com os principais pilotos da categoria para tomar medidas visando a segurança dos autódromos.

Por sua vez a FIA analisará a sua ausência no Grande Prêmio. O diretor de provas Roland Bruynseareade chegou a cogitar uma punição ao não comparecimento no grid de largada o que pode comprometer ainda mais a disputa pelo título mundial. Alguns especialistas disseram que o Ayrton deveria ter ido para o grid, dado uma volta e parado nos boxes assim evitando quaisquer ações da FIA.


01/5 - as respostas sobre sua desistência

Ayrton respondeu aos jornalistas que não estava em sua plenitude física e mental para disputar a corrida e que os eventos transcorridos neste fim de semana tornaram o ambiente tenso e insustentável para a prática de sua profissão. O brasileiro demonstrou muito abatimento mas safo de sua decisão.

Visando a quarta etapa do Campeonato Mundial, Ayrton Senna e a equipe Williams treinarão novamente na pista francesa de Nogaro a fim de testar novos compostos aerodinâmicos e atualizações no problemático FW16 que nas mãos de Damon Hill, mais uma vez, decepcionou no Grande Prêmio de San Marino conseguindo apenas a 6ª colocação.


Após a decisão de não correr, Senna procurou Schumacher para a reunião da GPDA.

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sábado, 7 de setembro de 2013

WEC - 6 horas de Interlagos

Um dia na WEC

Meu relato do inesquecível dia nas 6 horas de Interlagos



Domingo, dia 1º de Setembro de 2013 era aniversário do meu clube do coração Sport Club Corinthians Paulista, mas eu e minha família estávamos preocupados com outro evento, as 6 horas de Interlagos do campeonato mundial de endurance.

                Nosso dia começou as 7h da manhã, tomamos um café da manhã, nos arrumamos e pegamos a estrada exatamente as 8h da manhã. Estrada tranqüila e uma incrível São Paulo sem trânsitos.

                   A aproximação do autódromo de Interlagos começamos a perceber o incrível barulho dos carros vindo do interior, tentamos encontrar um estacionamento porém em vão, achamos uma vaga e estacionamos o carro sem nos preocupar com distancia ou segurança, coisa impensável nos dias de hoje na megalópole paulistana.

                   Nos direcionamos a entrada do portão A e fomos surpreendidos pela multidão em direção a entrada do miolo do circuito, era o horário para a visitação dos boxes. Entramos na fila e percebemos que a educação brasileira para grandes eventos está devendo e muito. Carregando minha filha nos braços acompanhado da minha esposa, fomos empurrados e muitos não respeitavam a nossa situação. O calor estava insuportável e a umidade baixa, provavelmente a temperatura estava na casa dos 33ºC.

                   Com bastante esforço conseguimos entrar na área dos boxes. Foi incrível a sensação de ver aqueles bólidos frente a frente. Com a câmera em mãos tentava tirar fotos dos carros mas como mencionara anteriormente a educação em locais amontoados é difícil de se esperar, e pela primeira vez percebi que as instalações de Interlagos são realmente pequenas para receber grandes eventos como a WEC e a Fórmula 1, tudo é muito pequeno e acanhado, as instalações não dispõe de grandes espaços e a ótima vontade da organização da WEC de disponibilizar um tempo para visitação aos boxes e os pilotos torna-se uma tarefa desafiadora tanto para organizadores quanto para visitantes.

Multidão nos boxes
Aston Martin do Bruno Senna
                   Temos que deixar muito claro, muito boa a atitude da organização do evento e do campeonato este precioso tempo. O contato com os carros e os pilotos é incrível. Estar perto daqueles que protagonizam o evento é uma sensação ótima para quem é fã de automobilismo e se dispõe a acompanhar o campeonato, ponto positivo para o nosso herói Emerson Fittipaldi.

Lotus Rebellion

                   Minha saga nos boxes continuou. Vi a Ferrari do Giancarlo Fisichella e do Kamui Kobayashi, notei as linhas do Aston Martin do Bruno Senna e os fantásticos carros da Lótus, Audi e Toyota. Consegui tirar algumas fotos, estava difícil pela situação de multidão e pouco espaço.
                  
                   Meu objetivo era colher os autógrafos do sobrinho do meu ídolo, Bruno Senna e do brasileiro Fernando Rees. Era praticamente impossível ficar na fila para pegar o autógrafo do Bruno, uma multidão numa fila que não andava porque os bons modos brasileiros regem que você deve “fular a fila”, percebendo que seria difícil, tentei chegar próximo do piloto e tirei uma foto e mandei uma saudação ao Bruno, não tive o prazer de conhecer o meu ídolo mas conheci seu sobrinho.

A multidão em cima do Bruno Senna
Bruno Senna
                   Andando pelos boxes, consegui o autógrafo do piloto Fernando Rees. Uma grande pessoa, atendia a todos com extrema paciência, sorriso no rosto e carisma. Certo momento a multidão começou a rodear os pilotos em busca de autógrafos, neste momento percebi um certo receio dos pilotos estrangeiros. Fernando Rees estava em casa e não se sentia ameaçado.

Fernando Rees
Nicolás Prost
                   Notei o apuro no rosto de Nicolas Prost, filho do tetracampeão mundial de F1 Alain Prost, Anthony Davidson e Stephane Sarrazin, apesar da ótima atitude da organização faltou um pouco de ordem.

                   Após a saga pelos boxes, seguimos para o village, o miolo do circuito contava com pequenos eventos como lojas de souvenirs, barracas para lanches, carros antigos para exposição, um parque de diversões além de uma mini pista de buggy. Não tínhamos muito tempo para a largada. Fizemos um lanche, compramos uns souvenirs, tiramos fotos e conhecemos o Fittipaldi FD04.

Village, no miolo do autódromo
Audi # 1, o campeão da prova

Fittipaldi FD04, o Fórmula 1 brasileiro
                   Voltamos para as arquibancadas e perdemos a largada. Estava na segunda volta. A cada passagem dos bólidos na reta de chegada um barulho imenso nos contagiava. Minha filha pequena parecia experiente naquele tipo de situação, vibrava a cada passagem dos carros, tudo era motivo de festa.

                   Notei cada barulho dos motores dos bólidos. O som mais surpreendente era dos carros da Audi. Todos os outros pareciam barulho de motores à combustão menos os carros alemães. Um som parecido de um trovão rasgava a reta parecendo um som elétrico. Era incrível a velocidade dos carros, acompanhei o momento da ultrapassagem do Audi #1 no Lótus Rebellion na reta de chegada, foi como se o Lótus tivesse muito menos potência.

Visão da Arquibancada A
                   O incêndio da Ferrari do Villander foi o grande momento para nós. Estávamos acompanhando os carros eis que uma bola de fogo sai da traseira do carro e ele para na subida da junção e o fogo começa a se alastrar pelo carro, o nosso medo tinha diminuído porque vimos o piloto saindo do carro mas a imagem foi assombrosa, como deve ter sido ver ao vivo os carros nos anos 60/70 em chamas com os pilotos vivos dentro dos carros? É aterrorizante só de imaginar.

                   Enfim, nossa aventura estava terminando, com duas horas de prova, meu compromisso estava terminado, tinha mais quatro horas de prova pela frente mas meu dia estava selado, meu sonho realizado e era hora de voltar para casa. World Endurance Championship, uma prova que vale a pena assistir.

                  



Grande Prêmio da Itália 1992






quinta-feira, 30 de maio de 2013

O 1º Rei da Era Turbo

Nelson Piquet, Bicampeão Mundial


Piquet faturou o bi em 1983 e foi o primeiro campeão com motor turbo.

Ao conquistar o bicampeonato mundial em 1983, Nelson Piquet inaugurou a fase dos campeões da era turbo. O título foi conseguido com o modelo Brabham BT52 equipado com motor BMW de quatro cilindros. Depois de alguns anos de resistência, os propulsores aspirados não conseguiram acompanhar a potência e a força do novo componente mecânico. O resultado foi um grande equilíbrio entre as equipes de ponta da época, gerando muitas disputas por posições durante as corridas. As provas da competitividade foram as vitórias de vários pilotos nos Grandes Prêmios da temporada. No total de 16 corridas do campeonato, oito diferentes pilotos vencedores. 

Mas a verdadeira disputa ficou mesmo entre Nelson Piquet e Alain Prost, que corria naquela época pela equipe Renault, com motor da mesma marca ( v6 turbo ). O piloto francês iniciava a sua saga de lutas contra pilotos brasileiros - anos mais tarde ele viria a disputar outros títulos com o próprio Piquet (vencendo-o em 1986) e também contra Ayrton Senna (1988,1989 e 1990).

Alain Prost, o rival na disputa do bicampeonato.
Os pit stops foram muito importantes na temporada de 1983. Exploradas de maneira diferente de hoje em dia - onde são feitas sob critérios bastante rigorosos - as paradas nos boxes envolviam, além da troca de pneus, o reabastecimento, mas apenas uma vez por corrida. Mesmo assim, a agilidade no trabalho realizado pelos mecânicos conseguia descontar ou somar tempo importante pera o resultado de pista. E este foi um dos trunfos de Nelson Piquet. A equipe Brabham sempre conseguiu fazer boas marcas de pit stop, devolvendo o brasileiro rapidamente ás pistas. O tempo de uma parada ficava em torno de 14s a 16s , mas o time de Bernie Ecclestone terminava o serviço na faixa dos 11s - tempos bem diferentes dos atuais.

Como em seu primeiro título, Piquet teve muito trabalho durante a temporada. Contando a vitória na etapa da abertura no Rio de Janeiro, o piloto da Brabham #5 fez uma temporada regular, somando pontos em dez corridas das 16 realizadas. A festa do público no circuito de Jacarépagua após o 1o lugar de Piquet no GP do Brasil mostrava que o país já repartia de igual para igual suas emoções entre o futebol e a Fórmula 1.

vitória no GP do Brasil em 1983

Nas ruas de Long Beach, nos EUA, um problema no acelerador tirou Piquet da prova. John Watson com McLaren TAG, venceu sua única corrida no ano. O circo seguiu para a Europa e Alain Prost começou a mostrar sua competitividade na corrida de seu país. Depois de fazer a pole-position - a primeira das três conquistadas no ano - o francês venceu a corrida. Piquet foi o segundo colocado. Em San Marino, a Ferrari mostrou que poderia também incomodar os dois favoritos. René Arnoux marcou a pole diante dos ' tifosi '. Mas foi Patrick Tambay, também da escuderia italiana, que acabou na frente, depois de uma boa briga contra o italiano Riccardo Patrese, da Brabham. Enquanto isso, Prost fazia mais seis pontos com um segundo lugar e igualava Piquet na classificação.

Patrick Tambay e a Ferrari venceram em Ímola.
Niki Lauda e a McLaren não foram competitivos durante 1983.
Keke Rosberg, campeão do ano anterior pela mesma equipe que disputava o campeonato, a Williams, ganhou nas ruas do principado de Mônaco. Piquet e Prost vieram logo atrás. Na descida para o contorno da curva Mirabeau, um verdadeiro desafio de coragem aos pilotos mostrava que, para dirigir aqueles carros de quase 800 cv de potência naquelas ruas estreitas, tinha que ter muita perícia. Na Bélgica e nos EUA, Piquet acumulou mais seis pontos com dois quartos lugares, construindo o título aos poucos. Prost venceu no circuito de Spa-Francorchamps e Michele Alboreto chegou a sua segunda vitória na carreira (em um total de cinco vitórias) no circuito de rua de Detroit, com a Tyrrell.

Keke Rosberg venceu em Mônaco, feito repetido pelo seu filho, 30 anos depois.
No Grande Prêmio seguinte, o da Inglaterra, em Silverstone, uma disputa direta na pista entre Piquet e Prost confirmava que o título deveria ficar com um dos dois pilotos. Foi também na Inglaterra que uma nova equipe estreou, a Spirit, tendo como piloto o sueco Stefan Johansson. Mas o principal atrativo do time era o motor Honda, que marcava a volta da marca japonesa às competições da Fórmula 1 depois de 15 anos (a última corrida da Honda havia acontecido no GP do México de 1968, quando existiu a equipe da montadora).

Spirit 201 Honda da temporada de 1983
 Na Alemanha, quando tudo parecia dar certo para Piquet, seu motor BMW quebrou a apenas três voltas do final, quando o brasileiro ocupava a liderança e Prost era apenas o quinto colocado. Eles seguiram disputando os pontos palmo a palmo nas duas corridas seguintes. Na Áustria, Prost venceu novamente e Piquet foi o terceiro. A temporada seguia para sua parte final e o piloto da Brabham sabia que era a hora de uma reação para se manter na disputa pelo título daquele ano. Naquele momento, Prost somava 51 pontos, contra 37 acumulados por Piquet. Arnoux vinha em terceiro com 34 pontos.

E foi no GP da Holanda, em Zandvoort (uma das pistas prediletas de Piquet), que os dois pilotos puderam travar uma bela disputa direta, mas que acabou com um toque, provocado por um erro de freada de Prost, ao tentar ultrapassar o brasileiro. O incidente jogou o brasileiro para a fora da pista e causou um problema na suspensão do Renault do francês, tirando os dois pilotos da prova. Prost admitiu o erro e Piquet mesmo disse que foi uma situação de corrida, frisando seu estilo de pensar - a favor de um modo agressivo de pilotar. Ele sabia que para conseguir controlar toda a "cavalaria" daqueles potentes motores turbo eram necessárias muita perícia e uma certa dose de risco. 

A batalha pelo título de 1983 - GP da Holanda

Depois da prova inicial do campeonato, Piquet só voltou a vencer no GP da Itália, em Monza, já na fase final da temporada. Ganhou a prova também em Brands Hatch, durante o GP da Europa, e garantiu assim uma arrancada fundamental para o bicampeonato. 

GP da Itália - vitória fundamental
Regularidade e vitórias pontuais, a receita do bicampeonato.
Depois destas corridas, a Fórmula 1 foi disputar sua última etapa de 1983 na África do Sul. Como em 1981, Piquet chegava em desvantagem no quadro geral de pontos, com Prost dois pontos à frente. René Arnoux, da Ferrari, também mantinha remotas chances de título. Fazendo mais uma corrida cautelosa, Piquet manteve-se na primeira colocação durante mais da metade da corrida, até que Prost abandonasse com problemas no turbo do motor. Restava apenas ao piloto carioca chegar entre os quatro primeiros para garantir o bi. Assim sendo, Piquet economizou equipamento, deixando seu companheiro de equipe Riccardo Patrese, assumir a ponta e também Andrea de Cesaris ultrapassa-lo. Acabou a prova em terceiro lugar, suficiente para conquistar quatro pontos e terminar o Mundial à frente do seu concorrente francês. Foi a vitória de um piloto dedicado e o dia 15 de Outubro de 1983, em Kyalami, marcou o bicampeonato Mundial de Nelson Piquet - que se constituiu no quarto título do Brasil na Fórmula 1 até então - e a confirmação de que o ídolo brasileiro ainda iria trazer muito mais alegrias para os amantes do automobilismo.

Cansaço e emoção na vitória em casa, Jacarépagua.

Durante a temporada, realizando testes de pneus.
Para muitos, o lance que definiu o campeonato, Zandvoort.
Dentro de seu habitat, antes de entrar na pista.



Relato Final: Nelson Piquet Soutomayor

"Para quem começou a correr só por gosto, atraído mais pela mecânica do que pela velocidade e com mais de 20 anos de idade, até que estava me saindo melhor do que a encomenda, mais real do que qualquer sonho. Mas garanto para vocês que nunca sonhei e nem fiz planos sobre minha carreira, tudo foi acontecendo naturalmente. Foi vivendo um dia após o outro, construindo pacientemente uma carreira com dedicação de sacerdote, paciência de monge, sacrifício de iogue, entusiasmo de criança, determinação de profeta e ouvido de afinador de piano. As peças, como que fazendo parte de um Lego especial, foram se encaixando perfeitas e quando vi tinha sido Campeão do Mundo de Fórmula 1 em 1981. Na minha terceira temporada completa! Isso porque em 1980 tinha deixado escapar o título só por falta de um soprinho de vento favorável. E o dia seguinte ? - Daí para frente sou obrigado a confessar que a gente acorda e percebe que não mudou nada na vida. Se a gente quiser ir em frente tem que continuar mergulhado, fazendo cada vez melhor mais bem feito aquilo que a gente propôs a fazer. Tá certo que você fica mais rico, mais famoso, mais bonito e mais esperto, mas se descuidar isso tudo rola por água abaixo se você baixar a guarda. Foi com esse espírito de desafio que partimos para o campeonato de 1982. Em vez de ficar deitado no berço explêndido e repetir o ano com o Brabham de motor Ford, fui desenvolver o Brabham com motor BMW turbo. Foi um ano de verdadeira montanha russa, cheio de altos e baixos, de grandes apreensões, guinadas bruscas, mas também de momentos de prazer inesquecível. O trabalho em conjunto com a BMW era de total cumplicidade, como se à minha familia Brabham tivesse vindo se juntar uma outra família, parente de primeiro grau, a BMW. Como funcionou? - Foi assim dizer a minha terceira fase na Brabham. Na Fase I em 1979/1980, ainda estava me adaptando. Ia todos os dias à fábrica e fuçava tanto que o Bernie Ecclestone (dono da Brabham na época) estabeleceu um número máximo de visitas (uma) por semana. Na Fase II, em 1981, era o bom filho dedicado que fez direito a lição de casa e ganhou o campeonato. A Fase III, então, em 1982/1983, mostrou todo um jeito novo de tratar a liga. Abandonamos a estrada aparentemente mais fácil e moldamos o futuro. A recompensa veio com o primeiro campeonato do Mundo para a BMW com seu motor turbo derivado de série e o primeiro campeonato a Michelin com seus pneus radiais. Bi, e agora? - Era só constatar que depois do segundo campeonato do Mundo você se sente exatamente igual de novo. Dentro da equipe a felicidade é geral, já que o trabalho é esse mesmo em equipe, e cada um sabe que contribuiu para a vitória. Aprendi muito nas minhas três primeiras fases da Brabham onde nos tornamos uma família. Desde o Bernie, com quem aprendi muito, passando pelo Gordon Murray, com quem pensei muito, cada uns dos mecânicos com quem trabalhei muito. Tem futuro? - O trabalho estava feito, o ponto de vista tinha sido demonstrado, a Fase IV na Brabham de 1984/1985 teve a cara de uma curva descendente, com cada um dos integrantes ocupados em novos projetos. O ciclo Brabham estava se encerrando e abrindo lugar para novos ciclos que não param de surgir na Fórmula 1. A mais completa e complexa, dinâmica e diligente, espetacular e esperta, milongueira e milionária categoria que existe e, para felicidade geral, insiste."


sábado, 11 de maio de 2013

Ron Dennis - O Poderoso Chefão

O Homem que moldou Ayrton Senna

Detalhes de uma relação tensa e fraternal entre Ron Dennis e Ayrton Senna.


Ayrton Senna desembarcou na McLaren em 1988 com alguns objetivos bem claros - e arrojados. Durante os três anos que competiu pela Lotus ele provou ser um piloto acima da média com um número espantoso de poles porém seu número de vitórias não faziam justiça ao seu enorme potencial. O engenheiro Gordon Murray, o desenhista Steve Nichols conceberam o McLaren Honda MP4/4, o carro que alterou todo esse panorama. 

Ron Dennis, o homem responsável por dar a Ayrton Senna e Alain Prost a responsabilidade de pilotar esta máquina, tinha um embaraçoso desafio: manter os dois melhores pilotos do Mundo em paz e manter sua equipe harmonizada mesmo com um clima de competição acima do normal.

Nesta matéria, Ron Dennis fala um pouco das qualidades, dos defeitos, do humor, das emoções e da motivação de Ayrton Senna. "Eu não acho que o Ayrton poderia mudar nada do que aconteceu. Ele perdeu sua vida fazendo o que ele mais amava, que era pilotar carros de corrida."

Em seis anos de parceria, Ron e Ayrton tiveram uma relação quase de pai para filho.

DENNIS EM...Negociando contratos com Ayrton Senna

"Quando nós iniciamos nossas negociações para 1988, percebi que o Ayrton se preparou mentalmente para aquela situação. Ele era um autêntico negociador e poderia gastar, como em sua pilotagem, dias pensando em como ser o melhor. 
E nós chegamos a um ponto em que, para fecharmos o contrato, estávamos parados por US$ 1 milhão e meio. Isto se transformou no ponto principal para concluirmos as negociações e ficamos parados semanas por causa disto. Na essência nós sabíamos que o Ayrton iria pilotar para a McLaren e ele queria sentar em um de nossos carros, mas isso estava se tornando uma queda-de-braço para ver quem cederia primeiro. Eu pensei: ' Eu vou dar este US$ 1 milhão e meio a ele porque o queremos na McLaren '. Mas nós nos preocupamos por este adicional, não queríamos perder recursos para o desenvolvimento do carro. 
Seu inglês não era bom naquele momento até que chegamos a uma conclusão fora do comum para os brasileiros, mas muito comum para nós ingleses. Iríamos decidir a sorte numa jogada de moeda (cara ou coroa). Eu levei um tempo para explica-lo como seria resolvido nosso impasse e ele não acreditou na minha sugestão, mas eu o expliquei que isso era um ato comum na Inglaterra quando chegávamos a um impasse. Explicamos as regras e ele aceitou. 
Eu praticamente tive que desenhar a figura de uma cara e uma coroa para ele poder decidir qual era sua escolha. Quando nós achamos uma superfície perfeita para lançar a moeda, nós praticamos algumas vezes para estarmos decididos. Aquela atitude iria decidir o destino de meio milhão de dólares. 
Nós lançamos a moeda e ela rolou, rolou e parecia não decidir para qual lado cair. Quando ela bateu na parede e descansou no chão, eu vi que tinha vencido a batalha. Me lembro como se fosse hoje, decidimos ali que o seu contrato seria de três anos e decidimos o destino de US$ 1 milhão e meio. Sabendo de sua extrema capacidade de competição, não acredito que outro teria decidido o destino de US$ 1 milhão e meio em uma jogada como essa, ele teve coragem."

Cara Ou Coroa decidiu o contrato de Senna e a  McLaren
DENNIS EM...Senso de humor de Senna

"Quando ele se juntou ao nosso time ele não tinha senso de humor algum. Inicialmente começamos um processo para tentar fazer ele entender quão bom é, em alguns momentos, relaxar e aproveitar uma bela gargalhada para aliviar a tensão do final de semana. Com certeza, isso se tornou um delicioso objetivo para Gerhard Berger quando ele se juntou a nossa equipe. Piadas e brincadeiras eram costumeiros na equipe e quando o Gerhard se juntou à equipe, isso se tornou extremo.
Certa vez o Ayrton começou a encarar as brincadeiras como uma competição de quem faria algo mais engraçado e sarcástico ao outro e isso praticamente entrou no espírito de toda a nossa equipe tornando o ambiente muito bom e harmonioso. Foi um capítulo muito bom do relacionamento que o corpo diretivo, técnico e os pilotos tiveram naquela época. 
A melhor brincadeira foi quando nós estávamos na Austrália e estávamos bolando algo para ver quem faria a maior sacanagem com outro. Como sempre eu e o Gerhard vencemos. O austríaco pegou o passaporte do Ayrton sem ele saber e nós, cirurgicamente, retiramos todas as suas fotos do passaporte e colocamos fotos da principal genitália masculina no lugar de suas fotos. Nós fizemos isso com tanto cuidado que era praticamente impossível de se perceber, a não ser olhar para sarcástica imagem. 
Quando o Ayrton voltou para a Europa, ele imediatamente pegou um avião para o Brasil com escala na Argentina. Seria a primeira vez que alguém solicitaria o passaporte a ele, e olharia para a foto desde que fizemos a alteração que ele não percebeu. Ele perdeu 24 horas na Argentina porque não o deixaram entrar no país até que seu passaporte fosse retificado. Ele nunca admitiu isso para ninguém por meses. Eu e o Gerhard choramos de tanto rir."

Gerhard Berger e Ayrton Senna, relação de irmãos travessos.
DENNIS EM...Senso de competição de Senna

"O senso de competição aguçado do Ayrton o influenciou em muitos momentos de sua vida. Nós estávamos no México em 1988 e nós nos sentamos para jantar e tinha um monte de pimentas sobre nossa mesa. Ayrton me disse que ele jamais poderia comer aquilo, então eu disse: "Eu aposto com você $ 1000 que eu posso comer todo o pote de pimentas."
Obviamente, ele topou. Eu sabia claramente que aquilo não iria me matar mas iria me queimar por dentro. Então eu comecei a comer tudo bem rapidamente - antes que a química da pimenta começasse a trabalhar - , e quando as reações começassem, já estariam todas em meu estômago e eu com os $ 1000 no meu bolso. Eu comi tudo bem rápido, para a sua surpresa. Depois de ter ficado chocado, o Ayrton concordou em me pagar os $ 1000 que tinha apostado.
Depois de meia hora bebendo água eu consegui neutralizar os efeitos da pimenta. Eu tomei um pouco de vinho e pensei: ' Foram os $ 1000 mais fáceis que ganhei na minha vida '. Mas depois de um tempo, os efeitos da pimenta vieram em forma de evacuação. Eu fiquei tão mal que tive que ir administrar o desconforto com remédios fortes.
O mais importante era não admitir que estava daquele jeito por causa das pimentas. Mas todos estavam esperando o efeito retardado das pimentas em mim. Na outra manhã todos me perguntavam se eu estavam bem, se eu tinha tido problemas de evacuação por causa das pimentas, eu praticamente esqueci dos problemas quando encontrei o Ayrton e caímos nas gargalhadas com o fim de tudo isso."

Era preciso ter coragem para ganhar do Ayrton, em tudo.
DENNIS EM...Senna nos treinos classificatórios

"Eu acredito que ele era do tipo que inventou a mentalização de uma volta rápida, pensava em todas as áreas de um carro que ele precisaria controlar, e como controlar e ser mais rápido em cada volta. Ele tinha uma imensa habilidade de conseguir os resultados nas adversidades, e isso em minha opinião, é a grande diferença de um grande piloto para um bom piloto, vencer com um carro inferior. Várias vezes nós sabíamos que tínhamos um carro com pneus que não durariam muitas voltas, ou que tinha algum ponto fraco que não lhe daria boas condições de conseguir um bom resultado. Nós vivemos numa era em que os carros tinham câmbios manuais e isso significaria que você poderia danificar uma relação e que isso poderia atrapalhar sua condução porque as marchas poderiam pular ou não entrar no momento certo. Ayrton era perfeito em lidar com estes tipos de problemas e trabalhar com a adversidade. O melhor, as mais belas vitórias do Ayrton foram conseguidas com carros em adversidade."

Em 1991 Ayrton teve sérios problemas com a McLaren, tricampeonato sofrido.
DENNIS EM...Mônaco 1988

"As emoções do Ayrton estavam exaltadas após a corrida em Monte Carlo de 1988. Eu nunca tinha o visto ou escutado sobre ele estar tão frustrado ou exaltado como ele estava naquele dia. Ele sabia que tinha perdido a corrida por uma perda de concentração e que isso foi fundamental para que ele batesse na entrada do túnel. Ele não conseguia lidar com aquele erro. Ele atravessou a avenida atrás do traçado e foi para o seu apartamento e ficou por lá umas duas ou três horas até que finalmente desse sinal de vida. Mas quando ele apareceu, estava extremamente desconsertado, e muito triste com o seu desempenho e ficou se desculpando com a equipe por um bom tempo."

Um Erro que transformou o Piloto Ayrton Senna
DENNIS EM...Suzuka 1990

"Todos nós temos fraquezas e eu acho que o Ayrton tinha uma manual particular sobre este assunto que disse: ' Olho no olho, dente por dente '. Eu acho basicamente que ele estava tentando justificar o seu comportamento e que não estava muito confortável com o ocorrido mas ele estava se sentindo finalmente vingado e que seria apenas uma página virada no seu manual de fraquezas. Ele não estava muito confortável como disse, mas estava desfrutando daquele momento para pensar nos valores. Era um resultado justo ? Era a melhor forma de se conseguir o resultado ?.
Em uma conversa que desenvolvemos depois do ocorrido naquele dia, nós não estávamos percebendo que tínhamos entrado no jogo da ' vitória a qualquer custo '. Eu não acho que ele estava se sentindo orgulhoso no seu julgamento particular: foram um dos poucos momentos na McLaren em que ele não se sentia orgulhoso de uma conquista. Eu acho que no fim nem ele conseguisse explicar o que aconteceu, fora um impulso, um sentimento que veio à tona e que foi impossível de segurar."

Suzuka 1990, sentimentos confusos se seguiram após este episódio.
DENNIS EM...Senna deixando a McLaren

"Mesmo com seus amigos em particular, seu sentimento não era positivo sobre esta questão. Naquele período ele estava super desapontado por causa que seus pedidos salariais para 1993 não estavam sendo atendidos. 
O time trabalhou arduamente para encorajar os patrocinadores para conseguir mais dinheiro para suprir os pedidos do Ayrton, mas naquele ano(1993) e no anterior nós tivemos que tirar muito dinheiro da companhia para atender aos pedidos dele. Nós, literalmente, tiramos dinheiro para o desenvolvimento dos carros para atender aos pedidos salariais dele enquanto nosso maior concorrente tinha todo o dinheiro para o desenvolvimento do carro enquanto seus pilotos ganhavam relativamente pouco perante o Ayrton. 
Então, de minha parte - talvez injustamente - senti que perdemos dois anos de desenvolvimento do carro para atender as solicitações financeiras do Ayrton, e ele pôs a culpa no carro para que seus pedidos fossem elevados. E aquilo foi um processo super negativo em nossa relação. Eu tirava dinheiro do desenvolvimento do carro para dar ao Ayrton, e ele em contrapartida, colocava a culpa nos carros para pedir mais dinheiro. 
A parte positiva foi que eu entendi a sua ambição, ele queria estar sentado no melhor carro para ter as melhores condições de vitória e não aceitava ganhar menos para ter menos condições de vencer."

Sua equação: Ganhar mais + píor carro // Ganhar menos + melhor carro
DENNIS EM...Senna após a Fórmula 1

"Eu não acho que o Ayrton tinha um plano de parar mas claramente ele tinha um objetivo sobre o Brasil. Ele enfrentava longas distâncias para estar no Brasil, mesmo que somente por um ou alguns dias. 
Eu me lembro de uma longa jornada de 24 horas que ele enfrentou para estar apenas 1 dia no país. Eu lhe perguntei: ' Por que você está se desgastando tanto ? você tem algum compromisso importante ? ' e ele me respondeu que não, que queria estar no Brasil, mesmo que por um período curto. 

Quando ele comprou uma aeronave, que era um British Aerospace 125, ele costumava voar de três a quatro vezes para o Brasil. E ele não se preocupava, o importante era estar no país. 

Ele era orgulhoso de ser brasileiro e tinha muito forte em sua mente que precisava fazer algo para ajudar os mais necessitados em seu país. Ele acreditava que podia mudar o país e ele apreciava almejar algo. Mas dizia que era muito difícil mudar as coisas no país porque o limitavam, mas ele acreditava que poderia fazer algo, e realmente ele faria a diferença.

A Fundação Ayrton Senna foi uma ideia sua e não de sua irmã. Ela apenas seguiu as idéias do Ayrton e tornou realidade um sonho que ele almejava conseguir.

Ayrton Senna e o seu Brasil, patriotismo puro e amor ao seu país.
Neste 1º de Maio de 2013 completamos 19 anos de sua partida, esperamos que o legado do esportista Ayrton Senna da Silva jamais seja esquecido por seus compatriotas e que, seja no esporte ou seja na vida, possamos seguir seus exemplos. Era um ser humano, falível, com fraquezas e muitos erros, mas que antes de tudo, tinha orgulho de ser brasileiro e de desfraldar sua bandeira, além de ser um incorrigível perfeccionista, detalhista e que não aceitava perder, a vitória era o seu combustível, sua motivação. 

Bibliografia
Revista Autosport Magazine
Vol 176
Nº 4