sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Quem foi melhor? Senna ou Schumacher

Uma pergunta sem resposta

Schumacher e Senna, os maiores mitos da F1.

Várias questões na humanidade ainda estão sem respostas, como por exemplo: o que há no buraco negro na galáxia, qual é a origem do universo e o que surgiu primeiro, o ovo ou a galinha? No mundo automobilístico, uma pergunta sempre é discutida na mídia mundial: quem foi melhor, Ayrton Senna ou Michael Schumacher?

Já se passaram 17 anos desde a morte do tricampeão mundial Ayrton Senna e, infelizmente, ele morreu no meio de uma batalha contra o outro piloto em questão, Michael Schumacher. Mas por que persiste essa pergunta?

Uma das coisas que eu observei é que o objetivo principal desse questionamento é a curiosidade sobre o que teria acontecido com Michael Schumacher se Ayrton Senna tivesse sobrevivido ao acidente sofrido em San Marino. Será que ele teria superado todos os recordes da F1 com Ayrton ainda ativo? Teria Ayrton conseguido mudar o jogo em 1994? Essas perguntas decorrentes fazem parte da ilusão de que teria sido essa inesquecível batalha que os deuses do automobilismo apagaram no dia 1° de maio de 1994.


 Senna e Schumacher dividiram as pistas de 1991 até 1994.

Se analisarmos os números com frieza, Michael Schumacher é amplamente superior ao brasileiro Ayrton Senna. Mas seria justo compará-los apenas com base nos números? Eu acredito que não, pois as tecnologias eram diferentes, os carros, os adversários e as épocas também eram diferentes. Este fim de semana marcou 20 anos de carreira de Michael Schumacher na Fórmula 1, e nestas duas décadas, ele conquistou 7 títulos mundiais, 91 vitórias e 68 poles. Com um aproveitamento de 35% em títulos ao longo de 20 anos de carreira. Ayrton Senna, por sua vez, teve uma carreira relativamente curta na F1 em comparação com outras lendas, mas em uma década ele alcançou um aproveitamento de 30% em títulos. Mesmo comparando apenas os títulos, o aproveitamento de ambos é semelhante, apesar de haver uma diferença de 7 a 3.


Michael Schumacher Onboard, Adelaide 1993

Ayrton Senna Onboard, Adelaide 1993

Quanto às habilidades de pilotagem, tanto Ayrton Senna quanto Michael Schumacher foram incríveis no auge de suas carreiras. Eles eram rápidos, agressivos e ousados e não perdiam a oportunidade de uma disputa ao limite. Quem acompanhou a carreira dos dois (eu assisti a carreira de Senna de 1990 a 1994 e a carreira completa de Schumacher), percebe que Senna tinha um estilo mais arrojado e agressivo, enquanto Michael tinha uma leitura de corrida excelente, que Senna começou a ter no final de sua vida. Senna era mais espetacular e conseguia poles e vitórias dignas de um herói de Hollywood, enquanto o alemão era capaz de extrair o máximo de seu carro em poucas voltas e usar estratégias a seu favor, habilidades distintas que tornam essas duas lendas do automobilismo únicas.

GP da Europa, 1993. O Maior Show protagonizado por Ayrton Senna.

Mestria

GP da Bélgica 1995, Show de Schumacher 

Genialidade

Quanto à concorrência, Ayrton Senna teve adversários de grande qualidade, enquanto Michael Schumacher teve adversários de qualidade inferior. Senna correu contra Alain Prost, tetracampeão mundial, Nigel Mansell, campeão em 1992 e Nelson Piquet, tricampeão mundial. Schumacher teve como adversários Mika Hakkinen (bicampeão), Damon Hill (campeão em 1996), Jacques Villeneuve (campeão em 1997), David Coulthard, Juan Pablo Montoya e Rubens Barrichello. No entanto, é importante destacar que Schumacher não teve culpa de ter adversários menos talentosos. Alguns argumentam que Schumacher era tão superior aos seus adversários que fez com que eles parecessem sem importância diante de sua habilidade. Qual dos dois tem vantagem nesse aspecto é uma questão subjetiva.


No que diz respeito a paciência e trabalho em equipe, acredito que Michael Schumacher seja amplamente superior a Senna. Essas características foram cruciais para o sucesso de Schumacher, como evidenciado por sua estadia na Benetton e na Ferrari. Na Benetton, ele conseguiu criar uma equipe forte ao seu redor, unindo todos para transformar uma equipe mediana em uma equipe de ponta. Como resultado, conquistou dois campeonatos mundiais em 1994 e 1995, e a equipe ítalo-britânica conquistou o seu único título de construtores em 1995. Na Ferrari, Schumacher chegou a uma equipe caótica em 1996, mas aos poucos foi formando seu "staff", dispensando o então diretor-técnico John Barnard e trazendo Rory Byrne e Ross Brawn com quem havia trabalhado na Benetton. Ele uniu a equipe ao seu redor e sofreu quatro anos de transformações e decepções antes de finalmente conquistar o título de campeão em 2000.


                                                                    Schumacher e sua familia, méritos do alemão

O resultado da paciência e do trabalho em equipe começou a se materializar a partir de 2000. Michael Schumacher, com uma equipe unida e uma equipe técnica altamente coesa, conquistou cinco títulos mundiais consecutivos, um feito inédito na história da Fórmula 1 até então. A personalidade de Ayrton Senna era muito diferente. Ele era conhecido por ser um trabalhador dedicado e era considerado um "computador" por seus engenheiros. No entanto, Senna também era impaciente e não hesitava em criticar tanto o carro quanto a equipe quando as coisas não saíam como ele gostaria. Esse tipo de comportamento é algo que nunca foi visto em Michael Schumacher ao longo de sua carreira de 20 anos na Fórmula 1. 
 
 Ayrton Senna, ambição pelo melhor carro

 Na Lotus, Ayrton Senna estava insatisfeito com os motores turbo da Renault e os projetos de Gerard Ducarouge. Em 1987, graças aos esforços do piloto brasileiro, a Lotus conseguiu os motores Honda. No entanto, em 1988, Senna mudou-se para a McLaren.

Na equipe de Ron Dennis, ele encontrou uma equipe unida com um carro de alto nível. Senna se concentrou apenas em dirigir e "dominar" seu companheiro de equipe, Alain Prost. Devido a sua dedicação, ganhou a confiança dos técnicos japoneses da Honda e do chefe Ron Dennis. O resultado dessa combinação foi o tricampeonato e o status de melhor piloto do mundo. Em 1992, a equipe McLaren enfrentou uma decadência em relação ao novo poder da Williams. Senna começou a criticar a equipe e os motores japoneses, chegando a afirmar que correria gratuitamente na Williams, indicando claramente sua insatisfação com a McLaren e demonstando ambição de pilotar o melhor carro do grid.

Considerando todas essas questões, é difícil chegar a uma conclusão definitiva. A emoção envolvida em torno de Senna e a frieza associada ao mito alemão, tornam esta comparação injusta com Michael Schumacher. No Brasil, é quase impossível para um fã de F1 afirmar que Michael foi o melhor, o que é semelhante ao que ocorre na Argentina quando se compara Maradona com Pelé.

Particularmente, eu prefiro destacar as qualidades e fraquezas dos dois e equilibrá-las. E sempre penso o seguinte: Michael Schumacher foi o maior de todos os tempos e Ayrton Senna foi o melhor de todos os tempos. E isso sem mencionar Juan Manuel Fangio...

Vamos curtir um pouco de Senna VS. Schumacher >>>


GP da Inglaterra, 1993

GP da Africa do Sul, 1993

Schumacher chora após igualar o nº de vitórias de Senna

Matéria do Esporte Espetacular, Globo sobre o assunto




segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Coadjuvantes

Os tempos mudaram, e como mudaram...

Uma imagem vale mais do que mil palavras
Os tempos mudaram, e como mudaram. O brasileiro foi mal acostumado com esse negócio de Fórmula 1. O "triunvirato fantástico" venceu 8 títulos mundiais num espaço de 22 anos, e deixou nas mãos das gerações seguintes um fardo dificil de carregar. O papel de coadjuvante é o máximo que o piloto nacional consegue fazer, absolutamente. Falta técnica, falta personalidade, e faltou estrutura interna para fazer do automobilismo, um esporte de fato, nacional.

Enquanto o "triunvirato fantástico" encantava e ilusionava os brasileiros na entressafra de títulos mundiais no futebol, o brasileiro não se preocupou em criar um automobilismo forte, uma identidade, criar uma base que pudesse dar frutos no futuro. Talvez apostando na sorte, o Brasil deixou escapar uma grande chance de ser potência no esporte. 
A morte trágica de Ayrton Senna atrapalhou tudo, disso ninguém duvida. Rubens Barrichello assumiu um papel que ainda não era seu, em 1995, e praticamente quebrou a "ilusão" brasileira.

1995, nova era para o Brasil na F1.
Após a morte de Senna, as pressões por um substituto beiravam a loucura. Imprensa e opinião pública depositaram brutalmente em Rubens Barrichello as esperanças por um novo "herói nacional". Não bastava ser campeão mundial, tinha que ser igual ao Ayrton Senna. O Grande pecado de Rubens foi ter aceitado esse papel. Erro fatal. 

Dada munição às pressões, Barrichello sucumbiu. Sem preparação psicológica e tampouco com equipamento, Barrichello virou chacota e o Brasil começou a perder o brilho inconteste na F1. Novos pilotos foram aparecendo e sendo esmagados pelas pressões. Pedro Diniz, Ricardo Rosset, Tarso Marques, Luciano Burti entre outros não conseguiram vingar. 

Pedro Diniz, fama de pagante.
Estreou na Minardi em 95, voltou em 2001 para ser professor de Alonso.
Ricardo Rosset, vencido pela politica podre da F1.
Conforme os anos foram passando, as pressões foram aumentando. Enquanto isso, internamente, nada de proveitoso era construido. Muito pelo contrário, antigamente tínhamos um kartismo forte, com o passar dos anos, o kart foi sendo sufocado de tal forma que hoje, o kart mais parece uma mini-F1.

Chegamos no novo milênio. E uma boa mudança, tinhamos agora um piloto nacional numa equipe de ponta, a famosa Scuderia Ferrari. Barrichello foi contratado para desafiar Michael Schumacher dentro da equipe, e isso inflamou a opinião pública e a imprensa em geral. Muitos se perguntavam, Barrichello será capaz de bater Schumacher? muitos responderam que sim. O próprio brasileiro, sem ter aprendido a lição de 1995, deu mais munição aos seus detratores. "É vencer ou vencer" disse. 

Na Ferrari, Barrichello foi coadjuvante da hierarquia ferrarista.
Em cinco anos de Ferrari, Barrichello fez um bom papel. Dois vice-campeonatos, 9 vitórias e poles. Caso fosse austríaco ou uruguaio, seria considerado um herói nacional. Mas ele é brasileiro, então seu desempenho foi considerao aquém do esperado, esperado por ele se levarmos em consideração suas promessas do ano 2000. 

Seus anos de Ferrari levaram a opinião pública ao descrédito. Vencer Schumacher pareceu impossível tamanha competência do alemão. Se levarmos uma única volta, Michael era cerca de 0.2 a 0.3 mais rápido que o brasileiro. Rubens nada podia fazer a não ser tentar se aproximar do alemão, o que acabou fazendo, e digamos, com certa maestria.

Enquanto Barrichello "sofria" para bater o alemão, surgia um novo nome - Felipe Massa. As atenções da imprensa voltaram para o garoto da Sauber. Ao entrar na Ferrari em 2006, e ganhar seu primeiro GP e vencer o GP do Brasil, os holofotes se voltaram completamente para o novo elegido, seria ele o novo herói nacional?

Vencer no Brasil despertou o povão para a F1.
Em 2007, graças aos erros seus e da Ferrari, foi coadjuvanto no primeiro titulo de Kimi Raikkonen, seu então companheiro de equipe. Em 2008, o script do filme indicava que finalmente o jejum nacional iria ser quebrado. Felipe Massa estava em boa fase, e a decisão do título foi no Brasil. Mas, como decidir titulos em casa não é o nosso forte, como em 1950, o Brasil teve que amargar mais uma derrota de título mundial. O "Ghigghia" do dia se chamou Lewis Hamilton. Com uma ultrapassagem na ultima curva em cima de Timo Glock, se consagrou campeão mundial. 

Massa no pódio em Interlagos 2008, foi por pouco...
A cena de Felipe Massa chorando e batendo no peito com orgulho pela vitória mas com a dor pela perca do titulo mundial foi um prato cheio para a imprensa nacional endeusa-lo. Estava posto no altar o novo herói nacional na F1. O "midas" que tanto a opinião pública procurava. Os 30 segundos do título valeram e a esperança estava renovada.

Só que, a sina brasileira não tinha terminado. Em 2009, alteraram os artistas e carros, mas o script manteve-se o mesmo. Barrichello voltou a cena, com um cometa ( um desses carros que aparecem de 100 em 100 anos ) em mãos, Rubens tinha, talvez, a maior chance de se consagrar campeão mundial. Sem a sombra de Schumacher e com a experiência adquirida, Rubens não soube aproveitar a chance divina e sucumbiu as próprias pressões e viu seu companheiro, Jenson Button, ser campeão mundial.

O Brasileiro, calejado, não se surpreendeu com o desfecho. Sobrou para o veterano a 100a vitória do Brasil na F1, as duas vitórias e a esperança que Felipe Massa se recuperasse do acidente grave sofrido na Hungria para voltar com tudo e vencer, assim como em 2006, 2007 e 2008.

Barrichello não pode reclamar das oportunidades, elas não faltaram...
Eis que chegamos em 2010. Já se passaram quase 20 anos daquela dobradinha de Berger e Senna em Suzuka e nada de título. Felipe e Alonso agora dividiriam a Ferrari. Será Felipe capaz de lutar contra Alonso? muitos disseram que sim. Já o fizera com Raikkonen, por que não com Alonso?

Mais uma vez, a imprensa e a opinião pública foi traída pela confiança ufana. Fernando Alonso tem demonstrado ser mais, brutal, e não tem dado chances para Felipe. Todos os brasileiros ficaram espantados com a diferença entre os dois. A média tem sido entre 0.4 e 0.6 o que é enorme para os padrões F1, ainda mais numa equipe de ponta como a Ferrari. E Felipe, tampouco, consegue fazer o que Rubens fazia com Schumacher.
A incredulidade tem tomado conta da imprensa e da opinião pública. Talvez o golpe dado por Fernando Alonso tenha sido tão forte que, aparentemente, o brasileiro tem começado a se conformar com a situação do país na F1. As pressões praticamente minguaram. Dificilmente você abrirá o jornal e verá uma matéria debatendo o porquê da falta de vitórias. O golpe foi forte. 

Hockenheim 2010 - Alonso noucateia a moral de Massa.
O Brasil está sem um "norte" na F1. Rubens Barrichello em situação dificil na Williams está praticamente descartado de qualquer ambição. Felipe Massa está em pleno declínio. Bruno Senna e Lucas di Grassi sofrem por falta de apoio financeiro e nada mais. Talvez, a única luz no fim do túnel seja o nome de Felipe Nasr. O jovem brasiliense tem se destacado na F3 Inglesa e é bem empresariado - Kimi Raikkonen e Steve Robertson. 

Felipe Nasr, se souber aproveitar a luz que está se apagando, poderá aproveitar uma chance que muitos brasileiros que passaram pela F1 após a Era-Senna gostariam de ter. Com as atenções da opinião pública e imprensa em geral voltadas para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpiadas de 2016, as pressões serão próximas do zero. Nasr poderá encontrar um ambiente tranquilo para desenvolver sua carreira no ambiente cruel da F1. Qualquer "barulho" que Nasr provocar, já será lucro. Realmente, a atual situação se deve única e exclusivamente pelos desmandos do gerenciamento do automobilismo no Brasil. Resignação é o sentimento mais apropriado para o atual panorama dos brasileiros na categoria.

Ninguém espera nada, chance de ouro para se consagrar?

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Vale a Pena ver de novo

GP da Austrália
1986


Viajamos no tempo, voltamos para o dia 26 de Outubro de 1986. Um dos mais acirrados campeonatos de F1 já disputado até então terminava naquele dia com 3 pilotos disputando o título mundial. Nelson Piquet, Nigel Mansell e Alain Prost tinham chances de título. Um fim de semana quente aonde as disputas dentro da pista foi marcada pela incompetência da fabricante de pneus Goodyear que levou compostos fragéis o que acabou sendo determinante para o título mundial. Relembre a um dos mais emocionantes GPs da história da F1.

Transmissão: BBC - Inglaterra
Narrador: Murray Walker
Comentários: James Hunt

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