sexta-feira, 29 de março de 2013

O Iluminado Ayrton Senna da Silva

O dia em que o deus Senna iluminou Donington


No dia 11 de Abril completará 20 anos da maior façanha vista em uma corrida na Fórmula 1.

O céu estava encoberto e a chuva caído forte, suficiente para encharcar o asfalto do circuito de Donington Park, na Inglaterra. Cerca de 50 000 pessoas enfrentaram o mau tempo e o frio para assistir aquela que foi a única corrida realizada naquele circuito que, antes daquela prova - e até hoje - tinha sido palco de várias competições de categorias de acesso ao mais desejado campeonato de carros de corrida do Mundo.

A pole position daquele Grande Prêmio da Europa havia sido marcada em piso seco pelo piloto francês Alain Prost. Em 1993, ele competia pela equipe Williams, cujo carro representava o que de mais moderno existia em termos de tecnologia embarcada. Naquela época, era permitido por regulamento o uso das suspensões ativas e a Williams já dominava totalmente esta tecnologia, o que resultava em uma incrivel superioridade do time inglês de Frank Williams para com os demais concorrentes.

O modelo Williams de 1993 era denominado FW13C e tinha sido apelidado por Senna, que corria de McLaren Ford, de "carro de outro planeta", tamanha era a vantagem que aquele bólido ditava sobre os rivais. Os carros da Williams tinham ainda a vantagem de contar com os eficientes motores Renault v10, contra os menos potentes v8 da Ford da McLaren de Senna e Michael Andretti, seu companheiro de equipe norte-americano. O mesmo Ford v8, mas com uma especificação superior, equipava os carros da Benetton do alemão Michael Schumacher e do italiano Riccardo Patrese. 


Ayrton Senna largou na 4ª posição.

lutou contra Wendlinger e Schumacher
Schumacher ficou para trás
Damon Hill já tinha ficado para trás
Alain Prost não foi páreo
Em 1 volta, de 5º para 1º
Mas todas essas vantagens só aconteciam quando a pista apresentava boas condições. E foi na garoa e na pista molhada de Donington que Senna pôde bater o favoritismo de Prost com o seu Williams, e o melhor conjunto de Schumacher, colocando em prática toda a sua habilidade de piloto tricampeão do mundo. O brasileiro largava apenas na quarta posição. Ele tinha feito o tempo de 1'12''107, contra 1'10''458 do pole Alain Prost. Ainda a frente de Senna no grid de largada estavam Damon Hill - com o outro Williams - e Schumacher, com Benetton Ford.

Quando foi dada a largada, uma leve cortina de água levantou-se, deixando boa a visibilidade apenas para Prost que estava à frente de todos. Mas foi ai que valeu a perícia de Senna na pista molhada. Notadamente com desempenho superior aos outros pilotos neste tipo de condição, Senna não se intimidou com a perda de uma colocação para Karl Wendliger (Sauber), instantes depois da largada, caindo para a 5ª posição, e começou a superar um a um já a partir da curva Craner, a segunda depois da reta de chegada. Ali ele ultrapassou Schumacher e passou a ser o 4º colocado. Em seguida, na curva Old Hairpin, ele recuperou a posição em cima de Wendliger, indo para a 3ª posição.

Depois foi a vez de ultrapassar Damon Hill, e uma manobra bastante arriscada, colocando o carro por dentro em uma curva de alta velocidade e tendo de frear mais dentro da curva McLean's para realizar a manobra. Mesmo assim, o carro permanecia sob o controle de Senna, que já era o 2º colocado.

Senna esteve a beira da perfeição em Donington Park
Ai foi a vez de superar Alain Prost, com o seu carro todo equipado de tecnologia. Em uma manobra ainda mais ousada, ele colocou novamente seu McLaren em um espaço somente de quem tem o respeito dos mais consagrados pilotos da história sabia que poderia "dominar" aquela situação. Prost olhou o carro do brasileiro do seu lado direito na curva Melbourne Hairpin, um cotovelo, e parecia não acreditar que seria ultrapassado.

Ainda mais com o piso molhado e escorregadio que era apresentado no local. Senna acelerou fundo do meio a saída da curva, manteve o controle do carro e seguiu para concluir a primeira volta da corrida em 1º lugar. Foi uma das voltas mais emocionantes da história da categoria, onde foi possível assistir a verdadeira arte de se conduzir um carro de Fórmula 1. Um prazer que Senna sempre dava em suas apresentações.

Na mesma volta, outro piloto brasileiro fazia boa prova. Rubens Barrichello com um Jordan Hart, estava na terceira corrida na categoria. Depois de largar em 12º lugar, cruzou a primeira volta em 4º lugar. No fim, acabou abandonando a corrida.

Barrichello também brilhou em Donington Park
Lá na frente, Senna mantinha o pé direito acelerando fundo o seu McLaren. Já abria 4s245 em relação a Prost, o 2º colocado, na segunda passagem. O show de Senna continuava a ser visto. O carro McLaren #8 era constantemente colocado - ou seria melhor dizer domado? - de lado, como nos velhos tempos em que ele participava das competições de kart. 

A corrida seguia e a pista começou a secar e a formar trilho. Mesmo assim, Senna só perdeu a primeira posição na prova por duas ocasiões. A primera delas na volta 19, quando entrou nos boxes para fazer seu primeiro pit stop e colocar os pneus de seco. Prost conseguiu tomar a frente, mas apenas por alguns instantes, até quando foi também para a sua troca de pneus. Voltou a chover depois, mas Senna insistiu em manter-se na pista com os pneus de pista seca, enquanto outros competidores, como Prost, trocaram os pneus para chuva. Foi nesta hora que, por exemplo, Schumacher não conseguiu manter seu carro com pneu liso no molhado e rodou, ficando preso na brita, abandonando. 

A segunda vez que Senna não ficou na liderança foi entra as voltas 35 e 38. Prost novamente ficou à frente devido a outra parada de Senna nos boxes. Mas na volta 39, quando Prost foi fazer seu pit, Senna retomou a liderança. Mantendo um ritmo forte durante todas as voltas - que lhe rendeu também a melhor marca de volta na corrida, na 57ª passagem, com o tempo de 1'18''029, 1s350 mais rápido do que a segunda melhor, de Damon Hill, na volta 55.

Ao fim das 76 voltas, depois de 1h50min46 de corrida, Senna recebeu a bandeirada em 1º lugar, com a absurda vantagem de 1min23s199 para o 2º colocado. O brasileiro só não deu uma volta sobre o inglês da Williams, pois do 3º colocado até o 11º colocado - que foram aqueles que terminaram a prova - , todos acabaram ultrapassador pelo líder Senna durante a prova.

Ayrton Senna, 1min23s de vantagem sobre o 2º colocado.
Naquele dia nublado e de céu cinzento, só teve uma coisa que brilhou: o iluminado Ayrton Senna da Silva. Por causa de demonstrações como aquela, Senna é considerado por muitos um piloto hour concour na Fórmula 1. Se Michael Schumacher é lembrado como o maior campeão e recordista da categoria, Ayrton Senna sempre será o maior piloto, um verdadeiro deus do esporte.

O dia em que Senna assombrou o mundo da F1.

Revista Racing
Ano 7 nº 98
por Venício Zambelli

sábado, 9 de março de 2013

Ano novo com velho dilema

Brasil saindo de cena na Fórmula 1

Pela primeira vez com apenas um representante na categoria desde o ano de 1978, o país está, aos poucos, se despedindo da F1.

Felipe Massa, o único representante do Brasil na temporada 2013
               Depois da quebra de contrato entre a Marussia e Luiz Razia, a Formula 1 terá apenas um representante brasileiro na temporada - Felipe Massa. Este novo panorama demonstra cruelmente a nova (ou velha) fase do automobilismo brasileiro, o Brasil está saindo de cena da Fórmula 1.
Muitos podem dizer que o Brasil ainda possui o Grande Prêmio do Brasil em Interlagos e pode ter outro Grande Prêmio em Santa Catarina, mas o que realmente importa para os telespectadores brasileiros são compatriotas pilotando nas melhores equipes da categoria, está muito prestes a chegar ao fim.

                O automobilismo brasileiro está praticamente morto. Não possuímos nenhuma categoria de destaque em monopostos e o kartismo está com preços bastante altos afugentando promessas do automobilismo. A entidade que cuida do esporte nunca se preocupou com estes detalhes, apenas visando lucros com inscrições, carteiras e patrocínios para pequenos eventos. Muitos acusam as empresas nacionais como principais culpados pelo atual estado inerte do automobilismo nacional, mas qual empresário toparia investir seu dinheiro em um esporte aonde a principal entidade visa apenas o lucro próprio sem dar qualquer perspectiva de retorno ? Qual empresa toparia investir em pilotos que não tem aonde disputar ? A fuga dos investidores é apenas consequência da nefasta administração da CBA com o nosso automobilismo.

Bruno Senna, mesmo com investimentos nacionais, ficou sem vaga na Fórmula 1.
              Durante o programa Roda Vida da TV Cultura, numa entrevista realizada em maio de 1994, Nelson Piquet já profetizava que do jeito que o automobilismo brasileiro era gerido, num futuro próximo o automobilismo brasileiro estaria morto e que em pouco tempo não teríamos mais pilotos brasileiros na categoria.



Sábias palavras do tricampeão. Duas décadas depois vivemos a realidade de suas duras palavras. A CBA inexiste, não temos nenhum campeonato de monoposto forte, as empresas nacionais evitam investir na categoria, a outrora forte F3 Sul Americana padece e o automobilismo brasileiro sobrevive graças a Stock Car, categoria turismo estrelada por Cacá Bueno, que não leva a lugar nenhum, a Fórmula Truck, que já viveu dias melhores sob gestão do competente Aurélio Félix, morto em 2008, e dos eventos realizados no final do ano como a Corrida das Estrelas no kartódromo do Beto Carrero World. 

Em Entrevista ao programa Roda Viva de 1994 Piquet profetizou.

             O kartismo sobrevive graças a meia dúzia de heróis. Os custos são elevadíssimos e promessas do automobilismo sofrem e muitos desistem de prosseguir sua carreira. Pilotos renomados do kartismo se vêem orfãos de um programa de talentos e necessitam de ajuda para migrar para a Europa ou Estados Unidos. 

Talvez nós tenhamos perdido o "cometa" que passou pelo nosso país três vezes. Nestas três vezes, tivemos a faca e o queijo nas mãos. Com Emerson Fittipaldi vencendo dois títulos na Formula 1 e depois tendo sucesso nos Estados Unidos, com Nelson Piquet conseguindo seu tricampeonato e logo depois o aparecimento de Ayrton Senna e seu tricampeonato, o país deixou de investir, de aproveitar o otimismo gerado pelos "heróis" nas principais categorias do automobilismo, não fomentamos categorias, não criamos uma filosofia, não usamos vossas imagens, enfim, o Brasil perdeu a grande chance de se tornar a principal potência do automobilismo mundial. 



Senna e Piquet no auge, o Brasil perdeu grande oportunidade para fomentar o automobilismo.
            Sabemos que esta tarefa não seria fácil. O Brasil foi protagonista na Fórmula 1 e na Fórmula Indy em tempos dificéis de sua economia. Nos anos 70, 80 e 90, o país sofreu com inflações galopantes, governos ditatoriais, transições governamentais e investimentos incertos. Faltou criatividade de dirigentes, da mídia e de investidores.

Hoje, para que o automobilismo volte a viver dias de glórias, dependemos de outro aparecimento de um "cometa", só que, diferente de antigamente, os custos estão elevadíssimos, os investimentos são minguados e os pilotos atuais não possuem a verve necessária para lutar contra as dificuldades impostas. 

              Então, temos que nos acostumar a curtir a Fórmula 1 cada vez mais com menos brasileiros, e em um curto prazo, a curtir a categoria sem nenhum representante brasileiro. Fatalmente com isso, o interesse pela principal emissora da categoria também irá cair e aos poucos a Fórmula 1 poderá sair de cena no país. Sábias palavras de Nelson Piquet em 1994, pena que ninguém o escutou.

Felipe Massa, a única esperança do Brasil na Fórmula 1.