Muitos já perderam suas vidas, quantas mais serão necessárias para os norte-americanos tomarem uma atitude em prol da segurança?
por Cláudio Souza
@claudiosgs
Desde 1911 são disputadas provas em circuitos ovais nos Estados Unidos, e muitos pilotos perderam suas vidas em acidentes brutais ocasionados por pequenos detalhes. Toques de roda, pequena ruptura de partes do carro, erro de pilotos, são inúmeras as razões dos acidentes em ovais que acabam sendo multiplicados por x10 o perigo da morte já que os pilotos dificilmente estão abaixo dos 300km/h.
A F1, principal categoria do automobilismo mundial de carros monopostos, também sofreu muito com acidentes fatais. A categoria teve sua prova inaugural em 1950, e de lá até 2011 muitos pilotos perderam suas vidas. Lorenzo Bandini, Piers Courage, Jo Siffert, Jochen Rindt, François Cevert, Ronnie Peterson, Gilles Villeneuve, Roland Ratzemberger foram alguns dos nomes que impactaram a F1 com suas mortes, mas nenhum criou o terremoto quanto a morte do tricampeão mundial, na época o melhor piloto em atividade, Ayrton Senna da Silva.
A morte de Rindt - o único campeão póstumo da história da F1.
Roland Ratzemberger - a morte veio no trágido fim de semana de Ímola.
A Morte de Senna - um divisor de águas na categoria
Sua morte colocou a categoria em xeque e o Mundo pediu por atitudes visando a segurança. Muitas mortes já tinham acontecido e quanto mais vidas precisariam ser ceifadas para que a FIA tomasse uma atitude visando a segurança do público e dos pilotos?
Enfim, a FIA respondeu a altura da gravidade ocorrida e no mesmo ano (1994) tomou atitudes drásticas como alterações nos carros, nos pneus, macacões com proteção anti-chama, e para os anos seguintes: diminuição da potência dos motores, aumento da proteção lateral, o fortalecimento do cockpit, testes de impactos nos carros, alterações radicais em autódromos entre outras atitudes. Incrivelmente a F1 chegou a um nível de segurança jamais visto em nenhuma categoria do automobilismo mundial.
Desde o fatídico fim de semana em Ímola no ano de 1994, nunca mais houve um acidente fatal na categoria, são 17 anos sem mortes ou qualquer acidente que viesse a comprometer a vida de um piloto na categoria.
Os acidentes mais graves nesse período foram:
Michael Schumacher, Silverstone 1999: Quebrou a perna.
Olivier Panis, Montreal 1997: Quebrou as duas pernas.
Ralf Schumacher, Indianapolis 2004: Quebrou duas costelas
Robert Kubica, Montreal 2007: algumas escoriações.
Mas e a IndyCar? Nesse período em que a F1 sobreviveu sem mortes, perdemos as contas de quantas vidas foram perdidas e nenhuma atitude drástica visando a segurança foi tomada pelas entidades esportivas norte-americanas. A construção dos "soft-wall" nos circuitos ovais tem se mostrado muito pouco para um leque de riscos que a velocidade de um oval pode proporcionar.
Jeff Krosnoff perdeu sua vida em um acidente fatal durante do GP de Toronto em 1996. Em 1999, o uruguaio Gonzalo Rodriguez perdeu sua vida em um acidente inexplicável na curva saca-rolha em Laguna Seca, quando seu carro caiu de cabeça para baixo na ribanceira ocasionando o traumatismo craniano fatal no piloto.
No mesmo ano, opinião particular, um dos acidentes mais brutais da história do automobilismo, o canadense Greg Moore perdeu sua vida no último GP do ano em Fontana. Pela IndyRacing League, Scott Brayton em 1996 e Toni Renna em 2003 perderam suas vidas em acidentes no oval de Indianapolis e Paul Dana perdeu sua vida no oval de Homestead em 2006. E mais recentemente, Dan Wheldon, bicampeão das 500 milhas de Indianapolis e campeão da categoria em 2005, perdeu sua vida em um acidente no oval de Las Vegas.
A morte de Gonzalo Rodriguez em Laguna Seca.
Brutal acidente que vitimou Greg Moore em 1999
Acidente fatal de Dan Wheldon no oval de Las Vegas.
O que deixa qualquer pessoa que ama o automobilismo indignado é a falta de atitude em terras americanas quando tratam com a morte no automobilismo. Foi puramente "azar" disse o lendário Mario Andretti, dando valor ao oval de Las Vegas e tirando qualquer responsabilidade dos organizadores para com a morte do britânico. A F1 levou 44 anos para aprender a olhar para a segurança com mais afinco e dedicar-se a melhoria da categoria sempre em paralelo com o aumento da segurança dos pilotos e espectadores. Nos Estados Unidos da América, o espetáculo é colocado bem acima da segurança de quem realmente faz o espetáculo, e a morte é levada com normalidade de quem organiza o automobilismo por aquelas terras.
100 anos já parecem bastante para que as autoridades esportivas americanas tomem providências a respeito da segurança da categoria. Quão mais pilotos precisarão morrer para a segurança começar a ser levada á serio nos EUA? Creio que a morte de um ex-campeão seja impactante o suficiente para abrir os olhos para o óbvio.
Claro, os pilotos que topam correr em ovais com pequenas condições de segurança são coniventes com todas as situações que possam ocorrer dentro da pista. Os pilotos precisam se unir e reinvidicar por melhorias em segurança na categoria assim como foi feita na F1.
Que a memória de Daniel Clive Wheldon seja lembrada para sempre e que a morte se afaste cada vez mais do automobilismo norte-americano e claro, do automobilismo mundial.
Mesmo sabendo que o automobilismo é um esporte de alto risco, as chances de mortes podem ser diminuidas sim, a lição da Formula 1 está ai para ser aplaudida e copiada.
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2 comentários:
Claudio, no domingo falamos sobre esse assunto, mas revendo várias vezes o incidente, algumas coisas me chamam a atenção:
- Pilotos sem experiência para andar nesse tipo de pista, já que tem que existir confiança entre os competidores, e também, eles se ligarem que a Indy não é Nascar, mas isso deve melhorar com o novo carro;
- Muito se falou da ineficiência dos chassis Dallaras, nós inclusive, mas acho que eles, do ponto de vista de segurança, demonstraram ser muito bons, pois pelo tamanho e magnitude do acidente, se fosse em outras épocas, teríamos mais mortes, com certeza;
- Um ponto crucial, e que quase ninguém se ligou, ele morreu porque seu carro foi lançado pelo carro da Pippa Mann (visto pelo Victor Martins) e se arrastou na grade e no vão entre o softwall e o muro, onde existem as molas, espumas e vãos, e pelo jeito que o carro ficou, certeza que o santo antônio foi arrancado por esse vão e/ou pela grade. O Coulthard falou uma coisa interessante, ao invés de grades, deveriam ser colocados vidros a prova de balas, pois as grades viram navalhas nesse momento, e num monoposto isso é fatal.
A morte do Gonzalo Rodriguez foi por falha do antigo chassis da CART, pois o santo antônio era muito baixo. E no caso do caso do Paul Dana, foi infelicidade mesmo.
Uma coisa que eu acho que deveria ser melhorado nos carros da Indy e deveria ser estudado e implantado com urgência é um sistema de alerta a batidas, com algum dispositivo que cortassem o motor, diminuísse a rotação do mesmo, sei lá, algum dispositivo nesse sentido.
Ah, você esquece do Elio de Angelis, morto em teste privado em Le Castellet/Paul Ricard pela Brabham.
Parabéns pelo post.
Cláudio, lembra o que te falei sobre a segurança dos Dallara's:
http://bandeiraverde.com.br/2011/10/21/top-cinq-cinco-provas-de-seguranca-do-dallara/
Não foram pancadinhas não, só panca de respeito.
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