quinta-feira, 8 de julho de 2010

Primeiros dias da Williams

Sir Frank


Frank Williams é um dos grandes da Fórmula 1 - mas isso não foi sempre assim. O jornalista veterano Mike Doodson, que foi o único a estar presente no primeiro lançamento da Williams F1, lembra das primeiras tentativas do lendário sir Frank.

"Você se incomoda em me dizer qual foi o lançamento mais memorável de F1 a que você já assistiu?", perguntou uma beldade uniformizada no lançamento do primeiro BAR em 1999. Pensei intensamente por um momento. "Oh! Foi provavelmente um Williams", eu disse."Huum!", respondeu ela desconfiadamente. "Poucos jornalistas a quem eu perguntei nomearam a Williams como lançamento memorável. Você se lembra de quantas pessoas estavam presentes?" Respondi: "Três. Frank Williams, seu mecânico-chefe e eu."

Devo confessar que eu estava mudando a história um pouco. Verdade que houve este dia, e que foi um dia significativo na história de Frank Williams quando seu primeiro Brabham com motor Cosworth passou por um improvisado lançamento em minha presença. Mas o carro era o BT-24 que ele inscrevera nas séries Tasman para Piers Courage durante o inverno de 1968 a 1969, além do motor ser uma versão disfarçada de 2.5 litros do famoso Cosworth. Frank e seu mecânico, um neozelandês cheio de coisas chamado Johnny Muller, tinham levado o BT 24 para um teste inicial durante o fim de 1968. Acontece que eu apareci quando eles estavam tentando levantar as rodas traseiras do carro acima da beira do assoalho da van que Frank pedira emprestado para a grande ocasião. Eles apenas precisavam de uma mãozinha. Como jornalista novato na Motoring News, já estava em termos conversacionais com Frank, tendo feito a cobertura das provas de F2 nas quais Piers Courage correra com seu carro naquele ano. Mas Frank estava preparando um novo carro, o BT26, para uma mudança ascendente para corridas de Grand Prix em 1969. Agora que ele estava para embarcar numa grande aventura, estava ansioso em colocar seus planos nas páginas da imprensa. Enquanto Johnny estava ocupado fazendo pequenos ajustes no Brabham, o incipiente concorrente da F1 me convidou para almoçar com ele. Fomos para um "pub" em Bicester, onde enchi um bloco de notas com informações, enquanto comíamos sanduiches - e, para mim, uma das duas canecas de cerveja amarga (e apenas suco de laranja para Frank ).

Piers Courage foi o primeiro piloto do sir Frank, estréia na F1 em 1969 com um 2o lugar em Monte Carlo.

Quando chegou a hora de partir, apenas um de nós tinha fundos para acertar a conta, e não foi o cara que possuía o carro de F1...Foi excitante ser amigo de alguém que era ainda mais "murrinha" do que eu. (Aliás, quase sete anos mais tarde ele ainda era capaz de exibir o ocasional sinal público de sua inadequação financeira. Em 1975 em um voô de retorno de Colônia, no dia seguinte ao dia em que Jacques Laffite levara seu FW04 ao 2o lugar no GP da Alemanha em Nurburgring, Frank estava contando sobre as dezenas de milhares que este resultado significaria em economia das despesas de viagem da FOCA - e me pediu "dezão" para retirar seu Porsche do estacionamento do aeroporto de Heathrow).
Todas as histórias oficiais de Frank Williams tendem a passar por cima dos embaraços financeiros de seus anos iniciais de F1. Talvez isso seja compreensível, uma vez que aquela primeira temporada de corridas de Grand Prix, com o BT 26 em 1969, tinha produzido dois 2os lugares mágicos - um em Monte Carlo e um nos Estados Unidos, em Watkins Glen. De algum modo, pensaram todos, este novato Williams tinha demonstrado que ele poderia ter sucesso como participante de F1.

Piers Courage e o BT 26 em 1969. Um dos primeiros carros de Williams.
 
Quão errados estavam todos. O embalo conseguido pela nova equipe em 1969 foi dissipado pelo pavoroso acidente que custou a vida de Piers Courage, em Zandvoort no ano seguinte, durante o GP da Holanda. O imperturbável Frank admite ter derramado lágrimas. "Vou continuar por que este é o meu negócio", me disse, "mas jamais serei ligado a um piloto de novo." Levaria mais cinco anos antes que um dos seus pilotos retornasse ao pódio e nove anos (e a humilhação de perder sua própria equipe), antes dele celebrar sua primeira vitória. Achar o culpado para os nove magros anos e uma parada constante de atrasos que beiravam a farsa, é facil. A causa de sua quase derrocada foi ele próprio. Ao se recusar a delegar o que quer que fosse, ele era capaz de controlar (modo de falar) todos os aspectos do seu negócio. Mas ele superstimou grandemente sua habilidade de poder enfrentar a grande carga de trabalho que ele tinha se imposto. Ao tentar não apenas administrar a equipe, mas também achar todo o patrocinio e também ser o engenheiro de corrida de seus pilotos, ele se condenou a uma década de falhas e frustrações.

A mais autoritária história desse período vem de ninguém mais do que Ginny Williams, esposa do sir Frank, cujo livro sobre sua vida juntos (A different Kind of Life, 1991) foi escrito para proporcionar a ela a catarse que ela precisava depois de ajudar a cuidar de seu marido durante a crise que se seguiu seu quase acidente fatal em março de 1986. Lendo rapidamente o embaraçoso capítulo sobre as habilidades de Frank no dormitório, descobrimos quão marginal foi sua organização durante os primeiros anos.
Durante um tempo, ele estava pagando as contas do ano anterior com o patrocínio do ano seguinte. No dia em que se casaram em 1975, Frank chegou à igreja um minuto antes da cerimônia e estava de volta ao seu escritório 20 minutos depois do casório.Os conhecimentos de engenharia de Frank eram tão esparsos que um dia, Ron Tauranac (da equipe rival Brabham) chamou-o na garagem da Brabham e, por bondade, mostrou-lhe como organizar a malha de tubos de seus motores, para evitar mais uma custosa explosão de seus motores.Cada posto demandava mais dinheiro e os oficiais de justiça eram visitantes assíduos da fábrica da Williams, na propriedade industrial de Reading. As instalações tinham que ser regularmente abandonadas até que o aluguel fosse atualizado e, nessas ocasiões, Frank ia de carro até um canto meio abandonado da propriedade onde estavam duas cabines de telefone. Com um saquinho de moedas de 2 pennies, ele continuava a tocar seus negócios e levantava o dinheiro que precisava para continuar a operar sua fábrica.

José Carlos Pace e Frank Williams, no que essa dupla poderia ter resultado?


 Patrick Head e Frank Williams - A Parceria perfeita

Nada, no entanto, poderia esconder a realidade de que nos anos seguintes ao breve período de glória com Courage, Williams teria se perdido. Não eram apenas os julgamentos nas cortes regionais e o mau crédito: mecânicos irados queriam que a imprensa soubesse o quanto seus salários estavam atrasados, o que era frequente. Ao tentar apagar os incêndios de um negócio semi-falido enquanto aspirando ser um vencedor de F1, Frank estava se tornando um tolo.A F1, como esporte, estava em um estado frágil e a "linha" da Motoring News não se envolveu em fazer revelações escandalosas sobre o fraco estado das finanças de um competidor - e ele, cônscio do bem que umas linhas positivas na imprensa poderiam fazer por ele, estava sempre pronto a me fornecer novas histórias.Durante o longo período de gestação de seu primeiro Williams feito em casa, em 1972, eu costumava falar com Frank, ao telefone toda semana. Numa ocasião, ele me perguntou como deveria se chamar esse novo carro. "O que está errado com Williams-Ford?", disse. "Não posso chamá-lo Williams - isto sugere que sou importante na F1!", respondeu Frank, que na época idolatrava Ken Tyrrell, dono de equipe na categoria."Então você deverá chamá-lo simplesmente de Wancker-Ford, sugeri. E pelos meses seguintes, até conseguir dinheiro de patrocínio da fábrica italiana Politoys, o carro de Frank se tornou conhecido por nós como o Wancker. Eventualmente, em 1977, a equipe "Willy" (expressão de Frank) renasceu em termos bem mais realisticos, com Frank tendo achado um engenheiro de verdade (Patrick Head) e finalmente aprendendo como delegar. O apelido "Wancker" desapareceu no ar, depois da primeira vitória da equipe na F1, marcada por Clay Regazzoni na F1 em Silverstone, em 1979. Apenas dois anos antes, a equipe carregava débitos passara para as mãos de Walter Wolf e, agora, com oito anos de experiência adquirida duramente atrás de si, Frank estava no controle.

  Frank Williams deu a Ayrton Senna a primeira oportunidade de testar um Fórmula 1.
 
Uma das ultimas fotos de Frank Williams antes do seu brutal acidente em 1986.

Nelson Piquet foi o único brasileiro a ser campeão mundial de F1 pela Williams, em 1987.

Williams FW14B Renault de 1992, o melhor carro produzido pela equipe de sir Frank.

  Primeira Vitória da Williams, em Silverstone 1979. Transmissão: Rede Globo

Tributo a sir Frank Williams

Texto Extraído da Revista Racing 
Ano 7 - Nº 116 

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