terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O Ocaso Italiano

Itália


A Pátria de uma equipe

San Marino, 1983. Riccardo Patrese, italiano, lidera o GP de San Marino, um pequeno país encravado na Itália. Há poucas voltas do final, o italiano Patrese abandona com problemas no motor para a alegria dos torcedores italianos. Italianos?

Isso mesmo, os compatriotas do Riccardo Patrese comemoram o abandono dele porque atrás vinha um carro vermelho da italianíssima Ferrari pilotada por um estrangeiro, o francês Patrick Tambay, que acabou ganhando a corrida para a alegria dos milhares de italianos presentes.

Algo completamente impensável de ocorrer em outro país, na Itália, isso é comum. A idolatria em torno do mito Ferrari atrapalha os pilotos da "bota". Certa vez, o italiano Patrese afirmou que se, na Itália, não existisse a Ferrari, muitos pilotos italianos poderiam ter sido campeões mundiais de F1. Rancor ou verdade?

  Patrese a frente da Ferrari de Tambay, San Marino 1983.

Italiano abandona, Festa dos italianos.

A Itália sempre foi berço dos melhores kartistas e das melhores estruturas do kartismo mundial. Isso quer dizer que, não existe melhor base para um piloto profissional do que um país que tenha um kart forte, como é o caso da Itália. Os melhores pilotos de kart do mundo sonham em migrar para a Itália e dispor das melhores condições de aprendizado, competição e crescimento. Robert Kubica e Fernando Alonso são alguns exemplos práticos.

Desse mundo do kart vieram Vittantonio Liuzzi, considerado um dos melhores kartistas italianos, Giancarlo Fisichella e Jarno Trulli apenas parar citar os ultimos "oriundi" do kart para o mundo da Fórmula 1.

Logo após o anúncio da aposentadoria de Jarno Trulli, o último representante italiano, muitos lamentaram o fato do país não ter um representante pela primeira vez desde 1970. A Ferrari se preocupou e anunciou que seu programa de jovens talentos também dá oportunidades a pilotos italianos mas que não pode privilegiar apenas a nacionalidade em detrimento da capacidade do piloto. Justo.

 Alberto Ascari, o último campeão italiano de F1.

Nesses últimos anos não faltaram oportunidades para pilotos italianos na Fórmula 1. O que talvez tenha faltado mesmo seja a capacidade destes pilotos de se impor diante das dificuldades encontradas. Giancarlo Fisichella, dito por muitos como um dos mais talentosos, teve sua grande chance ao pilotar para a equipe Renault no biênio 2005/2006, porém sucumbiu diante da estrela de Fernando Alonso. Em 2007, sem a sombra do espanhol, não soube levar a equipe adiante.

Jarno Trulli apareceu muito bem pela Minardi, e depois pela Prost. Teve uma boa fase na Jordan, conseguiu uma vitória pela Renault em 2004 e depois seguiu para a Toyota. Conseguiu os melhores resultados da equipe japonesa na Fórmula 1 mas que não foi o suficiente para fazer o italiano alçar voôs maiores na categoria.

Gianmaria Bruni, Vittantonio Liuzzi, Luca Badoer e Giorgio Pantano foram os italianos que nos últimos anos tentaram algo na categoria mas passaram em vão.

 Jarno Trulli, Mônaco 2004. A última festa de um piloto italiano.

O que acontece na Itália é que toda a mídia especializada é voltada para a equipe Ferrari. A equipe faz parte da cultura italiana e lutar contra isso é praticamente impossível. Para um piloto italiano conseguir invejável atenção da mídia, suporte e atenção, é necessária que ele seja um fenômeno. O último piloto italiano que esteve em condições de ser campeão foi o saudoso Michelle Alboreto, em 1985 a bordo da Ferrari. Depois dele, o primeiro italiano a dirigir a Ferrari foi Gianni Morbidelli, na Austrália em 1991 como tampão (substituiu Prost, que fora demitido), e no ano seguinte, Ivan Capelli teve a responsabilidade de dirigir a Ferrari, já que não foi nada bem, acabou demitido no final do mesmo ano.

Após Capelli, apenas Luca Badoer em 2009 conseguiu juntar nacionalidade de piloto e equipe ao substituir o lesionado Felipe Massa. Após Luca decepcionar, foi a vez do italianíssimo Giancarlo Fisichella fazer a pátria-mãe sentir vergonha dos pilotos da casa.

 Luca Badoer, 2009. Chegar em último tirou a Ferrari do sério.

Giancarlo Fisichella, 2009. Realização de um sonho.

Os últimos pilotos italianos campeões de F1 foram Giuseppe Farina e Alberto Ascari na década de 1950. O último a vencer foi Jarno Trulli em 2004. Graças ao mito Ferrari, o piloto de corridas nascido na Itália, para se consagrar na F1 deve possuir um talento sobrenatural, independência do amor à Ferrari e um forte apelo mercantilista para poder aguçar as atenções dentro de casa para poder alçar voôs maiores fora de casa, isso é, no mundo voraz da Fórmula 1.

Para o italiano, não basta ter talento, não basta ter o melhor mercado do kartismo mundial, para competir com a Ferrari as atenções dentro de casa tem que ter o algo a mais, e esse algo a mais é que tem faltado aos pilotos italianos nos últimos 50 anos.

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Um comentário:

Anderson Lopes disse...

Belo post!

Para complementar esse assunto, vale dar uma lida no tópico do WoMotor: http://womotor.wordpress.com/2012/02/17/para-entender-a-crise-no-automobilismo-italiano/