segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Coadjuvantes

Os tempos mudaram, e como mudaram...

Uma imagem vale mais do que mil palavras
Os tempos mudaram, e como mudaram. O brasileiro foi mal acostumado com esse negócio de Fórmula 1. O "triunvirato fantástico" venceu 8 títulos mundiais num espaço de 22 anos, e deixou nas mãos das gerações seguintes um fardo dificil de carregar. O papel de coadjuvante é o máximo que o piloto nacional consegue fazer, absolutamente. Falta técnica, falta personalidade, e faltou estrutura interna para fazer do automobilismo, um esporte de fato, nacional.

Enquanto o "triunvirato fantástico" encantava e ilusionava os brasileiros na entressafra de títulos mundiais no futebol, o brasileiro não se preocupou em criar um automobilismo forte, uma identidade, criar uma base que pudesse dar frutos no futuro. Talvez apostando na sorte, o Brasil deixou escapar uma grande chance de ser potência no esporte. 
A morte trágica de Ayrton Senna atrapalhou tudo, disso ninguém duvida. Rubens Barrichello assumiu um papel que ainda não era seu, em 1995, e praticamente quebrou a "ilusão" brasileira.

1995, nova era para o Brasil na F1.
Após a morte de Senna, as pressões por um substituto beiravam a loucura. Imprensa e opinião pública depositaram brutalmente em Rubens Barrichello as esperanças por um novo "herói nacional". Não bastava ser campeão mundial, tinha que ser igual ao Ayrton Senna. O Grande pecado de Rubens foi ter aceitado esse papel. Erro fatal. 

Dada munição às pressões, Barrichello sucumbiu. Sem preparação psicológica e tampouco com equipamento, Barrichello virou chacota e o Brasil começou a perder o brilho inconteste na F1. Novos pilotos foram aparecendo e sendo esmagados pelas pressões. Pedro Diniz, Ricardo Rosset, Tarso Marques, Luciano Burti entre outros não conseguiram vingar. 

Pedro Diniz, fama de pagante.
Estreou na Minardi em 95, voltou em 2001 para ser professor de Alonso.
Ricardo Rosset, vencido pela politica podre da F1.
Conforme os anos foram passando, as pressões foram aumentando. Enquanto isso, internamente, nada de proveitoso era construido. Muito pelo contrário, antigamente tínhamos um kartismo forte, com o passar dos anos, o kart foi sendo sufocado de tal forma que hoje, o kart mais parece uma mini-F1.

Chegamos no novo milênio. E uma boa mudança, tinhamos agora um piloto nacional numa equipe de ponta, a famosa Scuderia Ferrari. Barrichello foi contratado para desafiar Michael Schumacher dentro da equipe, e isso inflamou a opinião pública e a imprensa em geral. Muitos se perguntavam, Barrichello será capaz de bater Schumacher? muitos responderam que sim. O próprio brasileiro, sem ter aprendido a lição de 1995, deu mais munição aos seus detratores. "É vencer ou vencer" disse. 

Na Ferrari, Barrichello foi coadjuvante da hierarquia ferrarista.
Em cinco anos de Ferrari, Barrichello fez um bom papel. Dois vice-campeonatos, 9 vitórias e poles. Caso fosse austríaco ou uruguaio, seria considerado um herói nacional. Mas ele é brasileiro, então seu desempenho foi considerao aquém do esperado, esperado por ele se levarmos em consideração suas promessas do ano 2000. 

Seus anos de Ferrari levaram a opinião pública ao descrédito. Vencer Schumacher pareceu impossível tamanha competência do alemão. Se levarmos uma única volta, Michael era cerca de 0.2 a 0.3 mais rápido que o brasileiro. Rubens nada podia fazer a não ser tentar se aproximar do alemão, o que acabou fazendo, e digamos, com certa maestria.

Enquanto Barrichello "sofria" para bater o alemão, surgia um novo nome - Felipe Massa. As atenções da imprensa voltaram para o garoto da Sauber. Ao entrar na Ferrari em 2006, e ganhar seu primeiro GP e vencer o GP do Brasil, os holofotes se voltaram completamente para o novo elegido, seria ele o novo herói nacional?

Vencer no Brasil despertou o povão para a F1.
Em 2007, graças aos erros seus e da Ferrari, foi coadjuvanto no primeiro titulo de Kimi Raikkonen, seu então companheiro de equipe. Em 2008, o script do filme indicava que finalmente o jejum nacional iria ser quebrado. Felipe Massa estava em boa fase, e a decisão do título foi no Brasil. Mas, como decidir titulos em casa não é o nosso forte, como em 1950, o Brasil teve que amargar mais uma derrota de título mundial. O "Ghigghia" do dia se chamou Lewis Hamilton. Com uma ultrapassagem na ultima curva em cima de Timo Glock, se consagrou campeão mundial. 

Massa no pódio em Interlagos 2008, foi por pouco...
A cena de Felipe Massa chorando e batendo no peito com orgulho pela vitória mas com a dor pela perca do titulo mundial foi um prato cheio para a imprensa nacional endeusa-lo. Estava posto no altar o novo herói nacional na F1. O "midas" que tanto a opinião pública procurava. Os 30 segundos do título valeram e a esperança estava renovada.

Só que, a sina brasileira não tinha terminado. Em 2009, alteraram os artistas e carros, mas o script manteve-se o mesmo. Barrichello voltou a cena, com um cometa ( um desses carros que aparecem de 100 em 100 anos ) em mãos, Rubens tinha, talvez, a maior chance de se consagrar campeão mundial. Sem a sombra de Schumacher e com a experiência adquirida, Rubens não soube aproveitar a chance divina e sucumbiu as próprias pressões e viu seu companheiro, Jenson Button, ser campeão mundial.

O Brasileiro, calejado, não se surpreendeu com o desfecho. Sobrou para o veterano a 100a vitória do Brasil na F1, as duas vitórias e a esperança que Felipe Massa se recuperasse do acidente grave sofrido na Hungria para voltar com tudo e vencer, assim como em 2006, 2007 e 2008.

Barrichello não pode reclamar das oportunidades, elas não faltaram...
Eis que chegamos em 2010. Já se passaram quase 20 anos daquela dobradinha de Berger e Senna em Suzuka e nada de título. Felipe e Alonso agora dividiriam a Ferrari. Será Felipe capaz de lutar contra Alonso? muitos disseram que sim. Já o fizera com Raikkonen, por que não com Alonso?

Mais uma vez, a imprensa e a opinião pública foi traída pela confiança ufana. Fernando Alonso tem demonstrado ser mais, brutal, e não tem dado chances para Felipe. Todos os brasileiros ficaram espantados com a diferença entre os dois. A média tem sido entre 0.4 e 0.6 o que é enorme para os padrões F1, ainda mais numa equipe de ponta como a Ferrari. E Felipe, tampouco, consegue fazer o que Rubens fazia com Schumacher.
A incredulidade tem tomado conta da imprensa e da opinião pública. Talvez o golpe dado por Fernando Alonso tenha sido tão forte que, aparentemente, o brasileiro tem começado a se conformar com a situação do país na F1. As pressões praticamente minguaram. Dificilmente você abrirá o jornal e verá uma matéria debatendo o porquê da falta de vitórias. O golpe foi forte. 

Hockenheim 2010 - Alonso noucateia a moral de Massa.
O Brasil está sem um "norte" na F1. Rubens Barrichello em situação dificil na Williams está praticamente descartado de qualquer ambição. Felipe Massa está em pleno declínio. Bruno Senna e Lucas di Grassi sofrem por falta de apoio financeiro e nada mais. Talvez, a única luz no fim do túnel seja o nome de Felipe Nasr. O jovem brasiliense tem se destacado na F3 Inglesa e é bem empresariado - Kimi Raikkonen e Steve Robertson. 

Felipe Nasr, se souber aproveitar a luz que está se apagando, poderá aproveitar uma chance que muitos brasileiros que passaram pela F1 após a Era-Senna gostariam de ter. Com as atenções da opinião pública e imprensa em geral voltadas para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpiadas de 2016, as pressões serão próximas do zero. Nasr poderá encontrar um ambiente tranquilo para desenvolver sua carreira no ambiente cruel da F1. Qualquer "barulho" que Nasr provocar, já será lucro. Realmente, a atual situação se deve única e exclusivamente pelos desmandos do gerenciamento do automobilismo no Brasil. Resignação é o sentimento mais apropriado para o atual panorama dos brasileiros na categoria.

Ninguém espera nada, chance de ouro para se consagrar?

3 comentários:

Fernando Cataldo disse...

O correto é Hockenhein 2010. Foi em 2010 que Alonso terminou de acabar com a carreira do Massa.

Claudio disse...

vlw pela correção, é isso mesmo!

Anderson Lopes disse...

Assim, não acho que a surra que o Alonso emprega no Massa seja por conta de o primeiro ser melhor tecnicamente que o segundo. Acho que o Massa é tão bom piloto quanto ao Alonso (IMHO, Hamilton é o melhor hoje, em atividade). Mas acho que todo o trabalho da Ferrari, é focado no Alonso, pois ele é Bi-Mundial (tenho minhas observações quanto a isso, mas expressarei em outro momento) e o mesmo é superior psicologicamente, quanto ao fato de puxar a equipe para o seu lado e fazer os seus teatrinhos.

Acho que para o Massa voltar a brigar com o pessoal da frente, ele deveria sair da Ferrari, mas hoje não tem lugar vago em equipe para estar em tal posição, talvez a Red Bull, com o decisão do Webber de se aposentar ao final do ano, apesar da equipe sinalizar com a renovação.