segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Parte 1 - O Prodígio

Ayrton Senna destacou-se logo nos seus primeiros anos de Fórmula 1, iniciando uma carreira de glórias e vitórias


1984 - Seu primeiro desafio: Toleman TG184 Hart

Não chegou a ser uma estréia auspiciosa: após oito voltas, ela foi interrompida pela quebra do turbocompressor. O Toleman TG 183B Hart, número 19, estava em 13º lugar. O jovem piloto levou o carro aos boxes, saiu do cockpit e tirou o capacete e a balaclava, sem esconder a decepção. Uma atuação que passaria desapercebida, não fosse a expectativa que aquele garoto de 24 anos já havia criado nas categorias menores. Naquele domingo, 25 de março de 1984, a maior alegria do estreante Ayrton Senna da Silva foi ter se classificado para a largada do GP Brasil à frente de seu companheiro de equipe, o venezuelano Johnny Ceccoto. Senna alinhou em 16º lugar e Ceccoto em 17º, mas o tempo do brasileiro (1'33''525) foi 1s8 mais baixo que o do companheiro. A Posição original de Senna era o 17º lugar, mas um dos pilotos à sua frente, Manfred Winkelhock, foi proibido de participar da corrida por ter recebido ajuda de seus mecânicos fora da área do pit lane. O resultado, porém, pouco importava. Entre torcedores, jornalistas, chefes de equipe e pilotos, seria dificil encontrar alguém que não apostasse em um futuro glorioso para Senna. Depois de várias conquistas internacionais, ele era visto como um futuro campeão mundial de Fórmula 1.


Mônaco 1984 - Senna fez no principado uma de suas corridas memoráveis sob a chuva

A Segunda corrida de Senna, na África do Sul, culminou com a conquista do primeiro ponto. Mas o mais importante foi que Senna percebeu a necessidade de ter um bom preparo físico. Acostumado ás corridas de kart, F-Ford e F3, que duram no máximo meia hora, Senna terminou o GP esgotado, depois de quase duas horas lutando para manter seu Toleman na pista. O abandono prematuro no Rio ocultara sua fragilidade física. Senna procurou o preparador físico Nuno Cobra e pediu-lhe um programa completo de condicionamento físico e psicológico. Seguiu-o até o fim de sua vida. 
Mais dois meses e estamos em Mônaco. Antes da largada começou uma chuva torrencial. Comissários de pista postados na reta que separa a Chicane e a curva Tabac já estão com água pelos calcanhares. É dada a largada e, logo na primeira curva, três carros batem. Senna escapa da confusão e completa a primeira volta em 9º lugar. Sem tremores, vai ultrapassando pilotos consagrados: Renê Arnoux, Elio de Angelis, Michelle Alboreto, Keke Rosberg. Nigel Mansell, que liderava, perde o controle ao passar sobre uma faixa pintada no asfalto e bate. Senna está em 3º lugar e se aproxima rapidamente de Niki Lauda, o 2º colocado. Alain Prost, o líder, tem enorme vantagem.
Já alvo de todas as atenções, Senna ultrapassa Lauda e começa a se aproximar de Prost. A chuva fica mais forte, Prost diminuiu o ritmo. Acidentes sem gravidade vão acontecendo. Ao completar a 31a volta, Senna está 7s atrás de Prost, e vinha tirando a cada volta uma diferença superior a 5s. Fica claro que a ultrapassagem é iminente, mas na 32a passagem a corrida é interrompida. Prost pará seu McLaren junto a um comissário que mostra a bandeira vermelha de interrupção. Senna, porém, continua acelerando forte e, metros adiante, cruza a linha de chegada em 1º lugar, inclusive recebendo a bandeira quadriculada. O brasileiro imagina ter vencido a corrida, mas o regulamento era claro: em caso de interrupção com bandeira vermelha, vale a classificação da volta anterior. Senna é confirmado como 2º colocado, atrás de Prost. A paralização da prova prejudica a corrida de outro jovem piloto, Stefan Bellof, da Tyrrell, que largara em último e estava em 3º lugar, andando em ritmo tão forte quanto o de Senna.
    

Ayrton comemorava a vitória, sem antes saber, que era oficialmente o 2º colocado.

 Muito se falou sobre o fato de Jacky Ickx, experiente piloto belga e naquele dia diretor do GP de Mônaco, disputar o Mundial de Protótipos pela equipe oficial da Porsche, que construía os motores TAG Turbo usados pela McLaren. Para alguns, houve favorecimento. Para outros, a chuva atingiu niveis perigosos e não havia sentido em arriscar mais. Ickx, considerado um dos pilotos mais inteligentes e de caráter mais firme entre os que já correram na Fórmula 1, não polemizou: "Preferi parar a corrida cedo demais a correr o risco de fazê-lo tarde demais".
Em agosto, Senna assinou contrato com a Lotus para três temporadas seguintes. O anúncio oficial deveria acontecer no final do ano, mas foi feito durante o GP da Holanda. Sentindo-se lesada por Senna, a Toleman suspendeu-o no GP seguinte, na Itália, por quebra de contrato. As duas partes chegaram a um acordo e o brasileiro voltou ao volante para as duas últimas corridas. No encerramento, em Portugal, terminou em 3º lugar.


Entre 1985 e 1987, Senna pilotou para a lendária Lotus, conquistando 16 poles e 6 vitórias.

 A Primeira temporada de Senna na F1 superou as expectativas. O único ponto baixo ocorreu no GP de San Marino, em maio, no qual o brasileiro não conseguiu se classificar para a largada. Foi a única vez que isso aconteceu na sua carreira na categoria.
No final de 1984, Senna contraiu  uma virose que chegou inclusive a deixá-lo com um lado da face paralisado. Ele só pôde andar em seu novo carro em janeiro de 1985, durante os testes das principais equipes no autódromo de Jacarepaguá.
Mais uma vez, o GP do Brasil não foi feliz para Senna: ocupava o 4º lugar, atrás de seu companheiro na equipe Lotus, Elio de Angelis, quando abandonou devido a uma pane elétrica. Na corrida seguinte, viria o acontecimento tão esperado: sob forte chuva, Senna venceu o GP de Portugal de ponta a ponta, depois de largar na pole-position (a primeira das 65 que conquistara na F1) e fazer a melhor volta da prova. Ao receber a quadriculada, ficou tão empolgado que tirou o pé do acelerador, perdendo velocidade bruscamente. A nuvem de água levantada pelos pneus prejudicava a visibilidade de quem estava atrás e Nigel Mansell, retardatário, precisou desviar para a grama para evitar uma batida no carro do brasileiro.
Nessa época, o regulamento limitava a capacidade dos tanques de combustível a 220 litros e os reabastecimentos eram proibidos. Senna liderou várias corridas e teve atuações memoráveis - que terminavam duas ou três voltas do final, com o carro sem gasolina. Algumas quebras e acidentes também atrapalharam. Senna conseguiu sete poles mas só voltou a marcar pontos no GP da Áustria, quatro meses depois da vitória em Portugal. Venceu mais uma corrida na Bélgica. Terminou o campeonato em 4º lugar. No final do ano, Senna afirmou: "Eu preferia ter vencido sete corridas em vez de fazer sete poles".


A Primeira Vitória - Com a Lotus 97T Renault venceu sob forte chuva o GP de Portugal em 1985.

Para 1986, Senna teria um novo companheiro de equipe, o escocês Johnny Dumfries. Apesar de ter sido campeão inglês de F3, não era um piloto no nível do brasileiro. A Lotus quis contratar o inglês Derek Warwick, mas Senna vetou alegando que, se quisesse disputar o título, a equipe teria que dar atenção total a apenas um piloto.
Senna fez a pole no GP do Brasil, compondo a primeira fila com Nelson Piquet. Na bandeirada, deu a ordem inversa. A corrida seguinte, na Espanha, teve uma vitória épica de Senna. Ele fez a pole e liderou até ser ultrapassado por Mansell. Recuperou a liderança e, após algumas mudanças de posição, Mansell chegou em Senna na última volta. Os dois carros cruzaram a linha de chegada separados por apenas 0s14, com Senna apenas meia roda à frente.
O Grande momento de Senna em 1986 foi a vitória em Detroit. Menos pela corrida em si e mais pelas circunstâncias: ele chegou em 1º, à frente de dois franceses, Jacques Laffite e Alain Prost, apenas um dia depois de a seleção brasileira de futebol ser eliminada pelo time francês na Copa do Mundo, no México. Foi a primeira vez que Senna fez a volta de honra segurando uma bandeira brasileira. Ele se manteve na luta pelo título com Piquet, Prost e Mansell até o GP de Portugal, antepenúltimo do ano. Terminou o campeonato novamente em 4º lugar.


O Relacionamento vitorioso com a Honda começou em 1987. Neste ano ele pilotou o Lotus 99T Honda.

Para a temporada de 1987, a Lotus teria motor Honda substituindo os Renault. Senna tinha muitas esperanças de chegar ao título mundial. Mas suas maior alegria seria vencer pela primeira vez o GP de Mônaco - uma corrida que estava entalada em sua garganta desde 1984. Senna venceu também em Detroit, onde repetiu o gesto do ano anterior e pegou uma bandeira do Brasil após receber a quadriculada.
Na metade da temporada, o ambiente entre Senna e a Lotus estava deteriorado. O brasileiro fez gestões junto à Honda para acompanhá-lo em 1988 em uma nova equipe, que acabou sendo a McLaren. A parceria com a Lotus terminou com um 2º lugar na Austrália (ele fora desclassificado da prova posteriormente por irregularidades técnicas) e um 3º lugar no Mundial de Pilotos. 




  A Primeira Vitória em Mônaco veio em 1987. 

Os Resultados de Senna entre 1984 - 1987

1984 - Toleman  TG183B / TG 184 Hart - 9º Lugar (13 pontos) - melhor resultado: 2º lugar no GP de Mônaco
1985 - Lotus 97T Renault - 4º lugar (38 pontos) - melhor resultado: 2 vitórias nos GPs de Portugal e Bélgica
1986 - Lotus 98T Renault - 4º lugar (55 pontos) - melhor resultado: 2 vitórias nos GPs da Espanha e Detroit
1987 - Lotus 99T Honda - 3ºlugar (57 pontos ) - melhor resultado: 2 vitórias nos GPs de Mônaco e Detroit

Alguns vídeos


Créditos

Revista Racing - http://racing.terra.com.br/
Texto de Luiz Alberto Pandini
Fotos - www.google.com.br/images
Texto retirado da revista nº 142, ano 8.


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