O Trágico acidente em Ímola acabou com a vida de Ayrton Senna, mas mitificou para sempre o piloto brasileiro
Ayrton Senna dificilmente sorriu nos seus momentos dificéis na Williams. Foto: Aida 1994
Era impossivel não apostar em Ayrton Senna como favorito absoluto ao título mundial de Fórmula 1 de 1994. Alain Prost, o último dos grandes adversários, havia anunciado o fim de sua carreira como piloto. A Williams era a equipe dominante e ninguém duvidava que ela manteria essa posição.
Dentro da Williams, Senna reinaria tranquilo. Ninguém cogitava que Damon Hill seria capaz (ou mesmo que teria permissão) de travar com Senna uma disputa como aquelas que o brasileiro tivera com Prost nos tempos de McLaren. O que mais se especulava: "Quantas corridas Senna vai vencer?". Sem exagero, pode-se dizer que 90% dos palpites, publicados ou não, apostavam que Senna ganharia 10 ou 12 corridas em 1994. Houve quem apostasse que ele seria campeão mundial invicto.
Como nos anos anteriores, Senna saiu de seu carro após a última corrida e não fez qualquer teste até o final de 1993. Mas desta vez havia razões mais fortes que sua vontade. Primeiro, ele só estaria liberado de seu contrato com a McLaren a partir do dia 31 de dezembro. Segundo, a Williams estava trocando de patrocinadores (Canon e Camel dando lugar à Rothmans, um processo que não chegou a ser dos mais amistosos) e não fez qualquer atividade promocional ou de pista até dezembro. Terceiro, e certamente mais importante, a equipe de Senna precisaria finalizar o projeto do novo modelo, denominado, FW16.
Williams FW16 Renault - O Grande sonho se tornou em um pesadelo
Pelo novo regulamento da FIA, estavam proibidas as suspensões ativas, os controles de tração e de largada, a telemetria CVT (Controle variável de Transmissão, que possibilita ajuste infinito da melhor relação de câmbio e fora testada pela Williams no segundo semestre de 1993), quatro rodas direcionais (experimentadas sem sucesso pela Benetton nas duas ultimas corridas em 1993) e sistemas anti-travamento de freios ABS. Essas medidas tinham como objetivo diminuir custos, aumentar a segurança (alguns acidentes haviam ocorrido em 1993 por falhas ou má programação dos sistemas eletrônicos) e valorizar o controle do piloto sobre o automóvel. Para acrescentar um elemento de indefinição nas disputas, a FIA liberou os reabastecimentos durantes as corridas - eles estavam proibidos desde o começo da temporada de 1984.
Outra esperança da FIA foi de que as novas regras diminuissem a diferença de competitividade entre a Williams e as demais equipes. Como o time inglês era o que mais se beneficiava dos sistemas eletrônicos em seus carros, havia certa expectativa de que a proibição dos mesmos traria novamente um certo equilibrio à F1. No fundo, mais especulação e torcida do que qualquer outra coisa. Ao fazerem seus prognósticos, poucos levaram a sério a hipótese de que a Williams deixaria de ser a favorita.
Ayrton Senna/Williams Renault
Após completar os primeiros testes com o novo Williams FW16, Senna não transmitia grande otimismo em suas declarações. Ele previa uma temporada muito dificil e disputada e deixava claro que o novo Williams poderia não ser tão imbatível assim. Mencionava a traseira do Williams (que usava o semi-eixo como suspensão, eliminando os triângulos superiores e as barras de regulagem) como um ponto a ser desenvolvido no novo carro. Outra reclamação de Senna era a falta de espaço no cockpit: "Se engordar 1 kg eu não conseguirei entrar", dizia.
Duas semanas antes do GP do Brasil, que abriria a temporada, praticamente todas as equipes fizeram testes em Ímola. Nos primeiros dias, tudo correu dentro do esperado, com Senna sendo o mais rápido. No último dia, uma surpresa: Michael Schumacher e a Benetton-Ford cravaram o melhor tempo da semana. Esboçava-se a possibilidade de haver um adversário para Senna.
Grande Prêmio do Brasil. Correndo em casa, Senna era o grande favorito. Conquistou a pole, mas teve em Michael Schumacher um duro adversário, que fustigou o brasileiro em todos os treinos e ficou em 2º lugar no grid.
Durante a prova, Schumacher tomou a ponta após um reabastecimento. Havia uma expectativa de que o brasileiro descontasse a diferença na pista, mas o que se via era o Benetton aumentando esta diferença. Após mais uma parada para reabastecimento, Senna começou a tirar um pouco a vantagem de Schumacher. A 16 voltas do final, estava cerca de 6s do alemão, quando rodou na Curva da Junção ao acelerar demais na hora em que as rodas do Williams ainda estavam esterçadas. Senna fez menção de voltar à corrida, mas o motor apagou.
No Brasil, Senna conquistou a pole...
...mas rodou na busca de Michael Schumacher, 10 a 0 para o alemão.
A Corrida seguinte seria o GP do Pacífico, no circuito de Aida. Mais uma vez, Senna e Schumacher disputaram a pole. O Brasileiro alinhou em 1º lugar, mas sua corrida acabou na primeira curva. Um toque por trás de Mika Häkkinen fez Senna rodar e ficar atravessado na pista. Nicola Larini, que substituia Jean Alesi na Ferrari, não teve como desviar e acertou a lateral do brasileiro - de leve, mas o suficiente para impedir que os dois carros continuassem na corrida. Schumacher vencia mais uma vez e abria 20 a 0 na sua batalha contra Ayrton Senna.
Ao chegar a Ímola para a terceira prova, Senna não parecia tenso nem amargurado. Tudo mudou quando Rubens Barrichello sofreu forte acidente pouco depois de decorridos 15 min da sessão classificatória de sexta-feira. Preocupado com o colega, Senna foi ao ambulatório do circuito para obter notícia, mas foi barrado em uma cerca. Pulou-a, chegou ao ambulatório e constatou que, apesar de levemente ferido, Barrichello estava em boas condições de saúde e não corria perigo de vida.
Sábado, segunda sessão classificatória. Os monitores de TV mostram um carro rodando após bater no muro da Curva Villeneuve. Era o austríaco Roland Ratzemberger, um novato que corria pela pequena equipe Simtek. O carro estava destruído e tinha um buraco na lateral, o que denunciava a força do impacto. Era possível ver que Roland estava desacordado e manchas de sangue na pintura branca e vermelha do seu capacete. Ratzemberger foi retirado do carro, submetido a massagem cardíaca no meio da pista e levado de helicóptero ao Hospital Maggiore, em Bolonha. Uma hora depois do fim dos treinos, é anunciada a morte de Roland Ratzemberger. Dai em diante, Senna se fecha e não dá mais entrevistas.
Sexta-Feira: Rubens Barrichello espatifa seu Jordan e se machuca levemente perto da gravidade do acidente.
Sábado: Roland Ratzemberger arrebenta o Simtek na Curva Villeneuve, 1h depois é anunciado morto.
Sábado: Desolado com a morte de Roland, Senna chora conversando com Dr. Sid Watkins e revela desejo de não correr.
No domingo, antes da corrida, Senna estava tenso e com fisionomia séria. Na hora da largada, o Benetton de JJ Lehto fica parado no grid e é acertado pelo Lotus de Pedro Lamy. Um pneu do Lotus voa em direção à arquibancada e fere algumas pessoas. O safety-car entra na pista e fica na frente do pelotão durante cinco voltas, tempo necessário para limpar os destroços da batida.
Na sexta volta, a corrida recomeça. Senna está cerca de 0s5 à frente de Schumacher. Abre a sétima volta, mas logo depois sai da pista na Curva Tamburello e bate no muro de proteção. O carro destruído volta a e fica na beira do acostamento, próximo à pista. Senna não sai do carro. Alguns bandeirinhas se aproximam mas não encostam no piloto. Chegam ambulâncias, carros de serviço, médicos e helicóptero. Senna é removido do carro, sempre com o rosto coberto, e colocado no chão, onde recebe atendimento médico. Em seguida, é removido para o helicóptero que o levará ao Hospital Maggiore. Uma enorme poça de sangue no piso claro do acostamento denuncia a gravidade do estado do piloto.
Domingo: 7a Volta, Ayrton entra na Tamburello...
...seu carro segue reto e se espatifa na Tamburello...
...o socorro levou cerca de 1''40 para chegar ao local do acidente.
As notícias começam a ser divulgadas longe dali, no hospital. E elas não são animadoras. Os primeiros comunicados do hospital dão conta da gravidade do estado de saúde do piloto e que ele está em coma profundo. Cerca de três horas depois do acidente, é comunicada a morte cerebral. "Não há mais esperanças. Mantemos Senna vivo porque a lei assim exige.", explicou a Dra. Maria Teresa Flandri, do hospital Maggiore, em Bolonha. Às 19h54min (horário da Itália), é feito o comunicado oficial: o coração de Ayrton Senna da Silva havia parado de bater às 18h40min. Certamente nenhuma das mortes na categoria foi tão traumática quanto a de Senna.
Naquele momento, morreu o piloto. Mas, no mesmo instante, encerrou-se uma história que deu origem a um mito. Para os seus fãs, Ayrton Senna nunca morrerá. Ele estará vivo por meio da saudade e das lembranças de seus melhores momentos nas pistas de Fórmula 1.
O Respeito dos Rivais: Alain Prost e outros pilotos carregaram o caixão do Tricampeão.
Na Williams, foram 3 corridas, 3 poles e 3 abandonos.
"O Dia que chegar, chegou. Pode ser hoje, ou daqui a 50 anos. A única coisa certa é que ela vai chegar. "
Ayrton Senna.
Alguns vídeos
Créditos
Revista Racing - http://racing.terra.com.br/
Texto de Luiz Alberto Pandini
Fotos - www.google.com.br/images
Texto retirado da revista nº 144, ano 8.
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