quinta-feira, 30 de maio de 2013

O 1º Rei da Era Turbo

Nelson Piquet, Bicampeão Mundial


Piquet faturou o bi em 1983 e foi o primeiro campeão com motor turbo.

Ao conquistar o bicampeonato mundial em 1983, Nelson Piquet inaugurou a fase dos campeões da era turbo. O título foi conseguido com o modelo Brabham BT52 equipado com motor BMW de quatro cilindros. Depois de alguns anos de resistência, os propulsores aspirados não conseguiram acompanhar a potência e a força do novo componente mecânico. O resultado foi um grande equilíbrio entre as equipes de ponta da época, gerando muitas disputas por posições durante as corridas. As provas da competitividade foram as vitórias de vários pilotos nos Grandes Prêmios da temporada. No total de 16 corridas do campeonato, oito diferentes pilotos vencedores. 

Mas a verdadeira disputa ficou mesmo entre Nelson Piquet e Alain Prost, que corria naquela época pela equipe Renault, com motor da mesma marca ( v6 turbo ). O piloto francês iniciava a sua saga de lutas contra pilotos brasileiros - anos mais tarde ele viria a disputar outros títulos com o próprio Piquet (vencendo-o em 1986) e também contra Ayrton Senna (1988,1989 e 1990).

Alain Prost, o rival na disputa do bicampeonato.
Os pit stops foram muito importantes na temporada de 1983. Exploradas de maneira diferente de hoje em dia - onde são feitas sob critérios bastante rigorosos - as paradas nos boxes envolviam, além da troca de pneus, o reabastecimento, mas apenas uma vez por corrida. Mesmo assim, a agilidade no trabalho realizado pelos mecânicos conseguia descontar ou somar tempo importante pera o resultado de pista. E este foi um dos trunfos de Nelson Piquet. A equipe Brabham sempre conseguiu fazer boas marcas de pit stop, devolvendo o brasileiro rapidamente ás pistas. O tempo de uma parada ficava em torno de 14s a 16s , mas o time de Bernie Ecclestone terminava o serviço na faixa dos 11s - tempos bem diferentes dos atuais.

Como em seu primeiro título, Piquet teve muito trabalho durante a temporada. Contando a vitória na etapa da abertura no Rio de Janeiro, o piloto da Brabham #5 fez uma temporada regular, somando pontos em dez corridas das 16 realizadas. A festa do público no circuito de Jacarépagua após o 1o lugar de Piquet no GP do Brasil mostrava que o país já repartia de igual para igual suas emoções entre o futebol e a Fórmula 1.

vitória no GP do Brasil em 1983

Nas ruas de Long Beach, nos EUA, um problema no acelerador tirou Piquet da prova. John Watson com McLaren TAG, venceu sua única corrida no ano. O circo seguiu para a Europa e Alain Prost começou a mostrar sua competitividade na corrida de seu país. Depois de fazer a pole-position - a primeira das três conquistadas no ano - o francês venceu a corrida. Piquet foi o segundo colocado. Em San Marino, a Ferrari mostrou que poderia também incomodar os dois favoritos. René Arnoux marcou a pole diante dos ' tifosi '. Mas foi Patrick Tambay, também da escuderia italiana, que acabou na frente, depois de uma boa briga contra o italiano Riccardo Patrese, da Brabham. Enquanto isso, Prost fazia mais seis pontos com um segundo lugar e igualava Piquet na classificação.

Patrick Tambay e a Ferrari venceram em Ímola.
Niki Lauda e a McLaren não foram competitivos durante 1983.
Keke Rosberg, campeão do ano anterior pela mesma equipe que disputava o campeonato, a Williams, ganhou nas ruas do principado de Mônaco. Piquet e Prost vieram logo atrás. Na descida para o contorno da curva Mirabeau, um verdadeiro desafio de coragem aos pilotos mostrava que, para dirigir aqueles carros de quase 800 cv de potência naquelas ruas estreitas, tinha que ter muita perícia. Na Bélgica e nos EUA, Piquet acumulou mais seis pontos com dois quartos lugares, construindo o título aos poucos. Prost venceu no circuito de Spa-Francorchamps e Michele Alboreto chegou a sua segunda vitória na carreira (em um total de cinco vitórias) no circuito de rua de Detroit, com a Tyrrell.

Keke Rosberg venceu em Mônaco, feito repetido pelo seu filho, 30 anos depois.
No Grande Prêmio seguinte, o da Inglaterra, em Silverstone, uma disputa direta na pista entre Piquet e Prost confirmava que o título deveria ficar com um dos dois pilotos. Foi também na Inglaterra que uma nova equipe estreou, a Spirit, tendo como piloto o sueco Stefan Johansson. Mas o principal atrativo do time era o motor Honda, que marcava a volta da marca japonesa às competições da Fórmula 1 depois de 15 anos (a última corrida da Honda havia acontecido no GP do México de 1968, quando existiu a equipe da montadora).

Spirit 201 Honda da temporada de 1983
 Na Alemanha, quando tudo parecia dar certo para Piquet, seu motor BMW quebrou a apenas três voltas do final, quando o brasileiro ocupava a liderança e Prost era apenas o quinto colocado. Eles seguiram disputando os pontos palmo a palmo nas duas corridas seguintes. Na Áustria, Prost venceu novamente e Piquet foi o terceiro. A temporada seguia para sua parte final e o piloto da Brabham sabia que era a hora de uma reação para se manter na disputa pelo título daquele ano. Naquele momento, Prost somava 51 pontos, contra 37 acumulados por Piquet. Arnoux vinha em terceiro com 34 pontos.

E foi no GP da Holanda, em Zandvoort (uma das pistas prediletas de Piquet), que os dois pilotos puderam travar uma bela disputa direta, mas que acabou com um toque, provocado por um erro de freada de Prost, ao tentar ultrapassar o brasileiro. O incidente jogou o brasileiro para a fora da pista e causou um problema na suspensão do Renault do francês, tirando os dois pilotos da prova. Prost admitiu o erro e Piquet mesmo disse que foi uma situação de corrida, frisando seu estilo de pensar - a favor de um modo agressivo de pilotar. Ele sabia que para conseguir controlar toda a "cavalaria" daqueles potentes motores turbo eram necessárias muita perícia e uma certa dose de risco. 

A batalha pelo título de 1983 - GP da Holanda

Depois da prova inicial do campeonato, Piquet só voltou a vencer no GP da Itália, em Monza, já na fase final da temporada. Ganhou a prova também em Brands Hatch, durante o GP da Europa, e garantiu assim uma arrancada fundamental para o bicampeonato. 

GP da Itália - vitória fundamental
Regularidade e vitórias pontuais, a receita do bicampeonato.
Depois destas corridas, a Fórmula 1 foi disputar sua última etapa de 1983 na África do Sul. Como em 1981, Piquet chegava em desvantagem no quadro geral de pontos, com Prost dois pontos à frente. René Arnoux, da Ferrari, também mantinha remotas chances de título. Fazendo mais uma corrida cautelosa, Piquet manteve-se na primeira colocação durante mais da metade da corrida, até que Prost abandonasse com problemas no turbo do motor. Restava apenas ao piloto carioca chegar entre os quatro primeiros para garantir o bi. Assim sendo, Piquet economizou equipamento, deixando seu companheiro de equipe Riccardo Patrese, assumir a ponta e também Andrea de Cesaris ultrapassa-lo. Acabou a prova em terceiro lugar, suficiente para conquistar quatro pontos e terminar o Mundial à frente do seu concorrente francês. Foi a vitória de um piloto dedicado e o dia 15 de Outubro de 1983, em Kyalami, marcou o bicampeonato Mundial de Nelson Piquet - que se constituiu no quarto título do Brasil na Fórmula 1 até então - e a confirmação de que o ídolo brasileiro ainda iria trazer muito mais alegrias para os amantes do automobilismo.

Cansaço e emoção na vitória em casa, Jacarépagua.

Durante a temporada, realizando testes de pneus.
Para muitos, o lance que definiu o campeonato, Zandvoort.
Dentro de seu habitat, antes de entrar na pista.



Relato Final: Nelson Piquet Soutomayor

"Para quem começou a correr só por gosto, atraído mais pela mecânica do que pela velocidade e com mais de 20 anos de idade, até que estava me saindo melhor do que a encomenda, mais real do que qualquer sonho. Mas garanto para vocês que nunca sonhei e nem fiz planos sobre minha carreira, tudo foi acontecendo naturalmente. Foi vivendo um dia após o outro, construindo pacientemente uma carreira com dedicação de sacerdote, paciência de monge, sacrifício de iogue, entusiasmo de criança, determinação de profeta e ouvido de afinador de piano. As peças, como que fazendo parte de um Lego especial, foram se encaixando perfeitas e quando vi tinha sido Campeão do Mundo de Fórmula 1 em 1981. Na minha terceira temporada completa! Isso porque em 1980 tinha deixado escapar o título só por falta de um soprinho de vento favorável. E o dia seguinte ? - Daí para frente sou obrigado a confessar que a gente acorda e percebe que não mudou nada na vida. Se a gente quiser ir em frente tem que continuar mergulhado, fazendo cada vez melhor mais bem feito aquilo que a gente propôs a fazer. Tá certo que você fica mais rico, mais famoso, mais bonito e mais esperto, mas se descuidar isso tudo rola por água abaixo se você baixar a guarda. Foi com esse espírito de desafio que partimos para o campeonato de 1982. Em vez de ficar deitado no berço explêndido e repetir o ano com o Brabham de motor Ford, fui desenvolver o Brabham com motor BMW turbo. Foi um ano de verdadeira montanha russa, cheio de altos e baixos, de grandes apreensões, guinadas bruscas, mas também de momentos de prazer inesquecível. O trabalho em conjunto com a BMW era de total cumplicidade, como se à minha familia Brabham tivesse vindo se juntar uma outra família, parente de primeiro grau, a BMW. Como funcionou? - Foi assim dizer a minha terceira fase na Brabham. Na Fase I em 1979/1980, ainda estava me adaptando. Ia todos os dias à fábrica e fuçava tanto que o Bernie Ecclestone (dono da Brabham na época) estabeleceu um número máximo de visitas (uma) por semana. Na Fase II, em 1981, era o bom filho dedicado que fez direito a lição de casa e ganhou o campeonato. A Fase III, então, em 1982/1983, mostrou todo um jeito novo de tratar a liga. Abandonamos a estrada aparentemente mais fácil e moldamos o futuro. A recompensa veio com o primeiro campeonato do Mundo para a BMW com seu motor turbo derivado de série e o primeiro campeonato a Michelin com seus pneus radiais. Bi, e agora? - Era só constatar que depois do segundo campeonato do Mundo você se sente exatamente igual de novo. Dentro da equipe a felicidade é geral, já que o trabalho é esse mesmo em equipe, e cada um sabe que contribuiu para a vitória. Aprendi muito nas minhas três primeiras fases da Brabham onde nos tornamos uma família. Desde o Bernie, com quem aprendi muito, passando pelo Gordon Murray, com quem pensei muito, cada uns dos mecânicos com quem trabalhei muito. Tem futuro? - O trabalho estava feito, o ponto de vista tinha sido demonstrado, a Fase IV na Brabham de 1984/1985 teve a cara de uma curva descendente, com cada um dos integrantes ocupados em novos projetos. O ciclo Brabham estava se encerrando e abrindo lugar para novos ciclos que não param de surgir na Fórmula 1. A mais completa e complexa, dinâmica e diligente, espetacular e esperta, milongueira e milionária categoria que existe e, para felicidade geral, insiste."


Um comentário:

Anônimo disse...

2:40 do vídeo. Olha a zona que é box. Veja que um cara vem correndo de costas e é cai após bater no Cheever (que está saindo sem conseguir ter feito seu pit).

Abs. Bruno Braz.