domingo, 1 de maio de 2011

17 anos sem Ayrton Senna

Ayrton Senna  e sua
Arte de Pilotar

O estilo de pilotagem de Senna marcou época na F1.

As ruas de Monte Carlo testemunharam um acontecimento histórico naquela tarde de 14 de maio de 1988. Com seu McLaren branco e vermelho, Ayrton Senna registrava uma sequência incrivel de voltas rápidas, batendo sucessivamente o recorde da pole position para o circuito. Enquanto Ron Dennis sorria satisfeito do muro dos boxes, o rival Alain Prost observava tudo com cara de espantado e balançava a cabeça. Após colocar quase 1s5 de vantagem em relação sobre o francês e mais de 2s5 de vantagem em relação aos outros pilotos, Senna desacelerou subitamente e foi para os boxes.

Em uma entrevista posterior, o brasileiro afirmou ter entrado em uma espécie de transe, no qual o circuito todo se transformara em um túnel, ele se fundira junto com o carro e, assim, pode andar mais e mais rápido. Até que um estalo o fez perceber que estava guiando de forma quase inconsciente e isto o encheu de medo. Senna não voltou mais à pista naquele dia.

Ayrton Senna Onboard em Mônaco, 1990.

Ao encontrar uma explicação metafísica para sua performance, o piloto acabou sendo extremamente injusto consigo mesmo. O que ocorreu naquele sábado foi a conjunção máxima de toda a habilidade que Ayrton Senna possuía: a concentração extrema, a capacidade de chegar muito próximo do limite sem extrapola-lo, a técnica de manter o regime de rotação sempre alto para uma melhor retomada de aceleração na saída de curvas, algo especialmente útil numa pista travada como Mônaco.

Talvez o maior mérito do piloto brasileiro fosse o de explorar a velocidade de forma quase perfeita. O austríaco Gerhard Berger, companheiro de Senna na McLaren por três temporadas, lembra que a telemetria apontava que o brasileiro era mais lento que o austríaco em algumas curvas, especialmente as mais rápidas. Mas quase sempre o batia em uma volta inteira. "É por isso que acho que Senna foi o maior artista de todos, pois tirava o máximo no último milésimo de segundo do lado de cá do limite, mas quase nunca passava para o outro lado.", afirma o piloto que conheceu muito o brasileiro.

Controle Total


 Desde a época do kart, Senna procurava conhecer a fundo o seu equipamento para que pudesse ter o domínio sobre a máquina. O kart, aliás, foi a sua melhor escola, segundo ele mesmo afirmava.

"Ayrton Soube mesclar como ninguém a técnica com a agressividade. Era de uma eficiência admirável. Tinha uma obsessão pela perfeição que ficava clara nas tentativas de baixar cada vez mais os tempos de volta." - Felipe Massa
Outro que concorda com Berger é o inglês John Watson. Ao ser ultrapassado por Senna durante a classificação para o GP inglês de 1985, em Brands Hatch, o piloto se espantou com a habilidade do brasileiro. "Testemunhei visível e auditivamente uma coisa que nunca tinha visto ninguém fazer um carro de corrida. Era como se ele estivesse quatro mãos e quatro pernas. Estava freando, reduzindo a marcha, virando o volante e acelerando! O carro parecia um fio de navalha entre o controle e o descontrole. Tudo isso durou apenas 2s. Depois de checar a velocidade e ter encontrado a marcha correta, o que ele tentava fazer era manter a pressão do turbo. Ele chegou ao ponto da pista onde desejava fazer a tomada da curva e o carro mergulhou com uma "arrogância" que fez meus olhos se arregalarem. Era um mestre controlando uma máquina."

Incrivel habilidade e velocidade - Onboard - Suzuka 1989

Senna sempre foi considerado um gênio na pilotagem dos motores turbo, se tornando, inclusive, o último campeão da chamada "Era Turbo", em 1988. E o motivo de seu sucesso era um mistério para ele mesmo. "Realmente nunca consegui saber o que faço diferente. Apenas procuro manter o motor sempre em um regime de rotações com a melhor performance. O importante é estar ultra-sensivel às reações do carro, é adquirir a capacidade de sentir o bólido antes de algo acontecer. Esse é o grande segredo desta era de motores turbo: antecipar a entrada ou perda de potência. Eu fico hiperligado nisso o tempo todo, porque isso pode ganhar ou perder 1s por volta.", explicou o piloto em um depoimento em 1985.

Velocidade

Ayrton andava sempre em rotação máxima, mesmo que estivesse liderando um GP com folga ou andando nas últimas posições.

Arrojo


 Senna executava todas as ultrapassagens com perfeição.

Ataque as curvas


O Piloto conseguia ser agressivo nas curvas e utilizava toda a pista. Senna atacava as zebras sem que isso influenciasse em sem tempo de volta. Limite era uma de suas palavras prediletas.

Mas e se Senna corresse hoje em dia? O curioso é que a tecnologia dos carros atuais minaria muitas das suas qualidades técnicas. 

O Brasileiro costumava manter a rotação alta dos motores ao "bombear" o acelerador constantemente enquanto fazia uma curva, o que seria ineficaz atualmente com o controle de tração. Os delicados pneus atuais também poderiam ser um problema para um piloto que gostava de atacar na parte inicial da corrida, como era o caso do nosso tricampeão.
Mas o que tornava Ayrton Senna completo não era apenas uma técnica invejável de pilotagem, mas também uma personalidade forte que servia ao sucesso na mesma medida que lhe arrumava inimigos. Se pudesse correr de igual para igual com os pilotos da nova geração, ninguém duvida da capacidade de Senna em construir o trabalho de uma equipe em volta de si, nem da possibilidade de somar infinitas poles neste sistema de classificação. Afinal, é o formato perfeito para quem sabia, como ninguém, bailar de mãos dadas com a máquina sobre a tênue linha do limite, sem jamais ultrapassa-lo.

O estilo de Ayrton Senna era considerado preciso e arrojado, mas ele fazia tudo naturalmente. A forma como ele conduzia um carro de F1 era um verdadeiro dom artístico sobre rodas.
Três fatores que determinavam o estilo de pilotagem de Senna.


Concentração => A concentração de Ayrton Senna começava antes mesmo da largada. Ele conseguia manter durante todo o GP um alto grau de concentração, que evitava erros na pilotagem.


Confiança => Acima de qualquer situação de pista, fosse ela boa ou ruim, Senna sempre acreditava que havia um jeito de melhorar. Esta confiança lhe dava força na hora de pilotar.


Precisão => Senna era preciso a cada volta e a cada ultrapassagem. Em todas as suas atitudes que tomava nas pistas, o brasileiro sabia exatamente o que fazia.

Pole Position em Spa Francorchamps, 1991.

Perfeição


O rei das poles - melhor média de poles da história da F1, 40% de suas largadas na F1 ele saiu na pole - conseguia por meio da perfeição em uma única volta largar na frente da concorrência.

"Senna foi um piloto muito agressivo, extremamente rápido e com um talento naturam incomum. Todas essas qualidades estariam preservadas hoje, sem dúvida!" - Jacques Villeneuve.

Coragem




A falta de medo para encarar os desafios e o fato de não ficar intimidado com os rivais eram outras qualidades de Senna em seu modo de guiar um F1. 

Ayrton Senna onboard em Adelaide, Australia com o McLaren Ford de 1993.

Senna e suas pistas preferidas


Mônaco => Seis vitórias: a marca de Ayrton Senna no GP de Mônaco não foi igualada até hoje. E poderiam ter sido sete não fosse o erro de concentração que levou ao acidente de 1988.


Spa-Francorchamps => Foram cinco vitórias no traçado que "separa os homens dos meninos". Após o quinto deles, em 1991, Senna admitiu: "Spa é meu circuito favorito."


Interlagos => Os dois triunfos de Senna no Brasil se colocam entre os mais especiais da sua carreira. Em destaque o primeiro, em 1991, quando terminou a prova só com a 6a marcha.


Suzuka => A Ligação emocional do piloto brasileiro com o Japão era enorme pelo fato de ter conquistado todos os seus títulos mundiais no circuito de Suzuka.


Donington Park => O GP da Europa de 1993 é tido como a maior vitória da carreira de Senna. Mas o circuito de Donington lhe é especial por outro motivo: foi o local de seu primeiro teste com um F1.

Neste 1º de Maio de 2011, completa-se 17 anos da partida de Ayrton Senna da Silva. O Blog Paddock Info trouxe para vocês um pouco do estilo de pilotagem desta lenda brasileira que permanece até hoje, como o maior ícone do esporte nacional.
Que a Lenda Senna permaneça sempre viva assim motivando sempre futuros pilotos brasileiros tanto em categorias turismo quanto monopostos.

Tributo à Ayrton Senna

Texto extraído da Revista Racing
nº 169 - Ano 10
por Luis Fernando Ramos
fotos www.google.com.br/images


Um comentário:

Dennys Andrade disse...

Sem comentarios, nao tenho palavras para deficir o que estou sentindo neste momento apos ler este post.
Simplesmente um exemplo de vida, de homem, de piloto...

Em 1994 tinha eu 12 anos, nao entendia nada de F1, mas simplesmente nao perdia um domingo de corrida.

Apos 1 de maio de 1994 pra mim a F1 foi a mesma.