quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O Campeão do Arrojo

Gilles Villeneuve
" Acelerar Sempre, cada vez mais e mais forte. Prudência e não correr riscos é algo que não faz parte da minha profissão ". Gilles Villeneuve

Joseph Gilles Henri Villeneuve

Quem procurar seu nome nas estatísticas da F1 verá que ele venceu apenas 6 GP's e nunca foi campeão mundial. Mesmo assim, e passados 28 anos de sua morte, o canadense Gilles Villeneuve continua sendo um dos maiores ídolos da história da F1. Pode parecer uma tremenda incoerência para aqueles que levam em conta apenas os números. Mas quem o viu pilotando, ao vivo ou pela televisão, tem motivos mais do que suficientes para lembrar com saudade daquele capacete vermelho e azul marinho a bordo de uma Ferrari.

O que fez Villeneuve para encantar tanta gente durante os cinco anos em que ele disputou a F1? Sua técnica era quase nenhuma: consistia simplesmente em acelerar, fosse qual fosse a circunstância. A Coragem e o talento natural, em compensação, eram enormes. O importante era acelerar. "Acelerar sempre, cada vez mais e mais forte. Prudência e não correr riscos é algo que não faz parte da minha profissão", explicava, sempre que alguém lhe perguntava sobre seu estilo de guiar. Entre um segundo lugar garantido e tentar o impossível para vencer, Villeneuve escolhia a segunda hipótese. Daí a enorme quantidade de acidentes espetaculares e motores estourados que Villeneuve colecionou ao longo de seus cinco anos de F1, entre 1977 e 1982.

Gilles e seu clássico arrojo.

Daí, também sua enorme popularidade: seu arrojo e coragem também proporcionaram lances dignos de um gênio. Quem não se lembra do duelo feroz que Villeneuve  travou com René Arnoux pelo 2o lugar no GP da França de 1979, em Dijon? Durante as ultimas três voltas, os dois andaram lado a lado, tocaram rodas e levantavam nuvens de fumaça branca nas disputas de freada. Villeneuve ganhou o duelo, apenas 0s3 à frente de Arnoux. E a sensacional ultrapassagem na curva Saint Devote, sobre o mesmo Arnoux, no GP de Mônaco do ano seguinte? Ou sua última vitória, no GP da Espanha de 1981, resistindo ao assédio de Jacques Laffite, John Watson, Carlos Reutemann e Elio de Angelis nas últimas voltas?

Batalha Épica - Gilles vs. Arnoux - França 1979

Façanha em Mônaco contra o mesmo rival - René Arnoux

Início Curioso
Como Villeneuve chegou à F1 é algo extremamente curioso. Até estrear pela McLaren no GP da Inglaterra em 1977 (único GP que ele não disputou com uma Ferrari), Villeneuve só havia ocorrido uma vez na Europa - no ano anterior, ele disputou uma prova do Europeu de F2 em Pau, na França, onde seu carro quebrou. Era um completo desconhecido quando surgiu em Silverstone ao volante do terceiro McLaren, que levava o número 40. 

Gilles na McLaren Ford nº 40 - Estréia inusitada na F1

Naquele mesmo ano de 1977, o então campeão mundial James Hunt foi convidado para disputar uma prova de Fórmula Atlantic no Canadá - era exatamente o campeonato que Villeneuve continuava disputando, depois de ser campeão vencendo 9 das 10 provas de 1976. Hunt ficou tão impressionado com a condução de Villeneuve que comentou com o então dono da McLaren, Teddy Meyer. Este convidou Villeneuve para correr na Inglaterra, e o canadense não desperdiçou a chance: classificou-se em 9º no grid, andou um bom tempo em 7º e só terminou em 11º porque o motor superaqueceu. Mesmo assim, foi uma surpresa quando, algumas corridas depois, Villeneuve surgia na Ferrari substituindo Niki Lauda.

Villeneuve era um piloto muito especial. Morou durante anos num motor-home, junto com a mulher Johanne e os filhos Jacques e Melanie. Seu estilo bravíssimo e a fidelidade à Ferrari (assinava seus contratos quase sem ler, atitude que certamente fez com que ele deixasse de ganhar alguns milhares de dólares a mais por ano) eram tudo o que a torcida italiana mais apreciava. E havia o caráter, amplamente elogiado por Enzo Ferrari em seu livro "Piloti, che gente...". Jody Scheckter, companheiro de Villeneuve na Ferrari, liderava o campeonato em 1979 e tinha chances de ser campeão no GP da Itália. Na semana anterior à corrida, Enzo Ferrari chamou Scheckter e Villeneuve para uma conversa: "Este título é do Jody. Você ainda tem uma carreira longa pela frente e, a partir do ano que vem, vamos trabalhar para você ser campeão". O que hoje pareceria absurdo aconteceu: Villeneuve concordou e, na corrida, não incomodou Scheckter, que acabou mesmo conquistando o campeonato.

Antes de falecer,  Enzo Ferrari confidenciou que Gilles foi o seu piloto predileto.

A Familia Villeneuve: Johanne e Gilles com Melanie e Jacques.

Em 1980, os carros da Ferrari foram muito pouco competitivos e Villeneuve não teve qualquer chance de pelo menos vencer um GP. A temporada seguinte foi dispendida no desenvolvimento do motor Ferrari turbo, mas ainda teve um saldo positivo com as vitórias de Gilles em Mônaco e na Espanha. E em 1982... A Ferrari tinha o melhor carro e Villeneuve, tudo para ser campeão. Mas a história terminou de maneira trágica.

No GP de San Marino, Villeneuve liderava, com Didier Pironi (que entrara na Ferrari no lugar de Scheckter em 1981) em segundo. Do box, veio uma placa para ambos manterem suas posições, mas Pironi não a respeitou e venceu a corrida na última volta. Irritadíssimo com a traição do companheiro, Villeneuve cortou relações com o francês e, apesar de Enzo Ferrari ter ficado publicamente ao lado do canadense, o mesmo começou a conversar com a Williams para a temporada seguinte.

Ímola 1982 - A Traição

Ímola 1982 - A Decepção de Gilles no pódio.

8 de maio de 1982, último treino para definir o grid de largada para o GP da Bélgica, em Zolder. Faltando oito minutos para o final, Gilles tem um tempo fracionalmente mais lento que o de Pironi e coloca seu último jogo de pneus. Vai tentar uma "volta voadora" para melhorar sua posição no grid (estava na quinta fila) e, de quebra, largar à frente do companheiro - um passo importantíssimo na guerra interna da equipe. Dá a primeira volta aquecendo os pneus e, na segunda, acelera forte. Na metade da volta, Gilles vê a sua frente o March-Judd de Jochen Mass, que vinha lentamente. Villeneuve tenta passar Mass pela direita, mas as rodas dos dois carros se tocam e a Ferrari levanta voô. Segue-se uma uma impressionante sucessão de capotagens, durante as quais Villeneuve é atirado para o outro lado da pista, ainda atado ao banco. É levado para o hospital de Louvain, na Bélgica, mas a coluna cervical está partida em três pedaços e há sérias lesões na cabeça. Villeneuve chega ao hospital clinicamente morto. Horas depois, seu coração parou de bater.

Acidente Fatal de Gilles Villeneuve

O destino acrescentaria um epílogo à história de Gilles. Pironi passou a ser o maior favorito à conquista do título de 1982 e liderava o campeonato até Hockenheim, no GP da Alemanha. No último treino, sob chuva e já com a pole garantida, Pironi não viu o Renault de Alain Prost à frente de uma nuvem de água e levantou voô após um toque de rodas. Teve fraturas nas duas pernas e perdeu um título que parecia certo. Nunca mais disputou um GP de F1 e morreu em agosto de 1987, em uma prova de lanchas offshore. Semanas depois, a mulher de Pironi deu à luz um par de gêmeos. Seus nomes: Gilles e Didier.


Gilles Villeneuve em números

18/01/1950 - 08/05/1982
6 vitórias
2 poles
7 melhores voltas
1971/1972/1973 campeão de corridas de trenó na neve
1976 campeão de Formula Atlantic
1979 vice-campeão mundial de Fórmula 1

Texto Extraído da Revista Racing
nº 6
por Luiz Alberto Pandini 

7 comentários:

Fernando Cataldo disse...

Com certeza, uma das grandes lendas que a F1 já viu e que nunca verá alguem parecido. Não só pelas diferença nos carros, mas ninguém tão louco nascerá novamente.

Ricardo Menegueli disse...

O cara era um monstro. A audácia e espírito que faltam aos pilotos atuais, de atacar, de usar o instinto. Esse é o piloto que a Fórmula 1 precisa.

Rezo pra que alguém tão louco nasça logo e alegre nossos finais de semana.

Abraços!

Ricardo Simone disse...

Com o Gilles não tinha corrida monótona. Um dos últimos "românticos".

Piquet, com o seu humor único, falava que o capacete dele era um número menor por causa das quatidades de "barbeiragens" que ele fazia.

Na Fórmula 1 atual não haveria espaço para ele, pois arrojo por lá é proibido.

[ ]'s

Raphael Mesquita Siqueira disse...

Arrojado o De cesaris também era.

Perae, então em 79 o Villeneuve aceitou ordens de equipe ? É isso ? Enzo Ferrari vira e diz "Não encha o saco do Jody, ele é o campeão"? QUE ABSURDO ! Se fosse um Argentino não aceitaria...

NA fórmula 1 atual daria mais graça às corridas, com certeza. Provavelmente destruiria os pneus mais rápido do que o Hamilton destrói.

Tatiane Lima disse...

Adoro esses registros antigos!
Fotinhas que deixam o cara que hoje é sério com uma feição de garoto serelepe que gosta de velocidade.
Massa!
Beijo

tHIAGO pAZ disse...

GIlles, Piquet, SEnna. Se esses caras corriam só por mídia e grana na época deles eles sabiam disfarçar muito bem; Hoje em dia quem disser q depois de uma semana exaustiva de trabalho , se empolga pra acordar cedo no domingo, pra sentar no poltrona e assitir f1, mesmo q não seja mentiroso eu nao tenho coragem de acreditar num candango desse. / Grande Gilles.. ]

Henrique Tegera disse...

Falo tudo Thiago, e outra eu dúvido que Senna e Gilles com toda sua gana de vitória e arrojo aceitariam ordens de entregar vitórias só por puro jogo de equipe.

A F1 de seu último suspiro quando Ayrton Senna bateu fatalmente na Tamburello.