Ayrton Senna conseguiu três títulos mundiais pilotando para a McLaren e consolidou-se como um dos melhores da F1
Desafio McLaren -Primeiros testes com um carro híbrido
Juntar-se à McLaren - tendo ainda o motor Honda - era, na visão de Ayrton Senna, a melhor maneira de conseguir um carro competitivo para lutar pelo tão sonhado título mundial. Quando o brasileiro sentou-se no cockpit para os primeiros testes, em janeiro de 1988, a McLaren vinha de uma fase em que conquistara três títulos de pilotos e construtores em quatro temporadas seguidas.
O Campeonato de 1988 seria a última dos motores turbo na F1 e a discussão pelo título acabou sendo um assunto reservado a Senna e Alain Prost. Sem concorrentes à altura, eles fizeram um duelo ao longo dos 16 GPs. Prost fechou a primeira metade da temporada em vantagem: 54 pontos contra 48. Ambos tinham conseguido quatro vitórias, mas Prost deixara de pontuar em apenas um GP, enquanto Senna ficou duas corridas sem marcar pontos. Uma delas, em Mônaco, marcou uma profunda mudança na vida do brasileiro. Depois de ter quase 1 minuto de vantagem sobre Prost, o brasileiro bateu na curva que dá acesso ao túnel. Saiu do carro e foi direto para seu apartamento, a poucos metros dali. Dormiu profundamente e, desse episódio desanimador, procurou extrair forças e ensinamentos para o restante do ano.
No GP da Inglaterra, Senna conseguiu a primeira de uma série de quatro vitórias seguidas que o levaram a liderar o campeonato pela primeira vez após o GP da Bélgica. Prost venceu as duas corridas seguintes enquanto Senna, com problemas, garantiu apenas um 6º e um 4º lugares. O francês chegaria ao GP do Japão, penúltimo da temporada, com 90 pontos contra 79 do brasileiro. No entanto, o regulamento obrigava a descartar os cinco piores resultados da temporada. Sem entrar em contas detalhadas, na prática isso significava que o vencedor em Suzuka seria o campeão da temporada, mesmo que o adversário terminasse em 2º lugar.
McLaren MP4/4 Honda - O Carro do Primeiro Título Mundial
Os dois oponentes largaram na primeira fila, com Senna na pole. Acende o sinal verde e Senna sai lentamente, com o motor falhando. Senna cai para o meio do pelotão e se recupera, fazendo várias ultrapassagens e contando com alguns abandonos. Prost, por sua vez, tem problemas no câmbio e uma chuva fina começa a cair sobre a pista. Senna se aproxima e não tem dificuldades para assumir a liderança. Vence a corrida e garante o título mundial por antecipação, chorando ainda dentro do carro.
Campeão Mundial - Em 1988, Senna venceu 8 das 16 corridas e conseguiu 12 poles.
1989: Ódio mútuo - A volta dos motores aspirados previa maior equilibrio na temporada de 1989. Mas, exceto por alguns sustos e quebras, a McLaren continuou dominando. E, mais uma vez, a luta pelo título ficou entre Senna e Prost. Só que, se durante a temporada de 1988 os dois pilotos da McLaren motravam-se amistosos um com o outro, em 1989 foi diferente. Tudo porque os dois pilotos teriam um acordo de não disputar posições e nem fazer ultrapassagens antes da freada da primeira curva após a largada. No GP de San Marino, segunda corrida do campeonato, Senna ultrapassou Prost após a Tamburello - uma curva feita de pé embaixo, ou seja, sem freada. Após a corrida, Prost, furioso, evocou o acordo e acusou Senna de tê-lo rompido. Ron Dennis interveio na discussão e os dois pilotos chegaram a se acertar, mas o incidente fez eclodir uma disputa interna que transformou a convivência pacífica em rancorosa amizade. O ambiente na McLaren tornou-se inacreditavelmente tenso. No meio do ano, Prost anunciou sua ida para a Ferrari a partir de 1990.
Senna e Prost dividiram a McLaren em duas temporadas, em 1988 e 1989.
Mais uma vez, o sistema de descartes de pontos (entre 1984 e 1990, eram considerados os 11 melhores resultados entre os 16 GPs disputados) permitiria a Senna chegar ao GP do Japão em condições de disputar o título. Prost tinha 83 pontos, contra 60 de Senna. Para isso, ele precisaria vencer as duas corridas finais.
Prost correu em Suzuka decidido a encerrar a disputa ali mesmo, a qualquer custo. Por várias vezes, alegava, havia tirado o pé e deixado Senna passar, a fim de evitar acidentes. Preveniu a todos que desta vez seria diferente. Senna fez a pole, mas foi surpreendido pela melhor largada de Prost, que tomou a ponta. O francês chegou a abrir mais de 6s e Senna não dava mostras de ter reservas para ultrapassa-lo. Ficou atrás de Prost a corrida toda. A seis voltas do final, tentou ultrapassá-lo na freada da chicane. Senna retardou a freada o máximo possível para forçar a passagem por dentro. Prost, impassível, contornou sua trajetória normal e os dois carros se engancharam, ficando parados no meio da chicane. Senna conseguiu voltar à pista. Trocou o bico do carro que estava avariado e depois ultrapassou o líder Alessando Nannini (Benetton) rumo à vitória. Venceu, mas não levou: os comissários esportivos anunciaram sua desclassificação por ter cortado a chicane. Com isso, o título iria automaticamente para Alain Prost.
Senna reagiu acusando a FIA e seu presidente, Jean-Marie Balestre, notório amigo de Prost, de manipularem o resultado do campeonato. A FIA revidou multando Senna e nada foi alterado mesmo com as apelações ao tribunal esportivo feitas pela McLaren contra a desclassificação.
Suzuka 1989 - Acidente polêmico e vitória cassada. Triste fim de parceria
1990: A Vingança - As acusações de Senna à FIA lhe custaram caro. Além da multa, a entidade obrigou-o a se retratar, sob pena de não permitir sua participação no Mundial de 1990. Senna se recusava a fazê-lo. O impasse durou até fevereiro, quando Senna se retratou. Para a FIA, foi enviada uma carta em francês, na qual ele se desculpava perante a entidade.
Senna e Prost chegariam a Suzuka em situação inversa à do ano anterior: desta vez, era Prost quem estava atrás. Como em 1989, ambos dividiram a primeira fila, com Senna na pole-position.
Prost largou melhor que Senna e entrou na primeira curva liderando. Nesse instante, recebeu a batida de Senna por trás. Os dois carros foram para fora da pista e os dois pilotos voltaram caminhando para os boxes, um perto do outro, sem se falarem. O bicampeonato era de Senna.
Em 1990 e no mesmo palco, Senna esperou 365 dias pela sua vingança e ela veio com o bicampeonato.
1991: O Tricampeonato - Antes do começo da temporada, apostava-se em uma nova batalha entre Senna e Prost. Mas a Ferrari entrou em espiral descendente que só seria revertida a partir de 1996, quando Michael Schumacher chegou à equipe. Isso, porém, só ficaria claro depois do GP do Brasil, em Interlagos, segunda prova do ano. Senna finalmente realizava o sonho de vencer o GP de seu país, mas para isso teve de conduzir seu McLaren com o câmbio travado em 6a marcha nas voltas finais da prova em Interlagos.
Senna chegou ao Japão com seis vitórias na temporada e 80 pontos marcados, enquanto Nigel Mansell era quem mais se aproximava, com cinco GPs ganhos e 66 pontos. Mas a disputa pelo título acabou na 10a volta do GP do Japão, quando Mansell saiu da pista. No fim da corrida, Senna, já tricampeão, liderava mas cedeu a vitória a seu companheiro Gerhard Berger.
Senna em momento único, comemorando sua vitória no GP da Bélgica em 1991.
Março de 1991, Ayrton Senna finalmente venceu pela primeira vez o GP do Brasil.
"Foi minha melhor temporada" disse Senna. Em 1991, foram 6 vitórias e 7 poles.
1992/1993: O Fim de uma Era - Se no começo de 1991 os Williams ainda estavam em fase de acertos e enfrentavam problemas de resistência, em 1992 eles já estavam no ponto para serem considerados imbatíveis. E a McLaren começava a dar sinais de cansaço. A Williams-Renault, antes mesmo de começar a temporada, já era considerada favorita.
Durante todo o ano de 1992, não houve qualquer dúvida de que o título iria para Mansell - e foi. Restou a Senna três vitórias no ano, sendo a de Mônaco a mais emocionante, quando impediu a ultrapassagem do concorrente inglês nas voltas finais.
Sem perspectivas de contar com um carro realmente competitivo (a McLaren passaria a usar motores Ford), Senna ameaçou não disputar a temporada seguinte. Mas duas semanas antes do inicio da temporada de 1993, Senna testou o McLaren-Ford em Silverstone e concluiu que o carro não era tão lento quanto temia. Mas não havia ilusões: a Williams seria campeã com Prost. Mesmo assim, Senna conquistou cinco vitórias, sendo três delas memoráveis. Conquistou seu segundo GP do Brasil, o sexto GP de Mônaco e, no GP da Europa, em Donington Park, fez uma inesquecível atuação no molhado.
Na Austrália, Senna venceu sua última corrida na F1. No pódio, fez questão de saudar Prost e cumprimentá-lo e os dois rivais deram declarações amistosas. Uma Era havia chegado ao fim.
Mônaco 1992, belíssima vitória segurando o "Leão" e sua máquina de "outro planeta".
A Bordo do McLaren MP4/7B, Senna comemorou a vitória no GP da Hungria.
Interlagos 1993 - Segunda vitória em Interlagos e prêmio recebido de seu ídolo Fangio.
Em Donington Park, 1993 - A Maior Lição dada por um piloto de F1 em todos os tempos.
A McLaren MP4/8 Ford de 1993 - O carro da última vitória.
Pódio do GP da Austrália em 1993 - Ninguém imaginava que ali terminava uma Era de Ouro da F1.
Os Resultados de Senna entre 1988 e 1993
Os Resultados de Senna entre 1988 e 1993
1988 - McLaren MP4/4 Honda - 1º Lugar (113 pontos) - melhor resultado: 8 vitórias ( GPs San Marino, Canadá, EUA, Inglaterra, Alemanha, Hungria, Bélgica e Japão)
1989 - McLaren MP4/5 Honda - 2º Lugar (60 pontos) - melhor resultado: 6 vitórias ( GPs San Marino, Mônaco, México, Alemanha, Bélgica e Espanha)
1990 - McLaren MP4/5B Honda - 1º Lugar (78 pontos) - melhor resultado: 6 vitórias ( GPs EUA, Mônaco, Canadá, Alemanha, Bélgica e Itália)
1991 - McLaren MP4/6 Honda - 1º Lugar (96 pontos) - melhor resultado: 6 vitórias ( GPs EUA, Brasil, San Marino, Mônaco, Hungria e Bélgica)
1992 - McLaren MP4/7A / MP4/7B Honda - 4º Lugar (50 pontos) - melhor resultado: 3 vitórias ( GPs Mônaco, Hungria e Itália)
1993 - McLaren MP4/8 Ford - 2º Lugar (73 pontos) - melhor resultado: 5 vitórias ( GPs Brasil, Mônaco, Europa, Japão e Austrália)
Alguns vídeos
Créditos
Revista Racing - http://racing.terra.com.br/
Texto de Luiz Alberto Pandini
Fotos - www.google.com.br/images
Texto retirado da revista nº 143, ano 8.
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