sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Ronnie Peterson - O Acrobata

Fazendo curvas de lado e manobras espetaculares, o sueco Ronnie Peterson conquistou todos os torcedores da Fórmula 1 dos anos 70, mesmo sem ter sido campeão

Na opinião de vários fanáticos mais velhos, ele continua sendo o melhor e mais impressionante piloto de todos os tempos. A pilotagem arrojada e agressiva do sueco Ronnie Peterson ainda deixa saudades em quem acompanhou a Fórmula 1 dos anos 70. Sempre com o pé no fundo do acelerador e frequentemente atravessando seu carro nas curvas, Peterson foi o piloto-show da F1 enquanto correu. Não por acaso, os fãs mais alucinados são capazes de se envolver em horas de discussão comparando Peterson com Gilles Villeneuve. Raramente se chega a algum consenso sobre quem foi melhor ou mais espetacular.


Ronnie Peterson, sueco, foi vice campeão mundial duas vezes.

Na primeira vez que veio ao Brasil, no final de 1971, Peterson já arrebatou uma legião de fãs. Naquele ano, ele havia conquistado o título europeu de F2 e o vice-campeonato de F1, atrás apenas de Jackie Stewart, e disputaria um torneio internacional de F2 que teria a participação de várias feras da F1 - incluindo Emerson Fittipaldi. Peterson já era uma das atrações e provocou várias surpresas. Primeiro, pelo próprio visual: flácido, com tendência à obesidade e com as mãos finas como as de uma senhora bem tratada. Na época, ainda não existiam pilotos com preparo físico digno de um Arnold Schwarzenegger: a preparação física recebia uma atenção bem menor que hoje. Só que Peterson nem ligava para isso e era um preguiçoso assumido: "Se posso fazer algo sentado, por que vou fazer em pé? Se posso fazer deitado, por que vou ficar sentado?".


  Ronnie não era de distribuir risadas mas dentro das pistas, mostrava das suas...

A outra surpresa veio na pista. No primeiro treino para essa corrida, o sueco esquentou o motor, percorreu o traçado em ritmo de estudo e, já no fechamento dessa primeira passagem (lembre-se que ele nunca havia andado em Interlagos), passou pela cronometragem já em ritmo de classificação - e, para delírio do público, o March amarelo fez as curvas 1 e 2 com o pé quase embaixo. Ao chegar na curva do sol, deu uma atravessada digna de um piloto de rali - controlada, como todas as outras, com extrema habilidade. Uma aliviada no acelerador, um contra-esterço e... pé no fundo. Foi o suficiente para a torcida passar a esperar um duelo fantástico entre Emerson e Peterson. Na corrida, o duelo realmente aconteceu - e acabou com Peterson abandonando a prova com seu carro quebrado e voltando aos boxes a pé, sob aplausos do público que lotava Interlagos. Daí em diante, a grande expectativa dos GPs do Brasil passou a ser o duelo entre o comedido Emerson e o arrojado Peterson. Não raro, via-se alguém torcendo para os pilotos brasileiros, mas admirando e até esperando sinceramente uma vitória de Peterson.


Peterson e Emerson foram bons amigos

Peterson era considerado mascarado por muitas pessoas. Tinha amizade com vários pilotos (uma das mais sólidas era com Emerson, nota-se pela foto acima), mas estava sempre calado e era raro vê-lo sorrindo. Quem o conheceu, entretanto, garante que o sueco era apenas tímido e introvertido. Não era raro sair para jantar com Emerson ou com François Cévert, outro grande amigo dos tempos de F3. Tinha tão pouca noção do quanto valia como piloto que, certa vez, apareceu na March (onde defendia as equipes de F1 e F2, em 1971 e 1972) com um enorme bordado de um novo patrocinador no macacão. O tal patrocínio vinha de uma empresa que havia lhe presenteado com um (um!) cortador de grama.
Tamanha simplicidade pode ser explicada pelas origens de Peterson. Filho de um padeiro em Örebro, Peterson começou a correr aos 15 anos, com um kart construído pelo próprio pai. A pilotagem ousada tem outra explicação: na adolescência, Peterson adorava ir com sua bicicleta até um terreno perto de sua casa, onde passava horas, brincando de motocross: "Uma vez, caí de frente e fiquei só com o guidão na mão".
Depois do kart, nada mais natural que a ascensão de categorias. Foi campeão sueco de F3 em 1969 e no ano seguinte já estava na F1, onde estreou em Mônaco com um March - terminou em 7º lugar. Em 1971, Peterson foi vice-campeão mundial sem ter vencido nenhuma corrida. 


  Em 1971, veio o primeiro vice campeonato a bordo de um March 

Só em 1973, já na Lotus, é que o sueco conseguiu suas primeiras vitórias. Corria ao lado de seu amigo Emerson Fittipaldi - uma amizade que continuou inabalada mesmo com as intrigas de Colin Chapman, que pretendia "baixar a bola" de Emerson favorecendo Ronnie, para não lhe pagar um salário maior. Em 1974, Peterson ganhou mais três corridas, mas o bom relacionamento com a Lotus não durou muito mais. Na temporada seguinte, os velhos Lotus 72 já eram carros pouco competitivos, numa situação agravada pelo corte de patrocínio imposto pelos cigarros John Player Special. No começo de 1975, Peterson começou a negociar com a Shadow (experimentou o banco nos boxes de Interlagos, na frente de todo mundo), mas a Lotus tinha contrato a favor e impediu a mudança. Só restou a Peterson continuar com Chapman, num ano péssimo para a Lotus.
Para a temporada de 1976, a Lotus construiu um novo carro, que desagradou a Peterson desde os primeiros testes. O sueco ainda disputou o GP do Brasil pela Lotus, mas na corrida seguinte já estava ao volante de um March - com o qual venceu pela terceira vez o GP de Monza, consagrando-se como um dos maiores vencedores naquela pista. No ano seguinte, Peterson pilotaria o Tyrrell de seis rodas, que havia vencido um GP e prometia bons desempenhos. Não foi o que aconteceu: o carro perdeu desempenho e o estilo de Peterson mostrou-se inadequado para a concepção do carro. "Só lamento que o Peterson tenha pilotado para a gente num ano tão ruim", diria Ken Tyrrell anos mais tarde.


  Ronnie Peterson e a Lotus 72


Depailler sendo seguido por Ronnie - o Tyrrell de 1977 foi um pesadelo para seu arrojo.

Três temporadas seguintes com resultados magros foram suficientes para Peterson ser considerado um piloto acabado. Virtualmente sem carro para 1978, ele precisou de um patrocínio de cerca de US$ 500 mil (uma quantia assombrosa para a F1 da época) para voltar à Lotus. Precisou também aceitar uma imposição de Chapman: nunca prejudicar o primeiro piloto da equipe, Mario Andretti. Venceu dois GPs, mas quando Andretti estava á frente só lhe restava escoltar o ritmo do norte-americano - muitas vezes diminuindo seu próprio ritmo.
Insatisfeito com a situação e se sentindo humilhado pela equipe, Peterson iniciou conversações com a McLaren para a temporada de 1979. Chegou a Monza, onde seria disputado o GP da Itália, ainda em condições matemáticas de ser campeão, mas sem a menor esperança de ter alguma ajuda da equipe para isso. A prova aconteceu no dia da própria corrida: depois de um acidente no warm-up, onde destruiu seu Lotus 79, Chapman obrigou Peterson a largar com o modelo 78, do ano anterior. A intenção de Chapman, além de preservar o 79 pronto para Andretti em caso de alguma eventualidade, era diminuir as chances de Peterson entregando-lhe um carro mais antigo.
A preparação apressada do Lotus 78 teve sua contribuição para a morte de Ronnie Peterson. Na largada, o diretor de prova, Gianni Restelli, errou totalmente ao acender a luz verde antes que os últimos carros parassem no grid - na época, ainda não havia o procedimento de só autorizar a partida depois que um comissário atravessasse a pista com uma bandeira verde. O resultado disso foi uma largada confusa, já que os carros do fundo do grid arrancaram em velocidade, enquanto os pilotos das primeiras filas não tinham sequer engatado a primeira marcha. Um bolo de carros chegou emparelhado a um ponto aonde a reta dos boxes afunilava de 40 para 12 metros de largura, e aí começou a tragédia.



 GP da Itália 1978 - Largada caótica e a batida do carro de Peterson...


...tentativa dos bombeiros de apagar o incêndio nos carros


...incêndio apagado, os destroços do carro de Ronnie Peterson...


...o piloto é socorrido com vida porém com fraturas multiplas em suas pernas...



...no dia seguinte, por causa de uma embolia causada pelo acidente, Ronnie Peterson falece aos 34 anos de idade.


Na época acusou-se Riccardo Patrese de ter forçado a ultrapassagem sobre James Hunt, que foi jogado para cima de Peterson. Este bateu no guard-rail esquerdo, atravessou a pista e bateu no outro lado, voltando para o asfalto já com o carro em chamas. Na confusão, o italiano Vittorio Brambilla foi atingido na cabeça por um pneu de outro carro, sem maiores consequências. O socorro foi rápido e Peterson nem se queimou muito. O problema eram as fraturas múltiplas nas pernas: levado para um hospital de Milão, ele teve o pé esquerdo amputado e os médicos tentavam evitar a amputação da perna direita. No dia seguinte, Ronnie Peterson morreu devido a uma embolia (entrada de gordura no sangue). Culpa de vários fatores, mas um depoimento de Hunt mostrou um dado revelador: "Antes de bater, percebi que Peterson estava quase parado, como se o motor tivesse falhando".
Dá para concluir que, se estivesse um pouco mais rápido, Peterson teria escapado sem nenhum dano das séries de batidas.


Bengt Ronald Peterson em números

  • Campeão Sueco de Kart ( 1963 e 1966 )
  • Campeão Sueco de F3 ( 1969 )
  • Campeão Europeu de F2 ( 1971 )
  • 123 GPs Disputados
  • 10 Vitórias
  • 14 Poles
  • 9 Melhores Voltas
  • Vice Campeão Mundial de F1 em 1971 e 1978 

Estátua de Ronnie Peterson em sua cidade natal - Örebro - Suécia. Para Sempre, Imortal!

Texto extraído da Revista Racing ( http://racing.terra.com.br/ )
Ano 2 - Edição 17
Por Luiz Alberto Pandini e Marcus Zamponi
Fotos créditos www.google.com.br/images
  

 



 

3 comentários:

Fernando Cataldo disse...

nao sei pq, mas ver akele carro destruido e o nome Bologna ao fundo me trouxe péssimas memórias de 1994... excelente texto, hermano! parabens!! abraços...

Bruno Braz disse...

Show Cláudio... Show.

ALBERTO disse...

Ronnie foi um grande piloto, embora nunca conseguiu um título na fórmula 1>