Lembro até hoje de acordar com o barulho da TV enquanto meu pai assistia F1. Eram outros tempos, anos 80, uma Fórmula 1 diferente onde as prioridades eram outras, as emoções eram outras mas muito mais do que tudo isso, os objetivos eram outros.
Embora muito novo, vibrava com ele a cada ultrapassagem que víamos, a cada manobra arrojada que os muito mais talentosos pilotos da época realizavam por puro amor ao esporte, afinal, arriscar a vida a 300km/h era pra poucos.
Mal sabia eu que aquelas imagens maravilhosas seriam cada vez mais raras com o passar dos anos induzidas pelas evoluções tecnológicas e também devido aos caminhos opostos que a administração da categoria e do esporte em geral resolveria seguir.
Época em que as pistas eram desenhadas com o intuito de mostrar o tamanho do desafio que era ter esta profissão tão desejada por muitos e alcançada por poucos. Pistas em que os verdadeiros pilotos eram expostos a situações onde vencia a habilidade, a coragem e a audácia de fazer algo mais arriscado que o adversário para vence-lo sempre “no braço”.
As pistas possuíam vida própria com curvas características e únicas tornando-se cartões postais de lugares onde tudo era sentido com todas as paixões possíveis por velocidade.
O respeito pelo mais experiente era grande, mas o espirito de competição era sentido pela televisão. A fraternidade entre pilotos, inclusive entre companheiros de equipe, era algo sincero: Gostava ou não gostava! Simples assim! As declarações nas entrevistas eram espontâneas e a sinceridade e o humor de quem o tivesse, eram vistos de longe assim como a acidez e mal humor, tão mais presente que hoje em dia.
Nessa época, a Fórmula 1 era um esporte de alto risco.
Hoje em dia vivemos em uma época onde 90% do que se lê, é sobre dinheiro. Antes da habilidade de cada piloto ser questionada, o pensamento de dirigentes é: “Qual a quantidade de dinheiro que esse piloto vai trazer com seus patrocinadores?”.
Equipes sendo vendidas, montadoras tomando conta de equipes que eram motivadas pelos sonhos de pessoas corajosas que enfrentaram a incerteza de ter uma equipe, sempre com o objetivo de ser, antes de qualquer consequência, vencedora.
Apesar de todas as revoltas contra essa época chata e entediante em que a F1 vive, os dirigentes das equipes não tem culpa pois de alguma forma eles precisam arrecadar verba para manter-se na F1, afinal os tempos são outros e muito mais caros!
A F1 tornou-se um investimento milionário e com retorno cada vez mais incerto ao longo dos anos, além de tudo, devido ao profissionalismo e compromisso que a categoria adquiriu ao longo dos anos.
As pistas são feitas visando o espetáculo e o dinheiro investido através da exposição de marcas que patrocinam a muito cara brincadeira. As curvas, as emoções e a competitividade são secundárias. O que não falta para esse assunto é exemplo.
Eu confesso que nunca senti tamanha decepção ao término de uma corrida como no ultimo GP de Abu Dhabi. Este que infelizmente mostra perfeitamente o rumo em que a categoria esta seguindo. Como diria meu admirado jornalista Flávio Gomes, “As curvas são um lixo, mas o hotel muda de cor! – Grande bosta!!!”.
Os pilotos tornaram-se marionetes de suas equipes tanto dentro como fora das pistas.
Dentro, basta seguir a estratégia pilotando cada vez mais rápido para que os milésimos de segundos calculados pelo computador da equipe transformem-se em vantagem durante a parada no box. Essa mesma parada que por muitos anos, mal era utilizada pelos pilotos dos “anos dourados” da F1.
Fora, declarações prontas e automatizadas dão a impressão de que todos os pilotos usam palavras diferentes mas que falam a mesma coisa sempre com muito cuidado para não abalar o bom relacionamento com a equipe ou com possíveis companheiros do futuro.
Hoje em dia, a Fórmula 1 transformou-se em um negócio de alto risco.
Eu sinto saudades dos tempos em que acordava de manhã para assistir corridas de verdade ao lado do meu pai e via homens apaixonados por simples velocidade e competição deixando de lado todo o resto do mundo que os cercava pois afinal, nada era mais importante do que vencer.
Tive um período de abstinência do mundo da velocidade devido a morte do meu maior ídolo no esporte e quando voltei a acompanhar, já era um mundo totalmente diferente. Confesso que demorei um pouco para descobrir qual era o motivo que fazia esse esporte ainda encher os meus olhos com lagrimas de emoção depois de tantos anos. Finalmente percebi que não era a categoria e suas mudanças gritantes que me deixavam maravilhado como aqueles homens dos anos 80 e sim a pura velocidade.
E vocês, qual Fórmula 1 preferem?
A Ferrari de 2008 ou…
… a Ferrari de 1987?
O volante da Ferrari de 2009 ou…
… o volante da Ferrari de 1990?
Muita coisa mudou!
7 comentários:
a tecnologia na F1 só serviu para aumentar a segurança dos pilotos de resto só estragou, hj a competição nao se resumi mais a talento, coragem e equipe.
Agora piloto paga para trabalhar e uma corrida se vence... nos boxes!!!
shame on you! que pena!
ainda bem que nosso maior piloto não está aqui pra ver isso!
Tive a mesma sensação que você, Fernando, quando comecei a assistir a última etapa desta temporada. Assim que olhei para TV, não vi disputa e sim um espetáculo de luzes, pensei: "Onde foi parar a Fórmula-1?"
Ótimo post. É para refletir.
Olha hermano.. infelizmente concordo com tudo que você disse, tanto que me divirto mais revendo as corridas dos anos 80 e começo dos anos 90 do que as atuais. Infelizmente, tudo o que acontece é culpa da evolução da especie. Não é só no automobilismo, é em tudo na vida. Quanto mais os computadores evoluem, mais superficial fica a habilidade humana. Antigamente, não existiam ou não era de uso público celulares, computadores de alto desempenho e outras coisas mais. Hoje, tudo gira em torno dessas coisas. Antigamente, crianças brincavam nas ruas, jogavam bola, pulavam amarelinha e brincavam de esconde-esconde, hj a meninada só vive nos computadores. Tudo mudou, a F1 é apenas mais uma "vítima" desta revolução. O Futebol mudou, O automobilismo mudou, tudo mudou. Max Mosley até tentou fazer o tempo voltar, mas, isso é impossível. Hoje a F1 é o reflexo mundial. Muita Tecnologia e pouco humano.
Passei pela mesma coisa que você. Depois da morte de um ídolo, deixei de acompanhar o esporte com frequência. Era criança, e aquilo me afetou bastante, pois a única razão de acompanhar a F1 era de ver as vitórias e a pilotagem linda daquele herói. Depois disso perdeu a graça. Mas continuei gostando de corridas, fosse nas brincadeiras ou nos jogos de video-game.
As coisas mudaram, e muito. A F1 hoje é um esporte de alta tecnlogia, que há muitos anos vem se modificando, perdendo suas raízes... mas como disse o camarada aí de cima, tudo está mudando. E a culpa não é da tecnlogia, nem da evolução eletrônica. A culpa é nossa. Ficamos mal-acostumados com a velocidade das informações, com as facilidades fornecidas, com o conforto. E não era pra ficar? Era sim. O problema é que não sabemos mais viver sem isso. A mesma velocidade de informação que ajuda a nossa raça a evoluir muito mais rápido do que 20 anos atrás, é a mesma que nos engole, que suga nosso tempo sem que percebamos o quão valioso ele é. Passamos tanto tempo conectados ao mundo virtual, seja no trabalho ou não, q quando acordamos, vemos que já se passaram meses, e não ligamos para aquele amigo nosso q foi morar longe, preferimos deixar um recado no orkut ou mandar e-mail. Que não conversamos mais com nossos pais em uma mesa, para tomar café, sem que o celular toque por algum motivo do trabalho ou qualquer outro.
E as coisas vão daí para pior, sempre. Pois a nossa geração não impõe mais limites aos filhos, deixando-os interagirem virtualmente 90% do seu tempo, e esquecendo de coisas tão simples e melhores que o mundo lá fora nos prepara.
Enquanto estava assistindo ao GP de Abu Dhabi, me perguntava se estavam transmitindo uma movinentação de carros ou uma movimentação financeira. Terminada a corrida, veio a certeza: era a segunda opção.
O espetáculo da Fórmula 1 hoje não é mais o espetáculo da coragem e do gênio humanos, mas sim o desfile do capital. Acredito que os cartolas do esporte, ao verem seus lucros ameaçados pela morte de Senna, decidiram que abolir o risco (e tudo o que faz do automobilismo algo fascinante) era a melgor forma de preservar os ganhos.
E aí está. O problema da ultrapassagem não está resolvido porque ninguém quer que o seja: os pit stops que entretenham a massa de telespesctadores. Os números da cronometragem que nos distraiam. E que se corra em meio a construções faraônicas por arremedos de pistas. EEnquanto houver dinheiro, ninguém reclamará.
A tecnologia vai sempre estar na F1, isto é fato.
Visto que é um grande laboratório das grandes montadoras para testes de vários dispositívos, que hoje agregam os automóveis que dirigimos hoje.
Mas, tem que haver um limite, os dispositívos eletronicos e os sensores nunca pode sobrepujar a sensibilidade dos pilotos.
o piloto de F1 tem que ser o responsável pela diferença do desempenho entre os carros e as equipes.
daqui a pouco, do jeito que as coisas andam, não vamos ter mais pilotos, e sim um robô no cokpit, interpretando e ajustando o monoposto, de acordo com que a telemetria dos box indica.
triste fim da F1.....
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